A desaceleração da economia da China impõe reajustes às aspirações da classe médiado país. Somando-se a crescentes desigualdades e um nível cada vez menor de mobilidade social, o reduzido crescimento econômico (em comparação com os padrões chineses do passado) alimenta a preocupação entre os cidadãos quanto a um futuro de competição ferrenha por recursos educacionais e profissionais relativamente escassos. “Quando há uma grande diferença entre expectativas e realidade, isso implica ansiedade social”, afirma Wang Wen, do Instituto Chongyang de Estudos Financeiros da Universidade de Renmin.


Na última quarta-feira (15), Tencent e Alibaba — duas titãs chinesas do setor de internet e tecnologia — divulgaram simultaneamente seus resultados no primeiro trimestre deste ano. A Tencent superou expectativas do mercado e apresentou lucro líquido 17% superior em comparação ao mesmo período do ano passado. A receita bruta da empresa, porém, ficou ligeiramente abaixo do que esperavam os analistas. Já o Alibaba excedeu confortavelmente as projeções ao apresentar uma receita de mais de 90 bilhões de yuans — um crescimento anual de 51% alimentado especialmente pela expansão do setor de comércio online da corporação (Taobao e TMALL).

Um dia depois, foi a vez da Baidu (conhecida popularmente como o “Google chinês”) divulgar seus resultados trimestrais. Os números, porém, não são positivos. A empresa registrou o seu primeiro prejuízo líquido desde que lançou suas ações no mercado financeiro em 2005. Em uma carta dirigida a seus funcionários, Robin Li, fundador e CEO da corporação, reconheceu que a Baidu enfrenta um momento difícil e que a estratégia para superá-lo será investir em produtos e serviços que gerem crescimento imediato — a empresa, afinal, notoriamente financiava caros projetos de desenvolvimento de tecnologias emergentes ainda sem aplicação em massa no mercado.

guerra comercial entre China e Estados Unidos está a todo vapor. As respostas da China ao aumento das tarifas pelo governo Trump estão ainda sendo elaboradas, mas a partir do dia 1º de junho, a China aplicará tarifas de 60 bilhões de USD em produtos dos EUA como retaliação aos aumentos autorizados por Trump. Muita coisa está rolando, mas os pontos abaixo apresentam alguns dos destaques da situação de maneira resumida:

  • O que pode acontecer se a China parar de exportar tecnologia para os Estados Unidos? A definição de “importar tecnologia” é ampla e pode incluir colaboração no desenvolvimento de softwares, cadeias de valores que não possuem substituição no momento, interrompendo indústrias nos EUA.
  • Qual será o impacto para o crescente (e muito necessário) investimento chinês no transporte público dos Estados Unidos? A China Railroad Rolling Stock Corporation (CRRSC) ganhou contratos para o transporte público de Boston e tem sido considerada bem-sucedida e bem-recebida,incentivando possíveis investimentos em outras cidades. Isso vai acabar?
  • Huawei está na lista de empresas com que o governo dos EUA proíbe que se façam negócios. A empresa trabalha com Android e microchips de empresas estadunidenses.
  • A China, alguns dizem que como resposta e parte do imbróglio da prisão de Meng Wanzhou no Canadá, oficialmente indiciou os dois canadenses que estavam presos em seu território, Michael Spavor e Michael Kovrig, quase 140 dias depois de suas prisões.

Vale lembrar que, no meio dessa bagunça, o presidente Jair Bolsonaro estava nos Estados Unidos e, o vice-presidente Hamilton Mourão, a caminho da China.


