Edição 298 – TikTok tem 9 meses para deixar de ser chinês
再见 WhatsApp. Seguindo ordens do governo de Pequim, a Apple removeu o aplicativo de mensagens WhatsApp e Threads da App Store na China. Os aplicativos são proibidos na China continental, mas geralmente utilizados por usuários que têm acesso a serviços de VPN, capazes de burlar a localização. De acordo com uma fonte da empresa à Bloomberg, a decisão aconteceu por determinação legal do governo chinês, ainda que esteja em desacordo com as diretrizes da Apple.
Diversificação. Os veículos elétricos (EVs) são pauta quase semanal aqui na newsletter. Mas não é só de BYD e Tesla que a pauta se mantém: a Xiaomi – famosa pelos seus celulares e demais itens de Internet das Coisas, também entrou na jogada. Esta matéria do Financial Times conta como o fundador Lei Jun se meteu nessa história de carros elétricos em 2021 e “venceu” a Apple, que desistiu de lançar a sua linha de EVs esse ano. O modelo da Xiaomi, o SU7, é focado em competir com carros mais alto nível da Porsche e Tesla por um preço mais baixo que os concorrentes, como conta a CNN, e foi lançado oficialmente em março. Chamou atenção que a empresa vem atraindo ex-funcionários da Tesla na China para as suas fábricas. Um carro autônomo está nos planos também – tudo integrado com outros produtos da marca, obviamente.
Um aplicativo de rede social. Influência estrangeira. Liberdade de expressão. A receita poderia ser a mesma do caso Elon Musk versus Alexandre de Moraes, mas não: é mais um capítulo da saga geopolítica dos EUA versus China. Nesse caso, o TikTok sofreu mais um golpe dos legisladores estadunidenses, com a aprovação no sábado (20) pela Câmara e na terça (23) pelo Senado dos EUA para banir o aplicativo como parte de um pacote legislativo voltado a questões estrangeiras, incluindo Ucrânia e Israel/Gaza. O presidente Biden ratificou hoje (24). A nova legislação coloca um prazo de nove meses para a venda sob acusações de espionagem e manipulação política. Em março, a Câmara já havia aprovado um projeto de lei só sobre o TikTok e que havia travado no Senado. O pesquisador brasileiro Carlos Affonso Souza explicou o cenário para o app no contexto eleitoral dos Estados Unidos, já que o prazo inicial encerra em janeiro. Certamente vai deixar a visita de Blinken à China mais animada.
Para a surpresa de ninguém, a empresa vai levar para a Justiça e chamou o banimento de inconstitucional – citando os milhões investidos na proteção de dados no país e os influenciadores e empreendedores que usam a plataforma como principal fonte de renda. A AP também conta que o app está engajando usuários, especialmente a juventude, e investindo em propaganda na televisão. A coisa está feia (mas um pouco menos) para o aplicativo do outro lado do Atlântico também: sob o Digital Services Act, a União Europeia vai investigar o TikTok por um sistema de pontos e recompensas lançado recentemente no aplicativo.
Espionagem. A Embaixada da China na Alemanha afirmou serem tentativas de manipulação e difamação as acusações de espionagem levantadas por autoridades alemãs. Na segunda-feira (22), a Procuradoria Federal alemã divulgou a prisão de três cidadãos alemães que teriam fornecido à China dados sensíveis sobre tecnologias de possível uso militar. Segundo informações das autoridades da Alemanha, eles usavam como pretexto a realização de cooperação em pesquisas científicas para conseguir as informações críticas. Um dia depois, na terça-feira (23), o assessor de um das lideranças da AfD, partido de extrema direita alemão, também foi preso por supostamente passar informações sensíveis para serviços de inteligência da China e por vigiar dissidentes em solo alemão. Conforme o Tagesschau, as atividades de espionagem chinesas aumentaram significativamente na Alemanha nos últimos anos e passaram a incorporar instituições acadêmicas e de pesquisa científica além da já tradicional espionagem industrial.
Falando em espiões chineses, o Reino Unido também prendeu duas pessoas acusadas de passarem informações para Pequim esta semana. Autoridades chinesas rejeitaram as acusações “caluniosas” e “fabricadas”.
A menos de 100 dias dos Jogos Olímpicos de Paris, um escândalo acomete a equipe chinesa, com pelo menos 23 casos de doping entre os atletas. O caso é, na verdade, um escândalo antigo, de 2021, não esclarecido até hoje. De acordo com a NPR, atletas olímpicos de natação teriam testado positivo para exames antidoping há três anos e o que vem acontecendo agora é uma pressão para esclarecimentos e para que os atletas sejam banidos dos jogos deste ano. Diante do caso, o Órgão emitiu uma nota de esclarecimento. As consequências ainda não estão claras e precisamos esperar as próximas semanas.
Na contramão das tradições. Uma reportagem da Sixth Tone explorou uma prática incomum, mas relativamente popular na cidade de Hangzhou, capital da província de Zhejiang: casamentos matrilocais. Nesse tipo de união, ao contrário do que geralmente acontece na tradição chinesa, é o marido que passa a integrar a família da noiva, não o contrário, e o sobrenome dela é transmitido para as crianças. Segundo o casamenteiro profissional Li Jiyan, o arranjo incomum é muito positivo para os homens, inclusive financeiramente – além de compartilhar a fortuna da família da noiva, o noivo não precisa bancar todos os gastos que geralmente ficariam a seu cargo. Os casais formados são compostos por pessoas igualmente bem sucedidas, até porque Li recusa candidatos que estejam claramente em busca de ganhos financeiros.
Fotografia: na revista Vogue você encontra as imagens de Kin Chan Coedel registrando a antiga tradição de trançar dessa tribo de mulheres tibetanas.
Clube do Livro: temos mais um encontro do nosso Clube do Livro de Literatura Chinesa na segunda-feira (29), às 19h. A obra da vez é a fantasia Babel, de R. F. Kuang.
Falando em livro: a vencedora do prêmio Hugo em 2016, Hao Jingfang nos deixou ansiosos pelo seu novo livro Jumpnauts (ainda sem tradução para o português), que faz uma crítica da masculinidade tóxica em um cenário de exploração espacial e contato alienígena.
Remédio: a incrível história da participação chinesa na descoberta da medicação contra a malária nos anos 1970 é o tema deste texto.
Cinema: era para ser só mais um filme sobre a sociedade estadunidense em conflito. Mas com o clima de discussões acaloradas, o filme Guerra Civil – que conta com Wagner Moura no elenco —, também virou um debate sobre identidade entre chineses e hongconeses. Confira o texto do SCMP.
Que tal terminar a semana com um soft pop 郭子恆 Jemmy Kuo?