Newsletter 037 (PT)
Destaques sobre política, sociedade, economia e cenário internacional da República Popular da China.
O prêmio de discurso extra-longo da semana vai para o fundador do WeChat, Allen Zhang, que falou durante 4 horas em uma conferência do aplicativo em Guangzhou. O especialista em tecnologia Matthew Brennan assistiu tudo e lançou na internet anotações dos principais pontos dessa maratona. Ele conta a história do app, como chegou onde chegou e quais as tendências do futuro.
Mais notícias ruins para a economia chinesa. Dessa vez, o ritmo de crescimento do setor de serviços do país desacelerou, ao contrário do que previam as projeções oficiais do governo central de Pequim. A causa? Uma combinação entre um crescimento apenas marginal de novos negócios e expectativas negativas para os próximos meses entre os investidores do setor. “Dado que o governo se absteve de adotar políticas de forte estímulo econômico, a tendência de queda da economia pode ser difícil de mudar por enquanto”, disse Zhengsheng Zhong, diretor de análise macroeconômica do CEBM, em declaração simultânea à liberação do novo dado.
Apesar do momento econômico ruim — 2018 foi, afinal, um ano também longe do ideal tanto para o mercado financeiro quanto para os setor industrial chinês, com quedas em valores de ações, crescimento abaixo do esperado e cortes de empregos —, o consumo de artigos de luxo na China segue avançando substancialmente. Marcas como Louis Vuitton e Gucci viram um aumento expressivo na busca por suas mercadorias nos últimos 12 meses, ao contrário, por exemplo, da demanda por automóveis, que caiu pela primeira vez em 20 anos. O dado, porém, não surpreende: pelo mundo afora, o setor de luxo é especialista em se safar das consequências negativas de crises econômicas.
Tudo indica que o continente africano é mesmo o próximo destino das empresas de e-commerce da China. O próprio Jack Ma já disse que prefere investir na África do que na Europa, principalmente pelas leis de privacidade. A decisão pode se bem factível, já que a China e muitos países africanos pularam o uso de PC direto para o celular, que é o que faz o e-commerce mais florescer. O famoso Alibaba espera reproduzir nos países emergentes africanos o que já fez em outros mercados similares, como Turquia e Índia — espaços pouco ocupados por gigantes estadunidenses como a Amazon.
Já comentamos aqui sobre um episódio do Sinica sobre a Huawei e a guerra fria tecnológica sino-estadunidense em andamento. Parece ser um sentimento generalizado entre certos grupos: a de que a guerra comercial é parte de uma disputa maior pelo domínio da tecnologia no mundo entre Estados Unidos e China.
Em novo projeto, a MacroPolo analisa as cadeias globais de valor de três produtos: cimento, aço e petróleo — todas chaves para a economia chinesa.
No ano passado, Eric Schmidt, ex-CEO do Google e executivo da Alphabet, previu que na próxima década a internet mundial se dividirá em duas: uma liderada pelos Estados Unidos da América e outra pela China. Além de serviços diferentes, os dois tipos de “sub-internets” operariam através de infraestruturas separadas e de acordo com regulações governamentais distintas. Kaifu Lee concorda, e acrescenta que a China não estará sozinha contra o restante do mundo no futuro da rede mundial de computadores. “Embora os aplicativos chineses tenham dificuldade em serem adotados nos EUA, na Europa e nos países de língua inglesa, acho que eles estão demonstrando rápida aceitação na Índia, no sudeste da Ásia, na América do Sul, no Oriente Médio e até um pouco na África”, declarou no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça. As consequências desse fenômenos ainda não são completamente compreendidas, mas já preocupam.
Juan Guaidó, presidente autodeclarado — porém ainda contestado — da Venezuela, pediu que a China abandone seu apoio por Nicolás Maduro. A súplica veio após o governo de Pequim declarar que pretende manter suas relações com Caracas “independentemente do que aconteça”, asserção encarada por Guaidó como um sinal de que o gigante asiático já se prepara para um futuro sem Maduro à frente do governo venezuelano. Para o líder oposicionista, a China só tem a ganhar com sua ascensão à presidência da Venezuela. “A China testemunhou em primeira mão a pilhagem de nossos recursos estatais pelo governo de Maduro. Os projetos de desenvolvimento chineses na Venezuela foram igualmente afetados e diminuíram devido à corrupção do governo e à inadimplência da dívida”, declarou em entrevista ao South China Morning Post.
Ainda sobre a América do Sul: o Diálogo Chino fez uma reportagem analisando os desafios e oportunidades da China na Guiana. De investimentos em infraestrutura que facilitariam o escoamento pela calha norte do continente à aplicação de capital na emergente indústria petrolífera do país (estima-se que a Guiana tem tudo para se tornar uma das maiores produtoras de petróleo per capita do mundo), vale a pena acompanhar os desdobramentos do Império do Meio na região.
A Comissão Central de Inspeção Disciplinar da China anunciou no último sábado que tomou medidas legais contra 80 agentes públicos envolvidos com o escândalo de vacinas anti-rábicas defeituosas que chocou e provocou revolta no país no ano passado. Os oficiais foram acusados, dentre outros crimes, de recebimento de propina e abuso de poder. Dentre os punidos estão membros da Administração Chinesa de Medicações e Alimentos (CFDA) e de várias outras organizações governamentais. Além deles, funcionários da empresa responsável pela fabricação da vacina, incluindo a presidente da corporação, já haviam sido detidos anteriormente. As vacinas, apesar de supostamente nunca terem chegado ao mercado, contribuíram para piorar a percepção dos chineses quanto à qualidade dos medicamentos produzidos no país.
Chegou o Ano Novo Lunar, muitas vezes chamado de Ano Novo Chinês, ainda que seja bem mais do que só da China. O evento é considerado a maior migração humana anual do mundo, com cerca de 3 bilhões de viagens registradas no país. Em uma nação com tantos migrantes internos, essa época é marcada pelo retorno para casa, com presentes e sempre muita emoção. Também é aquela época da clássica pressão familiar para saber dos namoradinhos e namoradinhas — principalmente se você é filho(a) único(a). Uma blogueira chinesa está se esforçando para conscientizar a sociedade chinesa de que casamentos apressados para agradar a família são um erro e, ainda, para dar apoio a quem retorna de casa se sentindo pressionado.
E se a pressão continuar muito grande, vale dar uma olhada nesta lista de provérbios e insultos usando a palavra “porco”, o regente deste Ano Novo Chinês.
Era para ser apenas uma noite de celebração da amizade entre o Império do Meio e o Continente Africano em um hotel de Pequim em que os holofotes estariam voltados para os mais de 100 enviados de 60 países africanos. Mas, pelo visto, um erro de tradução no telão principal foi a notícia que viralizou nas redes sociais: ao invés de traduzir a palavra 开拓 como development (desenvolvimento), ela apareceu como exploitation (exploração). Um ato falho, alguns diriam.
China pelos olhos da Black History: o Fairbank Center publicou uma lista de textos de pesquisadores negros que analisaram a história da China pelas conexões do país com a África ou a diáspora negra.
Lista de leitura: já montou a sua lista de leituras para 2019? Aqui tem uma dica de 25 livros de literatura moderna chinesa de ficção pra te ajudar.
Aplicativo: se interessou pelo discurso do Allen Zhang mas ainda não conhece o WeChat? Pois então chegou a hora de saber um pouco mais sobre essa plataforma chinesa com mais de 1 bilhão de usuários mensais e que, ao contrário do que muitos pensam fora de China, está longe de ser apenas uma ferramenta de troca de mensagens.