Newsletter 051 (PT)
Ocorrerá, no dia 15 de maio, em Pequim, a Conferência sobre o Diálogo das Civilizações Asiáticas. Além da presença de mais de 47 representantes de países asiáticos e não-asiáticos, o evento contará com o discurso de abertura do presidente Xi Jinping. Um timing interessante, dadas as recentes declarações de Kiron Skinner, diretora de planejamento de políticas do Departamento de Estado dos Estados Unidos. “É a primeira vez que teremos uma superpotência [China] não-caucasiana”.
Vale reler a excelente entrevista com Yan Xuetong, um dos maiores especialistas de política externa chinesa, sobre a ascensão de uma ordem mundial cada vez mais bipolarizada.
Brigas eclodiram no parlamento de Hong Kong durante discussões sobre uma proposta de lei que permitirá a extradição de pessoas acusadas de cometer crimes, incluindo estrangeiros, a países com os quais a região administrativa especial não mantém acordos oficiais de extradição, incluindo a China continental. Opositores temem que a mudança poderá corroer as proteções legais garantidas aos residentes da cidade quando essa foi retornada à soberania de Pequim em 1997 sob a máxima “um país, dois sistemas”, que prometia expressiva autonomia a Hong Kong após o fim do domínio colonial britânico e a unificação com o restante da China.
Vem crescendo na China o debate em torno da cultura de trabalho 996 — uma referência à prática, especialmente comum entre empresas de tecnologia do país, de se esperar, ou até mesmo exigir, que trabalhadores cumpram horários das 9h da manhã às 9h da noite, durante 6 dias por semana. Para alguns, a rotina de 72 horas de trabalho semanal(muitas vezes sem a devida remuneração extra) é exagerada e deve acabar. Para outros, como Jack Ma, fundador e CEO do Alibaba, o 996 é fundamental para o sucesso das empresas da China. Quer saber mais sobre o debate? Comece por aqui.
Falando em 996 e Alibaba, o Jack Ma também presidiu a famosa cerimônia de casamento conjunta de funcionários da empresa (celebrada anualmente no dia 10 de maio). Ele recomendou que, além do 996, os funcionários também se engajem em 669, de modo a aumentar os números de crianças no país (669 significa manter relações sexuais por 6 vezes em 6 dias por semana e o 9 representa um período de longa duração). Muita gente reclamou que 996+669 são expectativas surreais para qualquer pessoa.
A China é a nação estrangeira dona do maior número de títulos da dívida pública dos Estados Unidos. São 1,13 trilhões de dólares estadunidenses (o Brasil é o terceiro país com maior aquisição desses títulos, somando 308 bilhões de USD). O que isso significaem meio a uma guerra comercial? Com a ameaça do aumento de tarifas prometido por Trump na semana passada, alguns analistas questionam se a China pode decidir vender alguns dos seus títulos e inundar o mercado para desvalorizar o valor dos mesmos, pressionando o custo de empréstimos internos no país. É uma ação arriscada que teria consequências negativas para a própria China, que estaria desvalorizando seus investimentos.
Será o caso de um novo Hambantota? O megaprojeto da Port City Colombo — uma ilha artificial que expande o perímetro urbano de Colombo e promete ser um centro financeiro à altura de Dubai, Hong Kong e Cingapura — tem levantado questionamentos no Sri Lanka. Trata-se de um investimento bilionário entre o governo chinês e o srilankês, dentro do escopo da BRI. Há quem diga que a Port City Colombo corre riscos semelhantes ao famoso caso do porto de Hambantota que, para muitos, tornou-se um exemplo (questionável) da diplomacia da armadilha da dívida (debt trap diplomacy).
O governo estadunidense voltou a aumentar as tarifas de importação sobre produtos chineses. A nova medida, que atinge 200 milhões de dólares em mercadorias vindas da China, vem no mesmo momento em que se esperava que a guerra comercial entre os dois países pudesse estar próxima de chegar ao fim. “O risco de um colapso total das negociações comerciais [entre Washington e Pequim] certamente aumentou”, declarou Michael Taylor, da Moody’s, agência americana de serviços financeiros e empresariais.