Começou nesse domingo, dia 19/05, a visita do vice-presidente Hamilton Mourão à China, um passo estratégico para fortalecer as relações com o Brasil e preparar o terreno para a visita do presidente Bolsonaro em alguns meses. Em uma ótima reportagem disponível no site da BBC, Amanda Rossi e Camilla Veras Mota abordam os principais pontos com que Mourão deve se deparar durante a visita — tais como: a eventual participação brasileira no BRI; a reativação da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban); os rearranjos econômicos frente às oportunidades geradas pela guerra comercial entre China e Estados Unidos; e, mais importante, a mitigação dos desentendimentos criados pelo então candidato Jair Bolsonaro durante a campanha presidencial.


exportação de quinoa orgânica da Bolívia tem entrado cada vez mais no mercado chinês. Só em dezembro do ano passado, 590 toneladas foram exportadas para o Império do Meio, com a meta de esse número chegar a 2000 toneladas até junho de 2019. A China é, atualmente, o quarto parceiro comercial mais importante para o país que detém uma das maiores reservas de lítio do mundo.

O quanto você sabe sobre as relações entre a China e a América Latina? É hora de quiz!

Na quinta edição da newsletter, falamos sobre aborto na China. Em meio à guerra comercial, outro fator se destacou nas notícias sobre as relações entre a RPC e os EUA: a nova lei antiaborto aprovada no Alabama. Netizens foram em massa às redes sociais chinesas reclamar da legislação, que permite aborto em caso de estupro, por exemplo. A criação de políticas chinesas de aborto e natalidade tem muito mais a ver com controle populacional do que com direitos reprodutivos das mulheres, mas ainda gerou discussões importantes nas redes.


Poucas horas antes do Dia Internacional Contra a Homofobia (17 de maio), o governo de Qingdao, no leste da China, publicou, através de perfil oficial no Weibo, uma mensagemde apoio à comunidade LGBTQIA+. A postagem se deu em resposta ao texto compartilhado anonimamente por um garoto chinês de 15 anos que viralizou na mesma rede ao se assumir homossexual e compartilhar a dor que sente pela pressão que sofre de amigos e familiares. Clamando por igualdade e fim da discriminação contra pessoas não heterossexuais, a iniciativa da cidade — ainda rara entre autoridades do país — foi aplaudida e compartilhada milhares de vezes pelos usuários do Weibo.

Ainda sobre a comunidade LGBTQIA+: o Parlamento de Taiwan aprovou, na última semana, um projeto que legaliza o casamento homoafetivo na ilha, feito até então inédito na Ásia. A decisão se dá quase dois anos após a Suprema Corte taiwanesa julgar a antiga lei matrimonial local — que restringia casamentos à formação heterossexual entre uma mulher e um homem — como inconstitucional.


 Conheça a história de Zhang Weili, a lutadora de MMA nascida na província de Hebei e que poderá se tornar a primeira campeã de UFC do país. Contrariando todos os estereótipos e as dificuldades de seguir uma profissão dominada por homens, além do fato de o UFC ainda ser relativamente novo na China, Zhang deseja inspirar mais mulheres a praticar artes marciais e participar do campeonato. “Qualquer coisa que os homens conseguem fazer, as mulheres também conseguem — e nós podemos fazer isso tão bem quanto eles”.

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

Podcast: um dos maiores sucessos sonoros da China no formato podcast é o Gushi FM(Gushi significa “história”). O podcast tem um estilo narrativo comparado ao estadunidense This American Life, contando histórias de cidadãos comuns. Ah, é em mandarim.

leoh Ming Pei: arquiteto nascido na China e radicado desde os anos 1930 nos Estados Unidos (de onde tornou-se cidadão nos anos 50), I.M. Pei faleceu essa semana, aos 102 anos. Considerado um dos gênios da arquitetura moderna, fez obras como a pirâmide do Louvre, o Museu de Arte Islâmica no Qatar, a torre do Bank of China em Hong Kong e a Biblioteca John F. Kennedy em Boston. Aqui estão alguns álbuns com fotos dos prédios. A jornalista sino-estadunidense Jiayang Fan escreveu ao The New Yorker sobre como ele serviu de modelo para muitos, assim como para ela.

Islamofobia: uma conversa entre especialistas sobre como o medo do Islã se manifesta na China.

Música: quase 10 minutos de rock alternativo com a incrível banda taiwanesa Elephant Gym. Prepare os fones de ouvido.

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