A semana na sinosfera foi marcada pelas discussões sobre os protestos em Hong Kong, que duraram a semana inteira. Milhões foram às ruas se manifestar contra o projeto de lei que permite a extradição, de Hong Kong para a China continental, de pessoas que cometeram crimes sérios. Os protestos incluíram grupos variados, de estudantes a empresários. Muitos afirmam que a legislação está sendo pressionada por Pequim. Além das críticas à violência contra quem estava na rua protestando, também teve muita gente elogiando a organização dos manifestantes, que não possuem lideranças claras. E parece que deu certo: a votação foi adiada indefinidamente. O podcast do Nexo falou um pouco sobre a questão toda (em português).


Quem são as novas elites políticas na Era Xi? O artigo do China Leadership Monitorapresenta alguns argumentos sobre essa questão. São homens – surpresa? Não, o Politburo tem só uma mulher, dentre as 25 figuras –, os quais participaram da vida política do presidente em diversos momentos. É possível dividi-los em sete grupos: a “segunda geração vermelha” (amigos de família muitas vezes); Shaanxi (província onde Xi ficou durante a Revolução Cultural); a alma matter Tsinghua; o começo da sua carreira na província de Hebei; o seu longo período em Fujian; a sua ascensão em Zhejiang; e a sua consolidação em Shanghai.


Desaceleração econômica, guerra comercial… a lista de preocupações dos responsáveis por administrar a economia chinesa não é nada confortante. Como tudo que já não está tão bom ainda pode piorar, um novo desafio parece se erguer frente à estabilidade econômica do país. Alimentado por fenômenos como febre suína e contaminação de plantios por pragas agrícolas, o crescimento expressivo dos preços de bens alimentícios na China vem afligindo tanto as autoridades competentes como os cidadãos comuns. Para combater o risco de inflação e descontentamento popular, será necessário, dentre outras medidas, elevar o nível de importação de comida no país. Mas com uma população tão grande, fica a pergunta: de onde tirar tanto alimento?

O naufrágio de um barco de pesca filipino após colidir com um navio chinês aumentou a temperatura no disputado Mar do Sul da China. O que teria sido apenas um “acidente marítimo”  – como defendeu um dos porta-vozes do Ministério das Relações Exteriores da China – foi visto pelo governo filipino como uma ação premeditada, um claro sinal de agressão que viola as leis internacionais. São dois, os problemas apontados pelas Filipinas: primeiramente, o fato de o navio chinês estar atuando em águas fora das jurisdição e soberania chinesas; em segundo lugar, a não-prestação de ajuda, pelo mesmo navio, ao salvamento dos pescadores filipinos que ficaram ao mar.

Foi necessária intervenção de um navio vietnamita para evitar a morte dos pescadores. Trata-se de mais um capítulo no contexto de “disse me disse” que costuma envolver os eventos no Mar do Sul da China. Para saber mais sobre essa região marítima (e seus imbróglios), navegue pelo material da Asia Maritime Transparency Initiative (AMTI). Vale se debruçar tomando um cafezinho.


Tenso e potencialmente perigoso? O governo dos Estados Unidos está agora partindo para investidas contra pesquisadores chineses no país. Segundo a Bloomberg, o FBI está pegando pesado nas investigações de espionagem contra chineses e descendentes de chineses em solo estadunidense. Alguns pesquisadores de centros renomados já sofreram consequências. Os impactos da guerra comercial – que cada vez mais ecoa os tempos de Guerra Fria – estão tensionando a comunidade sino-americana, preocupada com crescentes demonstrações de racismo e perseguição étnica.

Vale lembrar que durante a Segunda Guerra Mundial, os EUA enviavam japoneses para campos de concentração e em 1882 criaram um ato federal proibindo a imigração de chineses. Um grupo de cientistas sino-americanos já havia demonstrado preocupaçãocom perseguições baseadas em raça lá em março, na revista Science.

polêmica da semana foi estrelada por Paul Donovan, economista-chefe global do banco suíço UBS. Enquanto gravava, na última semana, um podcast sobre a alta nos preços de bens de consumo na China, Donovan abordou o caso recente da epidemia de gripe suína no país e a subsequente elevação nos preços da carne de porco no mercado chinês. O comentário infeliz, porém, foi o que se seguiu: “Isso importa? Importa se você é um porco chinês. Importa se você gosta de comer porco na China. Para o restante do mundo, não importa.”  A reação na China foi imediata, com muitos netzens acusando o economista de se referir aos chineses como porcos de maneira discriminatória. Outros, porém, partiram em defesa de Donovan, alegando que ele se referia, literalmente, a porcos, e não a chineses. Paul se desculpou, e ainda assim foi afastado da posição que ocupava no banco. A imprensa estatal People’s Daily foi contundente em editorial sobre o caso — para a publicação, “aqueles que insultam o povo chinês devem pagar o preço”.


Pesquisadores da Academia Chinesa de Ciência descobriram provas inequívocas de uso de cannabis como entorpecente em um tumba próxima à fronteira da China com o Tajiquistão. As evidências, datadas de 500 a.C., representam a indicação mais antiga de uso da substância como droga psicoativa na história humana. Ao que parece, ela era “fumada” como parte de ritos funerários zoroastrianos. O processo de consumo, porém, era mais complicado que em nossos tempos — ao invés de em um cigarro ou cachimbo, a cannabis era colocada sobre pedras quentes em um recipiente de madeira e, então, tragada.


Na década de 1950, o governo chinês estabeleceu um conjunto habitacional de mais de mil “vilas de hanseníase” para tratar os então centenas de milhares de contaminados pela doença no país. Hoje, a hanseníase já não é mais um problema de saúde pública na China. Para os sobreviventes à infecção, porém, reinserir-se na sociedade chinesa é um desafio. Conheça aqui as histórias daqueles que foram permanentemente marcados pela doença e seus estigmas.


Como manter as províncias do norte da China aquecidas no inverno, sem recorrer a sistemas de calefação baseados em carvão e a gás? Pequim acredita que a alternativapossa vir de pequenos reatores nucleares. A estatal China National Nuclear Corp (CNNC) tem conduzido testes para construção de um reator de calefação distrital, com estimativa de cobrir mais de 200.000 pessoas. O desafio, no entanto, é ganhar a confiança da sociedade quanto à segurança das instalações.

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

A distância do esquecimento: no mini-documentário 4,248 miles, o diretor sino-americano Jeffrey Wu captura os últimos momentos de lucidez de sua avó, acometida pela doença de Alzheimer.

#TBT: o pesquisador Sebastian Veg (que recentemente lançou o livro The Rise of China’s Grassroots Intellectuals) escreveu esse bom texto em 2013 sobre as relações entre Pequim e Hong Kong.

Música: conheça a Lao Wang Band (老王樂隊), uma banda taiwanesa com arranjos musicais surpreendentes. Disponível no Spotify.

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