Em resposta, o Ministério do Comércio chinês lamentou a decisão da Administração Trump e prometeu tomar as medidas de retaliação necessárias. Para os chineses, o novo ataque às importações chinesas é mais um exemplo do “bullying comercial” tipicamente praticado pelos Estados Unidos. Pequim, porém, confirmou que pretende dar continuidade às negociações comerciais com Washington e espera que os dois países possam trabalhar conjuntamente para resolver quaisquer problemas através da cooperação.
O professor de Relações Internacionais da FGV, Oliver Stuenkel, escreveu para a Foreign Affairs sobre a Huawei e sua atuação na América Latina. A disputa pelo acesso à tecnologia 5G pode ser mais uma dificuldade incomodando o presidente Bolsonaro, que se coloca como aliado dos Estados Unidos.
Um recente relatório da Anistia Internacional trouxe à tona a situação de pessoas transexuais na China, e a situação não é nada menos do que alarmante. Difícil acesso a medicamentos para tratamento hormonal, alta incidência de depressão, ansiedade e pensamentos suicidas, fora um angustiante processo para pessoas que desejam fazer a cirurgia de afirmação de gênero — como pedir autorização para a família, mesmo sendo maior de idade — fazem parte do cotidiano de 100.000 a 4 milhões de pessoas transexuais do país.
O terremoto de magnitude 8,0 na Escala Richter que atingiu a província de Sichuan, no sudoeste da China, em 2008, foi, para além de uma tragédia humana de grandes proporções, um golpe contra os pandas chineses. Grandes porções do habitat do animal foram destruídas, assim como várias instalações de proteção à espécie. Mais de uma década após a catástrofe, o governo chinês anunciou a criação de um super parque de conservação para os ursos. Com quase 30 mil quilômetros quadrados, a iniciativa deve auxiliar na garantia da sobrevivência da espécie, que hoje consiste em uma população selvagem de menos de 2 mil exemplares.
Questões trabalhistas na China são um dos temas que mais atraem a atenção de estrangeiros. Da popularização da questão de trabalho escravo até o mais recente sobre a rotina 996 (sobre a qual comentamos na seção Política e Economia), existem diversas publicações dedicadas a isso, como a da revista Made in China (a edição de Janeiro-Março, por exemplo, é focada em gênero). A pesquisadora e professora brasileira Rosana Pinheiro-Machado escreveu sobre as formas de protesto de trabalhadores precarizados no país e as “revoluções” legais que aconteceram em prol de seus direitos. Pesquisas recentes se dedicam também à saúde mental de trabalhadores e à necessidade de apoio psicológico dentro das fábricas, especialmente para migrantes — que são normalmente mais vulneráveis. Em épocas de desemprego alto e debate sobre Reforma da Previdência no Brasil, vale dar uma olhada no que acontece do outro lado do mundo.
Hip Hop taiwanês: A Shūmiàn não é só rock, bebê! O rapper HotDog lançou nessa semana seu mais novo sucesso, Do You Remember. Aumente o volume!
Belgrado, 1999: fora da China, pouca gente conhece a história do bombardeio da Embaixada da República Popular pela OTAN, em Belgrado, capital da Sérvia. Aconteceu durante a guerra do Kosovo, causou 3 mortes e feriu cerca de 20 funcionários. É, até hoje, 20 anos depois, um argumento forte contra a atuação dos Estados Unidos e de seus aliados em operações de paz ou pós-conflito ao redor do mundo.
Longa Jornada Noite Adentro: estreou nos cinemas brasileiros a premiada co-produção sino-francesa “Longa Jornada Noite Adentro”, do diretor chinês Bi Gan. A obra participou da competição pelo prêmio Un Certain Regard em Cannes, no ano passado. O filme conta a história de um homem que retorna à sua cidade natal no interior da China para encontrar um antigo amor. Prepare a pipoca!