Newsletter 029 (PT)
Destaques sobre política, sociedade, economia e cenário internacional da República Popular da China.
Neste ano, startups chinesas levantaram pela primeira vez mais investimentos do que aquelas no Vale do Silício, nos Estados Unidos. A tendência, porém, já dá sinais de desaceleração. Crescentes regulações e o menor ritmo de crescimento da economia da China desagradam os investidores e afetam negativamente novas apostas em jovens empresas no país. O desempenho ruim de alguns unicórnios chineses (startups avaliadas em mais de 1 bilhão de dólares americanos) no mercado financeiro internacional e mudanças nos padrões do público dentro e fora da China também abalam o otimismo em torno deste mercado.
O colapso do experimentalismo chinês, ou o fim das políticas de inovação locais, são uma preocupação real. A pesquisadora Jessica Teets aponta como desde o início do governo Xi Jinping, reduziram-se os incentivos para as províncias chinesas produzirem programas pilotos inovadores, devido à recentralização do poder. Ao mesmo tempo, os agentes locais parecem ter perdido um pouco o ânimo em inovar. A liberdade para experimentar a nível local é apontada por diversos especialistas como uma das chaves do crescimento pós-abertura econômica.
Tal qual a Amazônia, a região de Xinjiang — também ao Noroeste do país — é rica em recursos naturais e tem pouca presença estatal. É também uma região-chave nas relações com a Ásia Central. Ou seja, as dificuldades são históricas e as questões atuais exacerbam o problema do governo da China em ter acesso à riqueza de recursos minerais da região e escoar a produção para o resto do continente.
Com a reaproximação dos EUA e da China nos anos 70, um grupo de 52 chineses (dos quais apenas 6 eram mulheres) foram estudar nos Estados Unidos e se tornaram figuras importantes no desenvolvimento tecnológico chinês. O texto de Zheping Huang apresenta como três cientistas, perseguidos durante a Revolução Cultural, aproveitaram muito bem a sua estadia e voltaram para mudar a cara da tecnologia na China.
Em resposta a um artigo do The New York Times que alega que o fracasso econômico brasileiro é um prenúncio do possível fim da ascensão mundial da China, um pesquisador publicou no Global Times um texto em que defende que o caso do Brasil não é aplicável ao Império do Meio. Como parte de seu argumento, Ding Gang declarou que os brasileiros não são tão aplicados e trabalhadores quanto os chineses e que, portanto, a cultura brasileira não é compatível com atividades industriais sofisticadas. A asserção, porém, não foi bem recebida e, em resposta, o Embaixador do Brasil na China publicou também no Global Times uma peça em que diz que há muitos caminhos diferentes rumo ao desenvolvimento, acusando Ding de generalizações inócuas e conclusões precipitadas em suas considerações sobre o caso brasileiro. “O Brasil não é um modelo de desenvolvimento para a China, mas a China também não o é para o Brasil”, completa.
As Nações Unidas solicitaram ao governo chinês acesso aos “campos de reeducação” na província de Xinjiang. Na última quarta-feira, Michelle Bachelet, alta comissária da organização, declarou querer verificar denúncias contidas em relatórios preocupantes que a ONU recebeu sobre estes locais, onde mais de um milhão de muçulmanos da etnia uigur estariam detidos. De acordo com Pequim, os campos são centros voluntários de treinamento vocacional que combatem tendências extremistas na região. Pessoas que já passaram por eles, porém, alegam que foram torturadas e forçadas a aprender a propaganda oficial do Partido Comunista Chinês nas instalações.
A Diretora Financeira da Huawei, maior empresa de telecomunicações da China, foi detida no Canadá a pedido da polícia estadunidense sob alegação de participação em transações que infringem sanções de Washington contra o Irã. Meng Wanzhou, que também é filha do fundador e presidente da Huawei, deve ser extraditada aos Estados Unidos em breve e, caso condenada, pode enfrentar até 30 anos na prisão. A notícia, como esperado, não foi bem recebida por Pequim. Em comunicado oficial, o vice-Ministro das Relações Exteriores do país declarou que o governo chinês considera a prisão da executiva “extremamente desagradável” e alertou para consequências severas aos envolvidos caso ela não seja imediatamente liberada.
