Newsletter 050 (PT)
Estaria a economia chinesa se estabilizando? Segundo dados do FMI, parece que sim. Crescimento da produção industrial e de vendas de varejo, por exemplo, demonstram — junto com o crescimento das exportações (14,2%), que as coisas parecem estar melhorando lentamente. Ainda melhor do que nada.
O Luckin Coffee, concorrente chinês do Starbucks, entrou com pedido de oferta pública inicial na Nasdaq, bolsa de valores eletrônica estadunidense especializada em empresas de tecnologia. O plano é arrecadar 300 milhões de dólares — dinheiro a ser usado para dar continuidade à agressiva expansão da empresa que, desde sua inauguração há menos de dois anos, já abriu mais de 2000 unidades pela China. Quer saber mais sobre a empresa e seu por vezes confuso perfil — afinal, trata-se de uma companhia de café ou de uma corporação de tecnologia? Confira aqui.
Comemorou-se, nessa semana, uma das datas mais importantes do ano: o centenário do Movimento Quatro de Maio. Ocorrido em 1919, o movimento anti-imperialista foi liderado por estudantes, intelectuais e políticos em resposta à fraqueza do governo chinês em responder às demandas impostas pelo Tratado de Versalhes. O Movimento da Nova Cultura — como também é conhecido — tinha múltiplas pautas e era rico em diversidade de pensamentos e lideranças. Temas como: modernizar a cultura chinesa (deixando de lado algumas tradições confucionistas), liberdade de expressão, ideias feministas e valorização da ciência e democracia (Mr. Science e Mr. Democracy) eram comuns.
Para celebrar o centenário, Xi Jinping fez um longo discurso para centenas de estudantes e membros do Partido, exaltando os ideais patrióticos da época. Nada foi dito sobre o caráter anti-autoritário do movimento.
A crise da febre suína africana está levando às alturas o preço da carne de porco no país. De acordo com a CNBC, o preço pode aumentar em 78% até 2020 e voltar ao normal apenas em 2021. Estima-se que a produção de carne suína na China deve diminuir entre 9 e 15 milhões de toneladas. Alguns países podem se beneficiar dessa nova dinâmica, como é o caso da produção de frango do Brasil. Não se pode dizer o mesmo sobre a soja, no entanto.
Até quando a China vai conseguir ficar de fora dos conflitos no Oriente Médio? Para alguns, não por muito tempo. Apesar de um dos Cinco Princípios da Coexistência Pacíficaestipular a não-interferência em assuntos internos de outros países, além de discursos de Xi Jinping exaltando a neutralidade do país na região, interesses estratégicos por recursos naturais, novos mercados e a reconstrução da Síria podem demandar um posicionamento diferente do Império do Meio.
Um artigo no New York Times escrito por Deborah Brautigam, conhecida especialista em relações sino-africanas e autora do famoso livro The Dragon’s Gift: the Real Story of China in Africa, discute a tão famosa (e mal entendida) debt trap diplomacy — ou a “diplomacia da armadilha do endividamento”, em português. Para Brautigam, é errado pensar que os países que fazem parte da BRI estão rolando em dívidas por conta da China. Pelo menos 17 países africanos, por exemplo, já corriam risco de perder o controle sobre o endividamento das contas públicas mesmo antes de o Império do Meio chegar. Outros atores, como bancos (Credit Suisse) e empresas em setores estratégicos de outros países, seriam responsáveis por uma fatia muito maior do problema do que a atuação chinesa.
Quer saber mais sobre o assunto? Vale ler a pesquisa que analisa detalhadamente os empréstimos chineses em 40 projetos do BRI. Chegou a hora do cafezinho!
Todo santo ano (pelo menos nos últimos anos), o Congresso dos Estados Unidos produz um relatório sobre o poder militar da China. Ele fala sobre o desafio que a China impõe aos EUA nas suas estratégias de atuação global, com destaque para o Made in China 2025 e a Belt and Road Initiative. Dois tópicos especiais foram adicionados: operações de influência (ligadas à atuação de agentes de inteligência no exterior) e a atuação do país no Ártico.
Pretende usar um mapa digital para se achar na China? Ele vai estar um pouco errado. A questão é que mapear a República Popular da China é complexo e exige — isso mesmo — autorização governamental. Quatorze empresas podem realizar isso legalmente (nenhuma estrangeira). Contudo, a bagunça vem do diferente tipo de sistema de georeferenciamento usado, que propositalmente também vai mexer levemente nas coordenadas de tudo por questões de segurança nacional.
Como parte de um escândalo de admissões fraudulentas a grandes universidades estadunidenses, uma família chinesa foi acusada de pagar cerca de 6,5 milhões de dólares para garantir o acesso de sua filha a Stanford, na Califórnia. Outra família também chinesa teria pagado 1,2 milhões de dólares para garantir uma vaga para sua filha em Yale. Para além de depreciar o prestígio das instituições, os casos também são indicativos da supervalorização de uma formação educacional nos Estados Unidos por parte da elite chinesa.
Cena de filme de ação ou realidade? Em um vídeo que viralizou na internet chinesa na última semana, lutadores de taekwondo e funcionários de uma academia se enfrentam violentamente em um shopping na província de Jiangsu, ao norte de Xangai. A briga teria começado graças ao incômodo causado pelo barulho gerado pelos praticantes da arte marcial coreana, que se apresentavam no local. É de dar medo até em Jackie Chan.
Duas pessoas morreram e doze ficaram feridas em um acidente ocorrido em um parque de diversões na província de Sichuan, no sudoeste na China. O caso trouxe um tom negativo ao feriado do Dia dos Trabalhadores no país, geralmente comemorado festivamente pelas famílias chinesas. O local — que já foi palco de outros incidentes — foi fechado imediatamente e, seu gerente, preso pelas autoridades da região.
Lua vai: já falamos das ambições espaciais da China. O The New Yorker fez uma matériadiscutindo o desenvolvimento lunar, que engloba disputas e concorrência entre China, Estados Unidos, empresas privadas, e outros países. Não foca tanto na China, mas dá para entender o que está em jogo.
Falando em espaço: falamos aqui do sucesso e das discussões em torno do filme The Wandering Earth (2019), que retrata um futuro em que a China participa ativamente de missões espaciais. Querendo dar um tempo de Westeros? A Netflix Brasil adquiriu o filme, que está disponível com o nome de “Terra à Deriva”.
Fotografia: conheça o trabalho de Shen Wei, fotógrafo chinês que busca registrar as transformações de seu país através de capturas notavelmente sentimentais e nostálgicas.Imperdível.