Fotografia em cores da entrada do Grande Salão do Povo em Pequim.

Foto de Andrey Filippov 安德烈 via flickr.

Edição 291 – Em meio às Duas Sessões, China anuncia meta de crescer 5%

Vacinas chinesas e gigantes de tecnologia na China

Considerada ambiciosa, a China lançou sua meta de crescimento do PIB em 5% para 2024. O anúncio foi feito pelo premiê chinês Li Qiang na terça (5), durante a abertura das Duas Sessões, encontro legislativo e plenárias consultivas – e principal evento político do país que acontece anualmente em março. A estimativa de expansão da economia é parte de um relatório apresentado por Li, que também fala em uma política fiscal proativa e em uma política monetária prudente. O país ainda espera criar 12 milhões de empregos em regiões urbanas em 2024 e manter a taxa de desemprego em 5,5%. O governo central projeta também gastos mais elevados em relação ao ano passado, com alta de 8,6%, somando 4,152 trilhões de yuans: detalhes sobre relatório do premiê podem ser lidos no Ginger River

O Tracking People’s Daily fez um relato detalhado sobre a fala de Wang Huning, que senta no alto escalão do Partido Comunista, e fez uma espécie de balanço dos principais feitos do PCCh em 2023.  Uma das novidades da edição das Duas Sessões deste ano é a ausência da tradicional conferência de imprensa realizada ao final do encontro pelo premiê. Como conta o South China Morning Post, esta é a primeira vez que isso acontece em três décadas. Mas o assunto que importa mesmo é se a região — e o poder legislativo do país — poderá chegar a uma solução robusta e efetiva para as dificuldades econômicas do país asiático. 

Bora aquecer a economia? Como as Duas Sessões evidenciaram, o tema tem sido uma das principais preocupações de Pequim nos últimos tempos. No final de fevereiro, o Banco Central chinês cortou em 25% a taxa de juros para empréstimos imobiliários numa tentativa de reaquecer o setor. Segundo explicou a Caixin Global, analistas e investidores vêm pedindo por um fundo de estabilização de ações gerido pelo governo para conter as significativas flutuações na bolsa de Shanghai. No entanto, as questões financeiras não parecem ser o foco de Pequim: Rogier Creemers do China Digital fez um fio explicando o que significam as “novas forças produtivas”, novo slogan do governo Xi, e comenta a priorização da economia real ao invés da financeirização da economia do país. O China Policy também publicou uma análise mais aprofundada sobre o que essa estratégia aguarda e que vale um cafezinho.

Defenestrado em julho passado, o ex-chanceler Qin Gang renunciou ao cargo de parlamentar como representante de Tianjin. A decisão ocorre quase um ano depois de ele ter sido removido da chefia da chancelaria chinesa. Ele estava longe dos holofotes desde junho de 2022 e sua saída e substituição foram confirmadas por Pequim em julho passado. Aliás, parte do trabalho das Duas Sessões é o PCCh reposicionar pessoas e escolher novos membros para cargos que ficaram vagos nos últimos tempos.

Anatomia de uma queda. Os números das bilheterias de cinema na China indicam que os anos dourados da relação com o cinema hollywoodiano podem ter passado, segundo indica esta matéria do The New York Times. Não é novidade que a indústria cinematográfica dos EUA buscou adentrar os corações e mentes nos cinemas chineses, mas o que o NYT indica é que a situação decaiu partir de 2020, com a pandemia e a crescente tensão entre as duas potências. De fato, o top 10 do país já está bem dominado por filmes domésticos e sendo um poço sem fundo para filmes de Hollywood, inclusive os grandes lançamentos (Barbie não chegou ao top 30 e nem Oppenheimer) — que parecem não ter acompanhado o marketing como é feito do outro lado do oceano. Filmes chineses como Terra à Deriva (e sua continuação), além de filmes patrióticos dominam e a ocasional comédia, como o recente YOLO, da diretora e atriz Jia Ling — que fez outro hit recente: a viagem no tempo Hi, Mom.  Para relembrar um pouco dessa dinâmica entre EUA e China pelos espectadores, vale esse episódio do nosso cafezinho com a Aline Tedeschi e o pesquisador Paulo Menechelli.

Pode pagar fiado? Nesta matéria do The Guardian, Ayhan Kose, vice-economista do Banco Mundial, fala sobre a preocupação com o crescimento das dívidas públicas ao redor do mundo e declara que a China é um ator importante para dirimir esse cenário. Ele chamou atenção para o papel de Pequim como credor nos últimos anos, à medida que a sua economia cresceu. O problema aparece no pagamento dessas dívidas – que estão majoritariamente em países com dificuldades financeiras, como já mencionamos algumas vezes. Kose disse que há uma crise silenciosa e pediu para a China ser mais ativa no sentido aliviar um pouco a pressão, visto que o país não tem sido muito caridoso com os devedores. O governo chinês argumenta que o Banco Mundial e outros bancos multilaterais deveriam começar dando o exemplo.

Menos transparência, menos jornalismo. A Sixth Tone, constantemente citada nesta newsletter, vem passando por um cerco sobre as pautas relatadas lá. Isso não é de hoje, mas este relato de Rachel Cheung traz mais detalhes de como isto está acontecendo. O problema não é exclusividade da China continental, e a Hong Kong Free Press conta como a Lei de Segurança Nacional tem ameaçado cada vez mais a liberdade de reportagem por lá, o que pode afetar inclusive veículos como o South China Morning Post. 

Sem FGTS. Os influenciadores também são vítimas da precariedade do trabalho. Este texto da Rest of World conta como a indústria cria uma estrutura complexa nas barreiras de saída para quem quer abandonar a carreira, com contratos recheados de multas altas. O país ganhou fama por ser uma incubadora de influenciadores – que assinam contratos com agências para receberem treinamento, equipamento e organizarem as #publis. Contudo, o crescimento vertiginoso da indústria, contando com aqueles “espertalhões” resultou em agências problemáticas (são mais de 24 mil agências oficiais no país) e o caso já virou problema nas cortes chinesas – com influenciadores argumentando que a legislação é muito vaga. Alguns contratos exigem livestreaming por 6h/dia, e para mulheres também significa sensualizar para os espectadores em busca de atenção. 

reforma electoral en Hong Kong

Lanches: o The World of Chinese publicou esta matéria sobre o latiao, um salgadinho apimentado, barato e gorduroso que é extremamente popular na China desde o final dos anos 1990. 

Demonstrações físicas de afeto: o beijo faz parte da paquera chinesa? A pergunta é fonte de polêmica a partir de comentários da década de 80 e é analisada em uma nova pesquisa de Hu Wenhui que reúne uma história do beijo na China. Este texto da Sixth Tone explora exatamente isso.

Devolva-me: a consciência pesou e museus alemães estão fazendo uma revista dos objetos chineses em seus acervos em busca de ítens que possam ter sido roubados da China por tropas europeias no final do século XIX. Será que retornarão ao país de origem? 

Fama, golpe, ação: A nadadora olímpica chinesa Fu Yuanhui recorreu às redes sociais depois de perceber que caíra num golpe ao alugar um táxi na província de Jilin, nordeste da China, durante um passeio. Também pelas redes ela ajudou que a administração local a ajudou a escapar da roubada. O assunto deu o que falar no Weibo. 

China na AL: no próximo dia 11, o jornalista Igor Patrick lança o livro China’s Voice in Latin American, produzido durante programa do think tank estadunidense Wilson Center.

 

Um vídeo bonito sobre a China, com toda sua diversidade. Dê o play e curta as imagens!

 

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