Newsletter 142 (PT)
Apesar das diversas chamadas por boicote, a China segue a todo vapor em sua preparação para as próximas Olimpíadas de Inverno. Ao contrário do que ocorreu em 2008, quando o país também enfrentou críticas ao sediar a edição de verão da competição, desta vez Pequim não parece estar muito preocupada ou disposta a fazer concessões. Diferente de uma década atrás, o gigante asiático de hoje é forte e influente o suficiente para garantir que o evento ocorra sem maiores preocupações. O Comitê Olímpico Internacional, é claro, também espera que os jogos aconteçam conforme o planejado. “Queremos, com essa edição, experimentar a paixão e a excelência do esporte e também a excelência da organização chinesa”, afirmou Thomas Bach, presidente da organização.
Com seu poder de compra em alta, a geração Z (que inclui pessoas nascidas entre os anos de 1996 e 2010) vem alimentando o crescimento das marcas nacionais chinesas. O grupo de consumidores representa apenas 17% da população do país, mas já corresponde a 25% do total de gastos com novas empresas locais. Charlotte Chang, da empresa de capital privado L Catterton, afirma que, ao contrário de suas predecessoras, a geração Z chinesa é, ao mesmo tempo, globalista em sua mentalidade, mas entusiasta dos produtos feitos em seu próprio país. Além disso, os novos hábitos desses jovens consumidores — muito mais adeptos, por exemplo, a compras online — representam oportunidades de negócios para que mais startups cresçam no mercado do gigante asiático.
Fortes rumores no WeChat sugerem que a Xiaomi, famosa fabricante de celulares e eletrônicos, está prestes a entrar no mercado de carros elétricos. Para quem conhece a empresa de Lei Jun, o fato (se confirmado) não causa surpresa: a Xiaomi já investiu em startups do setor antes — como a Xpeng Motors, que recebeu 400 milhões de dólares em investimentos em 2019. Quatro anos antes, em 2015, Lei já mostrava interesse pelos carros do futuro ao investir na Niu, uma marca de motos elétricas muito famosa na China. Até o fechamento desta edição, a Xiaomi não fez nenhum pronunciamento a respeito.
Você certamente lembra de toda a treta com o TikTok nos EUA, como apareceu por aqui em setembro do ano passado. A empresa estadunidense Oracle tinha sido indicada para comprar parte do app após as ameaças de Trump de banir a rede social por questões de segurança nacional. Contudo, com a saída do ex-presidente, as coisas ficaram um pouco mais confusas. Primeiramente, tem a questão apontada no texto do South China Morning Post — de que Biden não está certo se vai seguir com o argumento, em um contexto em que, é importante lembrar, um dos fundadores é apoiador de Trump. Em segundo lugar, uma longa matéria do The Intercept questiona também se a empresa é de fato a melhor resposta em meio às questões éticas da sua atuação na China. A investigação da jornalista Mara Hvistendahl aponta que a Oracle comercializa produtos para coleta e análise de dados para o governo, as forças armadas e a polícia chinesa, que podem ser usados para repressão. Já que o principal argumento para vender o TikTok era a ameaça de que os dados do app fossem parar nas mãos de Pequim, a história agora ganhou um tom diferente quando a empresa auxilia a produção de inteligência chinesa.
So call me maybe — aconteceu o papo por telefone entre Biden e Xi Jinping. Os dois conversaram por 2 horas no dia 10 de fevereiro, logo antes do feriadão do Ano Novo Lunar. Foi uma conversa tensa, sem dúvida.
Após negar o ocorrido, a China finalmente admitiu que alguns de seus soldados morreram no ano passado em um choque fronteiriço com a Índia. O episódio, que se passou no último mês de junho em uma área disputada dos Himalaias, foi o mais mortal entre os dois países em mais de 40 anos. Inicialmente, Nova Déli havia confirmado a perda de pelo menos 20 soldados indianos no incidente, mas a China não tinha declarado nenhuma baixa de sua parte. Agora, porém, o jornal oficial das forças armadas chinesas PLA Daily comunicou que um comandante e mais três membros do seu batalhão também morreram durante o conflito. Em se tratando de qual das partes causou a escalada de violência, contudo, ainda não há concordância — China e Índia seguem trocando acusações sem assumir responsabilidade pelo confronto.
Tocando nesse assunto, novas imagens de satélite mostram que a China desmontou suas instalações militares nas margens do lago Pangong. O local é um dos mais críticos na fronteira sino-indiana e uma parte estratégica das disputas que vêm se desenvolvendo na região ao longo do último ano. A mudança já era esperada — no início deste mês, autoridades chinesas e indianas concordaram em remover tropas da área como parte do esforço de apaziguamento das tensões entre as duas potências nucleares.