O Hoover Institution fez um relatório de 200 páginas sobre a influência chinesa nos EUA (e por influência é no sentido de agentes de inteligência mesmo). Aqui você encontra os principais destaques, mas também está disponível o relatório inteiro. O Hoover é um instituto da Universidade de Stanford e fez o relatório com base em entrevistas e pesquisas com mais de 30 especialistas. Contudo, nomes importantes da área, como Susan Shirk, discordaram das conclusões consideradas exageradas e que podem exacerbar certa perseguição e retaliação a cidadãos chineses.
Muito se ouve falar sobre a expansão da influência global chinesa por meio de investimentos em setores de infraestrutura e energia, mas uma recente matéria do The Guardian escrita por Louisa Lim e Julia Bergin lança luz sobre uma área ainda pouco comentada: a mídia. De acordo com a reportagem, Pequim tem investido pesadamente tanto na contratação de repórteres estrangeiros para subsidiárias da CGTN, quanto pagando figuras nas casas dos milhões para ter peças produzidas por agências chinesas publicadas em jornais internacionais.
A estratégia teria, como um dos objetivos, fortalecer a percepção sobre a perspectiva chinesa sobre assuntos globais, bem como “contar corretamente a história de nosso país” — palavras do próprio presidente Xi. Mais uma ferramenta argumentativa para divulgar os ideais do Partido internacionalmente, você pode se aprofundar mais sobre o assunto aqui.
Já falamos aqui na newsletter sobre como o filme “Podres de Ricos” (Crazy Rich Asians) possui um elenco majoritariamente de origem étnica chinesa e foi um sucesso de bilheteria em muitos países. Ele estreou na China, porém com bem pouco impacto. A avaliação de 6,2 no Douban (rede social de avaliação de filmes, livros e séries), bem com os comentários no site, podem indicar certas dicotomias entre a diáspora e a população na China. Alguns críticos indicaram que parece ser uma questão do filme tentar ser muito ocidental e branco.
Aproveitando a deixa sobre cinema, parece ser a vez da Marvel de querer lançar seu primeiro blockbuster com um protagonista asiático: o famoso super herói Shang-Chi, que teve sua primeira aparição nos quadrinhos ainda na década de 1970. Nunca ouviu falar sobre o Mestre do Kung-Fu? O portal UOL fez uma reportagem sobre ele. Se estiver com pressa, você pode conferir o vídeo produzido pelo portal CNET sobre essa nova empreitada da Marvel.
Em épocas de discussões sobre educação sexual no Brasil, você já se perguntou como é a educação sexual na China? Ela é rara e sexo ainda é um grande tabu, conforme relata David Lee. Enquanto a “revolução sexual” acontecia nos Estados Unidos e Europa nos anos 60 e 70, a China enfrentava os resquícios do Grande Salto Adiante e a Revolução Cultural. Ano passado diversos especialistas no país indicaram que era preciso ampliar o ensino, conforme o China Daily noticiou — especialmente para evitar o perigo das crianças não saberem identificar comportamento abusivo e evitar a expansão do vírus do HIV entre jovens. O governo fez parceria com a ONU, via a UNESCO e UNFPA, para a elaboração de um guia para educadores sobre como ensinar a questão em sala de aula.
Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.
Somos Como o Ar: este é o nome do livro de fotografias publicado por Xyza Cruz Bacani — uma filipina que foi buscar melhores condições de vida em Hong Kong servindo como trabalhadora doméstica. Uma série comovente que retrata a invisibilidade, solidão e assédio que muitos migrantes vivenciam na cidade mais rica do mundo. Você pode conferir o portfólio completo da artista aqui.
Chinoiserie: o site Chinoiserie, que publica a revista Made in China, focada em direitos trabalhistas, emprego e sociedade, lançou uma edição nova focada em mídia e internet e a relação dessas questões com o futuro do trabalho no país.