Newsletter 031 (PT)

Destaques sobre política, sociedade, economia e cenário internacional da República Popular da China.

Há alguns meses, a OFO, startup chinesa pioneira no mercado de bicicletas sem doca, foi processada após acumular uma dívida de mais de 10 milhões de dólares com uma de suas fornecedoras em Xangai. Para usar, era necessário fazer um depósito. Agora, quase 12 milhões de usuários estão na fila de reembolso, totalizando um montante de quase 170 milhões de dólares que a OFO precisa devolver no curto prazo. As más notícias para a startup que até pouco tempo era símbolo da nova economia chinesa, porém, não param por aí. Dai Wei, o CEO da empresa, acaba de ser julgado inadimplente por uma corte local de Pequim e está temporariamente banido de quaisquer atividades à negócio consideradas excessivamente caras, como hospedagem em hotéis de luxo e vôos em primeira classe.

E a OFO não é a única corporação de tecnologia chinesa passando por dificuldades. Ainda em novembro, as ações da Meituan Dianping, que oferece serviços que vão, dentre outros, de entrega de comida à venda de ingressos para shows, cinemas e espetáculos, despencaram na Bolsa de Hong Kong após a empresa reportar ganhos decrescentes. Já na semana passada, a Meituan anunciou um corte de centenas de vagas de trabalho, decisão que, apesar de levantar desconfiança, classificou como uma reestruturação normal de suas operações. Ainda em dezembro, outras duas grandes empresas de software da China — Cheetah Mobiles e Kika Tech — tiverem alguns de seus aplicativos removidos da Google Store após acusações de fraude de dados e ganhos impróprios na plataforma. O cenário preocupa investidores e analistas e reforça os sinais de desaceleração do setor chinês de serviços, um dos principais pilares da economia do país.


O mercado financeiro chinês também não vai bem. 2018 foi um ano difícil para as bolsas de valores do país, e, pelo menos a princípio, não há razões para acreditar que 2019 será diferente. Contudo, alguns otimistas acreditam que durante o próximo ano o governo central deve anunciar novas medidas de estímulo econômico e comercial, que podem afetar positivamente as expectativas do mercado e restabelecer a confiança dos investidores. “Desse modo, na metade de 2019 pode haver um recomeço”, defende Duo Yuan, fundador e presidente da Blue Stone Asset Management em Pequim.


Nem todas as notícias, entretanto, são ruins. Após meses sem aprovar pedidos de licença, o governo chinês encerrou a proibição a novos jogos virtuais no país. Como resultado, as ações da Tencent dispararam na Bolsa de Valores de Hong Kong. Para os executivos da empresa, porém, o momento ainda é de muitas incertezas, já que Pequim dá sinais de que não deixará de regular intensamente este mercado.


Um novo texto que discute o desenvolvimento das fintechs na China argumenta que o Ocidente dificilmente vai conseguir chegar no mesmo nível, mas que isso não é, necessariamente, algo ruim. Existiam poucas opções para o cidadão chinês de adquirir empréstimos, fazer pagamentos, etc. Com o apoio do governo, a área se desenvolveu, mas permanece problemática do ponto de vista de acesso a dados e total dependência nos meios digitais que isso implica.

Mais um canadense foi preso na China — dessa vez foi Sarah McIver, por trabalhar ilegalmente. A diferença dos casos anteriores é que ela não foi acusada de crimes contra a segurança nacional. Portanto, o governo canadense considera separado da situação do caso Meng, a CFO da Huawei. O embaixador chinês no Canadá, Lu Shaye, escreveu para o jornal canadense The Globe and Mail, criticando a postura canadense na situação, que estaria agindo com uma “mentalidade da Guerra Fria”. Ao que tudo indica, Kovrig, o ex-diplomata ainda preso, não pode receber auxílio legal e tem sido interrogado diariamente, várias vezes ao dia.


O estaleiro de Jiangnan, em Xangai, foi inaugurado em 2008 e, uma década após sua abertura, já teve suas capacidades amplificadas em 64%, de acordo com análise de imagens de satélite processada pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington. A expansão do porto — um dos principais pontos de construção naval da China — faria parte do imenso esforço de modernização das forças armadas do país liderado por Xi Jinping, que, em abril deste ano, declarou em discurso oficial seu desejo de transformar a marinha chinesa sob o comando do Partido Comunista da China em uma força de envergadura mundial.