Falando em vizinhos ao sul, matéria do The Diplomat sugere que a “diplomacia da máscara”, liderada por Pequim, teve resultados mistos no Sudeste Asiático. Uma pesquisa feita pelo Instituto Yusof Ishak divulgou que 44,2% dos entrevistados consideram que sim, foi a China que forneceu maior ajuda aos países da região durante a pandemia. Só que nem tudo são flores: mais de 70% acham preocupante que o gigante asiático seja a liderança regional. E dentre quem escolheria entre China e EUA, só 38,5% optaram pela primeira. Por ter sido realizada em novembro de 2020, a pesquisa não levou em conta a “diplomacia da vacina”, como o próprio artigo de Yang Lizhong e Chen Dingding discute. Além disso, os autores apontam que outras variáveis podem ter influenciado, como a recém-vitória de Biden, que levantou o otimismo com relação aos EUA, e a inclinação política dos respondentes.
Está todo mundo falando: o maior parceiro comercial da Europa agora é a China, pela primeira vez. Enquanto o comércio com os Estados Unidos caiu, aquele com a China cresceu. Segundo dados oficiais da União Europeia, o valor total de troca de mercadorias entre europeus e chineses foi de 706 bilhões de dólares, enquanto com os EUA foi de 669 bilhões. Contudo, se incluirmos as trocas no setor de serviços, os aliados tradicionais saem na frente. De todo modo, como diria Bob Dylan, os tempos estão mudando e o presidente Joe Biden percebeu que está perdendo terreno. Mas, também, calma lá: é um relacionamento ainda bem complicado.
Nas telas de cinema, a história de uma mulher viajando no tempo para ajudar sua própria mãe a encontrar um pai melhor cativou os chineses durante o feriado do Ano Novo Lunar. “Hi, Mom” (ou “Oi, Mãe” em português), da diretora, atriz e comediante Jia Liang, já passou da marca dos três bilhões de yuans em bilheteria desde sua estreia no último dia 12 e recebeu críticas positivas de grande parte do público e da mídia especializada. Alguns, porém, aproveitaram a ocasião para levantar um debate importante: o filme, apesar de comovente, ainda se apoia na noção tradicional e dúbia de que mães devem se sacrificar em nome da felicidade de outras pessoas, sejam elas seus filhos ou cônjuges. Despertou a sua curiosidade? A produção ainda não está disponível oficialmente no Brasil, mas podemos conferir seu trailer aqui.
Por sinal, as bilheterias de cinema vão bem pelo país. O feriado do Ano Novo Lunar viu várias pessoas tirando o atraso de 2020 e lotando as salas. Uma surpresa foi o filme “Detective Chinatown 3”, que, mesmo sendo considerado não muito bom, arrecadou estrondosos 398 milhões de dólares ao longo do final de semana passado (bateu o recorde de bilheteria de filme em um único país: antes era do último Avengers, nos EUA, com 357 milhões). Isso é um bom sinal para a indústria cinematográfica, que com a pandemia, estava sendo declarada como obsoleta. Apesar desse sucesso inicial, “Hi, Mom” foi o vencedor da semana do feriadão.
É cada vez maior o número de crianças chinesas estudando no exterior. Esse grupo passou da casa das 700.000 crianças em 2019, incluindo algumas com apenas 10 anos. E a tendência é que esse número só aumente, apesar da pandemia. O governo chinês estuda formas de desencorajar o “êxodo infantil” e incentivar que as famílias de classe alta da China mantenham seus descendentes em solo nacional. Mas a tarefa não será fácil: de acordo com uma pesquisa de 2016, cerca de 80% das famílias milionárias chinesas consideram enviar seus filhos para ir estudar fora. Além da busca de uma educação melhor, pesa na escolha das famílias a pressão do sistema educacional chinês que, segundo elas, pouco privilegia o desenvolvimento de habilidades pessoais e interesses. Além disso, acreditam que um selo de educação internacional é mais vantajoso profissionalmente para quando os jovens retornarem à China. Confira a reportagem completa de Mandy Zuo aqui para saber mais.
Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.
Podcast: este episódio de The Anti Empire Project falou sobre a Rebelião Taiping, a guerra civil que devastou uma parte da China durante a segunda metade do século XIX. Também aproveite a hora de lavar louça para ouvir os episódios anterior e posterior a esse, que cobrem a Guerra do Ópio.
Cursos: o Radar China está com uma série de cursos online sobre o país. São oito no total, e um já se inicia hoje (22), além de outras com opções programadas até junho. Assinantes da nossa newsletter têm 10% de desconto (é preciso indicar no e-mail de inscrição). Confira os cursos e mais informações pelo site.
De dar água na boca: as memórias de incontáveis idas a Chinatowns e supermercados asiáticos ganham vida com as obras de cerâmica de Stephanie Shih. Desde condimentos até jiaozis banhados a ouro, é impossível não sentir o gostinho de nostalgia nas obras de Shih.
Um pouco mais acadêmico: leia o artigo sobre o papel das BAT (Baidu, Alibaba e Tencent) na Iniciativa Cinturão e Rota. As empresas são um pilar importante da Iniciativa, especialmente por oferecerem serviços de nuvem e e-commerce. Um bom acompanhante é o podcast sobre a “Rota da Seda digital”, que já compartilhamos antes.
Música: vai um som mais alternativo aí? A banda taiwanesa Blueburn não vai te decepcionar!