Newsletter 046 (PT)
Se o desenvolvimento de monopólios foi positivo para o início da abertura econômica encabeçada por Deng Xiaoping em 1978, hoje em dia já não é possível dizer o mesmo. Esse é o pensamento de alguns pesquisadores como Peijun Duan, da Central Party School, e Tony Saich, da Harvard Kennedy School. Para eles, as grandes corporações possuem mais entraves e receios para aceitar riscos — um passo fundamental para alavancar inovações disruptivas e liderança tecnológica. A solução, também apoiada por Craig Allen (presidente do US-China Business Council), seria quebrar os monopólios em pequenas partes e permitir que pequenas e médias empresas assumam os riscos de vanguarda. Isso também serviria como estratégia para afastar a China de uma futura armadilha de renda média.
Você já ouviu falar das baterias li-ion? São baterias de íon de lítio, uma aposta para o futuro de carros elétricos e smartphones — logo, de uma cadeia de valores importante para a economia global. Boa parte do preço de um Tesla vem do custo dessas baterias. A demanda vai crescer — e muito — nos próximos 10 anos. A China, por já ter uma política industrial avançada para a produção de carros elétricos, está na liderança para participar desse novo mercado nas várias fases da cadeia de valores e já produz mais de 60% das baterias li-ion do mundo. A Vale é um dos principais atores do começo da cadeia (ainda que possuindo menos de 10% da produção mundial), responsável pela mineração da matéria-prima da bateria. O pessoal da Macropolo fez uma análise detalhada.
No ano passado, o veto à aprovação de novos títulos afetou expressivamente a indústria de jogos virtuais na China. Se, por um lado, o congelamento regulatório atingiu a todos no setor, seu efeitos, por outro, foram ainda piores para pequenas empresas: a Feiyu Technology, por exemplo, viu sua arrecadação cair em quase 40% em 2018. O período de interdição já acabou e a indústria dá os primeiros passos rumo à sua recuperação. O caso, porém, tornou-se simbólico em se tratando da vulnerabilidade de setores da economia chinesa a mudanças bruscas em regulamentações estatais.
Afinal de contas, o que é a Belt and Road Initiative? Apesar da fama e do sucesso da iniciativa (ou melhor, justamente por isso) Pequim está criando regras que definem quais investimentos estrangeiros podem, ou não, usar a nomenclatura do projeto. O objetivo é proteger a reputação da empreitada que se coloca, sem grandes exageros, como o “projeto do século”.
Falando na nova Rota da Seda, existe uma área de estudos emergente focando em como o projeto chinês vai impactar o urbanismo das cidades da rota e qual o efeito disso na geopolítica mundial. À medida que o investimento entra, desafios como o direito à cidade e a interação dos residentes com os projetos se tornaram pautas frequentes e, possivelmente, conflituosas. Cidades como Kampala e Londres já viram essas discussões ocorrerem, após investimentos chineses relacionados à BRI.
O Sudão do Sul passará a ceder um sexto de sua produção total de petróleo — cerca de 30 mil barris por dia — para a China. Em troca, o Império do Meio se encarregará de desenvolver a infraestrutura do jovem país africano que, independente somente desde 2011 e ainda se recuperando de uma guerra civil que matou cerca de 400 mil pessoas, carece de instalações básicas como estradas e ferrovias. “Estamos adotando uma política de petróleo pelo desenvolvimento”, declarou Michael Lueth, ministro da Informação do país, sobre a decisão.
O seriado All Is Well está bombando na China. É um seriado sobre uma família com três filhos e cada um reflete uma maneira de criação, relações entre pais e filhos, e expectativas. Você consegue ver no YouTube, com legendas em inglês. É um tema bastante pertinente e comum na produção audiovisual chinesa, como o filme So Long, My Son, dirigido por Wang Xiaoshuai, que estreou na Berlinale de 2019 (e recebeu dois prêmios de atuação). Trata-se da história de dois amigos e suas famílias durante a Revolução Cultural e as mudanças pelas quais a China passou até os anos 1980, incluindo a política do filho único. Foi lançado na China em março e não tem previsão de estrear no Brasil.
Antes de se tornar, como esposa de Mao Zedong e líder do Bando dos Quatro, a mulher mais poderosa da China, Jiang Qing foi uma jovem aspirante a atriz na glamurosa Xangai dos anos de 1930. Em artigo sobre a breve e polêmica carreira de Madame Mao — como também é conhecida —, na indústria do cinema, o SupChina explora os anos não contados da vida de uma das figuras mais emblemáticas da história chinesa contemporânea.
Uma professora de uma escola de jardim de infância na província de Henan, no centro da China, foi detida após ter supostamente envenenado 23 crianças adicionando nitrito à comida servida aos estudantes na instituição. De acordo com as autoridades locais, as vítimas passaram mal após ingerir o mingau oferecido pela escola no café da manhã e foram levadas ao hospital local. Felizmente, todas as crianças sobreviveram ao episódio.
O que é ser chinês? Um recente vídeo de um fazendeiro das terras geladas de Heilongjiang viralizou e colocou milhões de pessoas em questionamento. Etnicamente russo e nascido na China, Dong Desheng começou a compartilhar sua vida — acordar cedo, trabalhar na horta, dormir antes das dez da noite — na plataforma de vídeos Kuai Shou (快手) e angariou uma onda de fãs em pouquíssimo tempo. Mais interessante do que a rotina, Dong cativa atenção por ser um chinês branco com aparência de estrangeiro. “Nossa, seu chinês é fantástico!”, “como você aprendeu a falar chinês sem sotaque?”. Os comentários abrem espaço para uma discussão sobre identidade em um país que congrega 56 etnias oficiais. Saiba mais da história aqui. Para não perder a tradição, prepare um cafezinho.
“Lulu”: a jornalista Te-Ping Chen escreveu um conto para o New Yorker. Conta a história de uma jovem e seu irmão na China, enquanto a jovem se envolve cada vez mais no ativismo dissidente pela internet.
É Tudo Verdade: falando em Wang Xiaoshuai, o documentário “Retrato Chinês” será exibido no Rio de Janeiro (14 de abril) e em São Paulo (9 e 10 de abril) como parte do festival É Tudo Verdade. E é tudo de graça.
Pequim subterrânea: durante a Guerra Fria, milhares de bunkers foram construídos em Pequim para proteger os habitantes da cidade em um cenário de conflito nuclear. Hoje, as instalações são ocupadas por cerca de 1 milhão de pessoas — em sua maioria, trabalhadores migrantes e estudantes do interior do país de renda baixa. O fotógrafo Antonio Faccilongo nos conduz por uma breve viagem ao lado da capital chinesa que não se vê na superfície.
Nos embalos do Lollapalooza: não, o festival ainda não chegou no Império do Meio, mas nos fez lembrar do ótimo som da banda indie folk The Chairs (椅子樂團). É o indie tomando conta da Shūmiàn (ou de parte dela).
Errata: comentamos na última edição que o professor Xu Zhangrun, da Universidade de Tsinghua, havia sido demitido em razão de um artigo em que criticava a gestão de Xi Jinping. Diferentemente do que noticiamos na semana passada, o professor não foi demitido: ele foi suspenso e está sob investigação das autoridades competentes.