Na última quinta-feira, os Estados Unidos, junto a quatro de seus principais aliados, acusou a China de financiar ao longo de mais uma década as atividades de 2 hackersencarregados com o roubo de segredos comerciais e propriedade intelectual de 12 países — incluindo o Brasil. Se comprovado, o ocorrido implicaria na quebra de um acordo internacional de 2015 em que Pequim se comprometeu a não se engajar com espionagem cibernética. Em resposta, o governo chinês declarou que as alegações estadunidenses são falsas e clamou Washington a cessar seus ataques à China com base em questões de segurança digital. “Essa conduta [por parte dos Estados Unidos] é uma séria violação das normas básicas das relações internacionais e danificará seriamente as relações sino-estadunidenses”, declarou o Ministério das Relações Exteriores.


O recente anúncio sobre a retirada de tropas estadunidenses da Síria feito pelo presidente Donald Trump reacende o papel da China no processo de reconstrução do país. Considerado como um aliado leal à Damasco (juntamente com Rússia e Irã), o Império do Meio delineia pelo menos duas frentes estratégicas com a região: uma oportunidade geopolítica no Oriente Médio com acesso a portos que fortaleceriam o corredor China-Ásia Central-Ásia Ocidental da Belt and Road Initiative; e investimentos pesados na indústria e infraestrutura do país —  segundo o The Diplomat, Pequim já anunciou o interesse de investir 2 bilhões de dólares no setor industrial sírio.

Já se perguntou como é comemorado o Natal na China? Um bom resumo das tradições nesta época do ano, em um país que adora luzinhas natalinas e decoração, mas onde apenas 5% da população se considera cristã.


O ano de 2018 marcou diversas celebrações e reflexões sobre a abertura econômica do país, que iniciou em 1978. Nos últimos 40 anos, muita coisa mudou para quem vive na China. O SCMP preparou um infográfico que mergulha nas questões do dia a dia: como famílias pobres tornaram-se de classe média viram suas vidas serem impactadas de maneira prática.


O crescente sucesso do grupo de Facebook Subtle Asian Traits que trata, basicamente, da diáspora asiática (sobretudo chinesa, coreana e vietnamita) em países ocidentais, ganhou espaço no The New York Times recentemente. A reportagem entrevista os co-fundadores do grupo que já possui mais de um milhão de membros — um dos maiores da rede social. Vale a pena conferir. O Gold Thread, por outro lado, lançou um artigo crítico sobre o grupo ao discutir que, se é verdade que o humor pode ser um mecanismo viável para discutir identidades e inclusão de grupos socialmente marginalizados, por outro não é suficiente (e pode ser, inclusive, mais uma ferramenta de opressão) para os mesmos grupos que almeja proteger.


O ano de 2018 já está quase no fim e chegou o momento das tão esperadas retrospectivas. A Baidu — comumente conhecida no ocidente como o “Google chinês” — preparou uma lista com os termos mais pesquisados no seu site de buscas neste ano. Em primeiro lugar, curiosamente, ficou a Copa do Mundo (curioso visto que a China sequer estava competindo e está longe de ter tradição no esporte), seguido por “jogos online” e, para fechar o pódio, “guerra comercial entre China e Estados Unidos”. Você pode conferir a lista completa aqui.

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

Shenzhen: o desenvolvimento urbano da cidade de Shenzhen é uma das histórias mais famosas da China. Meramente uma série de vilas, principalmente de pescadores, nos anos 1970, hoje é a capital tecnológica do país. Você pode ver um vídeo mostrando as mudanças aqui, com legendas em inglês.

Boxe: há exatos 39 anos Deng Xiaoping retirava a proibição sobre a prática de boxe no país. Considerado violento, o esporte havia fora proibido na China em 1959 pelo Partido Comunista Chinês. Para celebrar a volta da prática, Deng havia convidado o lendário Muhammad Ali para não só visitar o país, mas também para treinar alguns lutadores. Você pode ler mais sobre este momento histórico aqui.

Seriado: falando em Deng, o novo seriado sucesso na China, e com um elenco de primeira linha, é o Like a Flowing River, que fala sobre a abertura e cobre a história de três pessoas, que aproveitam o momento histórico para mudarem as suas vidas, com a retomada do vestibular (gaokao) e permitindo o acesso ao Ensino Superior. No YouTube estão disponíveis os episódios legendados em inglês. Também tem o trailer (que já arranca algumas lágrimas).

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