Newsletter 045 (PT)
O escritor conservador Francis Fukuyama, famoso pelo livro “O Fim da História e o Último Homem”, lançado em 1992, e no qual afirmava que a ascensão das democracias liberais e do livre-mercado indicaria que a humanidade chegava ao fim da história no sentido sociopolítico. Pois bem, a ascensão da RPC e o “modelo chinês” já vêm, na área da Ciência Política, mostrando-se como um possível desafio ao que Fukuyama havia dito. Agora, parece que ele mesmo admite que há um desafio real.
Durante a visita de Estado de Xi Jinping à França, a Airbus anunciou um contrato de 35 bilhões de dólares com o Império do Meio. O acordo, que consiste na venda de 300 aeronaves de pequeno, médio e grande porte aos chineses, reforça a crise da estadunidense Boeing, que atualmente enfrenta a retirada de circulação de seu jato campeão de vendas — o 737 Max — de vários dos principais mercados de aviação comercial do mundo, incluindo a China.
O setor manufatureiro da China voltou a se expandir em março, de acordo com pesquisada Caixin. A notícia, que muitos analistas creditam às medidas lançadas por Pequim para estimular a economia do país, vem em boa hora: no ano passado, o Produto Interno Bruto chinês cresceu à menor taxa em quase três décadas e, desde o início de 2019, os sinais de contínua desaceleração econômica alimentavam o pessimismo quanto a uma possível recuperação em 2019.
Ainda é cedo, é claro, para apostar na recuperação da economia chinesa, mas o mês de abril certamente começou em tom positivo. Ao menos no mercado financeiro, a resposta foi imediata. Na manhã desta segunda-feira (01), as bolsas de valores de Shanghai, Shenzhen e Hong Kong já operavam em alta. A onda de otimismo chegou também a outros países na Ásia e até mesmo na Oceania, com ganhos pronunciados em índices no Japão, Coreia do Sul e Austrália.
Semana passada comentamos a entrada oficial da Itália no Belt and Road Initiative (BRI) que, até o presente momento, já engloba 130 países signatários no mundo. Em um artigo publicado pela London School of Economics, Adriana Abdenur e Ariel Gonzalez Levaggi discorrem sobre a relevância da iniciativa para a América Latina. Além de apontar as ramificações políticas, econômicas e securitárias da BRI nos países latino americanos, a pesquisa faz um ponto contundente: o não engajamento da América Latina na iniciativa pode levar à maior periferização da região no sistema internacional. Se com a BRI é desafiador, imagina sem ela. Como de costume, um cafezinho vai cair bem com a leitura.
Para os mais curiosos: Yang Wanming, o novo embaixador da China para o Brasil, conversou com a Bloomberg sobre as relações diplomáticas entre os dois países após a ascensão do presidente Jair Bolsonaro ao poder.
Já falamos algumas vezes aqui sobre o papel da China na revolução industrial e tecnológica em curso na África. As relações sino-africanas não apenas cresceram muito nos últimos anos, como também trouxeram resultados que passam despercebidos por muita gente: um industrialização Alibaba. Empresas pequenas e médias chinesas aparecem como fornecedoras de empreendedores locais, se moldando a necessidades específicas.
A coisa vai mais longe: o economista David P. Goldman argumenta que a China está, com o seu desenvolvimento tecnológico, liderando no mundo o que será a maior disrupção na área desde a pólvora: o 5G. A liderança se dá num momento em que a China percebeu que o futuro do mundo e desse mercado está nos países em desenvolvimento, na África, Sudeste Asiático e América Latina — onde o governo e as empresas chinesas atuam cada vez com mais força incentivando industrialização, num momento em que os EUA os ignora.
No último domingo (31), duas aeronaves militares da China continental adentraram o espaço aéreo de Taiwan. Em resposta, o Ministério da Defesa taiwanês declarou que a atitude de Pequim impactou seriamente a estabilidade e a segurança na região. Huang Chung-yen, porta-voz do escritório presidencial da ilha, completou declarando que a China “deve interromper esse tipo de comportamento e deixar de causar problemas na região”. O governo central chinês, que considera Taiwan como parte de seu território, não respondeu ao caso.
A recente demissão de Xu Zhangrun, um renomado professor de direito da Universidade de Tsinghua — que figura entre as 30 melhores universidades do mundo — tem colocado intelectuais em alerta no país. Xu é um conhecido crítico do Partido Comunista Chinês e havia publicado em julho de 2018 um texto pontuando o crescente cerco da gestão Xi Jinping sobre o controle social, liberdade de expressão e autonomia de pensamento. O professor está sendo investigado.
Trabalhadores do mundo, uni-vos! — o slogan político do século XIX está sendo usadopor um grande número de trabalhadores de startups chinesas em protesto ao exaustivo 996 — a rotina de trabalho que começa às nove da manhã e vai até às nove da noite, seis dias por semana. Na plataforma online de discussões GitHub, o tópico já acumulou mais de 20.000 comentários e não surge à toa: na conjuntura do desaceleramento da economia chinesa e baixo engajamento dos sindicatos, há quem esteja questionando abertamente o alto nível de cobrança das gigantes de tecnologia.
Os hábitos alimentares de uma sociedade dizem muito sobre qualidade de vida e saúde da economia. Na última década, cada vez mais chineses começaram a fazer refeições na rua, e refeições cada vez mais variadas. Também comem cada vez mais carne (ou seja, gastam mais): cerca de 28% da carne consumida no mundo e provavelmente mais em breve — o que certamente impacta o Brasil, um dos países de quem importa. O vídeo da Inkstone mostra um pouco dessas mudanças e da culinária no país — incluindo uma das nossas histórias favoritas sobre Nixon e o pato laqueado.
Burning Man: O autor de ficção científica Chen Qiufan foi ao festival Burning Man e voltoucom um texto bem filosófico. É parte de uma edição especial sobre China da revista de tecnologia Logic. O festival ocorre anualmente em uma cidade no deserto, focado em criar redes comunais, compartilhando arte e participação cívica.
Xô baixo-astral: Está se sentindo meio triste? Precisando de palavras de encorajamento? Tem um grupo para isso. Nas redes sociais chinesas você pode comprar 5min de elogios pagando uma mensalidade de R$25.
Aumenta o som: a dica musical da semana é o mais novo álbum da banda de rock pequinense Snapine.