Imagem de recorte em material preto. O recorte tem a forma de três chaminés expelindo uma nuvem. Na nuvem está escrito, em branco, CO2.

Foto de Jas Min via Unsplash.

Edição 311 – China quer estimular economia e reduzir emissões de carbono

Vacinas chinesas e gigantes de tecnologia na China

Fazer mais com menos. Já comentamos por aqui alguns dos resultados da Terceira Sessão Plenária, mas vale se aprofundar nessa análise do China Policy. Dentre as novas diretrizes econômicas e reformas fiscais para os próximos cinco anos estão o foco em estimular a economia, controlar emissões de carbono e vários outros temas. Segundo diagnóstico dado, o comércio teve um aumento significativo nas exportações, mas as importações caíram devido à demanda interna fraca. No setor de energia, a Plenária focou na reforma do mercado de energia, controle duplo das emissões de carbono e remoção de barreiras ao consumo de energia renovável. Pequim sinalizou um compromisso com a transição energética, com um novo plano para a energia a carvão, que incluirá rotas técnicas mais limpas como biomassa, amônia verde e captura de carbono

Um ponto de atenção foi dado à supervisão política dos militares, onde a Comissão Militar Central decidiu promover uma estratégia de “retificação política” e um reformulação da seleção do pessoal militar, uma resposta a toda aquela crise de corrupção que acompanhamos por aqui uns meses atrás. Na mesma linha, houveram mudanças na liderança da saúde, com um foco renovado em hospitais públicos e leis de Respostas a Emergência e Quarentena de Saúde de fronteira.   

Calma, gente. O governo chinês publicou na última sexta-feira (26) o rascunho de um conjunto de regras que buscam definir uma identidade digital única para quem navega pela internet do país. Iniciativa conjunta do Ministério da Segurança Pública e da Administração de Ciberespaço da China, o projeto busca diminuir o número de informações pessoais que cada plataforma coleta sobre os usuários e evitar fraudes. Embora a novidade tenha causado bastante discussão (inclusive na mídia brasileira) sobre a possibilidade de redução da privacidade dos cidadãos e aumento do controle governamental, como explica o China Law Translate, não há com o que se preocupar: desde 2012, as plataformas acessíveis na China já são responsáveis por garantir a identidade real de seus usuários, além de outros dados sua como localização.

Peru e protestos contra barcos pesqueiros chineses. No começo do mês uma manifestação liderada pelo grupo ambiental Ecoagents exigiu ações contra o descarte de lixo plástico por barcos pesqueiros chineses nas ilhas dos galápagos. No protesto, realizado em frente à Embaixada da China em Lima, os ativistas pediram que o embaixador Chen Guoyou tome medidas para impedir que as embarcações chinesas despejem resíduos no oceano. A denúncia levanta o alerta de que cerca de 90 toneladas de resíduos plásticos são recolhidos nas Ilhas Galápagos, com mais de 10.000 toneladas acumuladas nas costas e manguezais da região, o que tem representado um risco enorme para a fauna local, incluindo espécies ameaçadas como flamingos, polvos e pinguins. Apesar das solicitações de reunião com a embaixada, não houve resposta até o momento, e a situação continua a exigir uma ação urgente para proteger o ecossistema único de Galápagos. Ainda que pertençam ao Equador, as ilhas também estão próximas da costa peruana.

Se arrependimento matasse. A primeira-ministra italiana Giorgia Meloni visitou a China entre os dias 27 e 31 de julho em um esforço de retomar as relações com o país asiático. Meloni, que é do partido de direita Fratelli d’Italia, mostrou alinhamento com o governo Xi Jinping em busca de um retorno à Iniciativa Cinturão e Rota. A Itália havia se retirado formalmente da Iniciativa no final de 2023, sob o próprio governo de Meloni – que criticou a escolha feita pelo governo anterior em 2019. Menos de um ano depois, parece ter se arrependido e assinou um acordo de 3 anos para implementar projetos antigos e buscar novas formas de aprofundar a cooperação, inclusive para pequenas e médias empresas. A visita de Meloni incluiu também encontros com empresários dos dois países, em companhia do premiê Li Qiang. Alguns dos temas acordados para o futuro são carros elétricos, inteligência artificial e setor aeroespacial.

Preparando a casa para o Xi. O presidente chinês, Xi Jinping, está com uma visita planejada ao Brasil em novembro, coincidindo com a cúpula do G20 no Rio de Janeiro. Segundo o vice-presidente brasileiro, Geraldo Alckmin, a visita do líder chinês vai agregar muito nas negociações sobre novos acordos ( como a Iniciativa Cinturão e Rota), conta o SCMP. Entre esse vai e vem de visitas oficiais, nota-se que as conversas têm abrangido desde o aumento do fluxo comercial e de investimentos até novas cooperações tecnológicas e científicas, além de avanços no setor de infraestrutura. Ou seja, uma agenda bem robusta que inclui a assinatura de vários acordos bilaterais e vai além do agro também. Espera-se também o anúncio de projetos e investimentos relevantes, incluindo a abertura do mercado chinês para produtos agrícolas e a possível venda de aviões da Embraer para a China.

China fora da China. Não é novidade que a diáspora chinesa constroi vibrantes comunidades fora da China. Este artigo de Chang Che para o New Yorker mostra o desejo de se reunir dentre esses imigrantes que escolheram ir para o Japão, muitas vezes usando livrarias chinesas como pano de fundo. Nos últimos anos a vontade de sair do país tem crescido entre chineses (muitos com diplomas universitários e de classe média) querendo escapar de um ambiente cada vez mais nacionalista. O destino porém tem deixado de ser os países ocidentais e está sendo cada vez mais para o vizinho Japão. O país não é bobo e tem facilitado a emissão de vistos para esses trabalhadores considerados qualificados e os jovens recém formados enfrentando um mercado bem competitivo. O texto é um belo relato de como podemos sair fisicamente de um lugar, mas espiritual e mentalmente é mais difícil se desvincular.

Disputa China-EUA também nas Olimpíadas. Não é de hoje que o debate sobre a contagem de premiações gera confusão durante os Jogos Olímpicos. Também não é coincidência o fato de as duas maiores economias do globo disputarem a liderança no quadro de medalhas: esporte de alto rendimento requer investimento. A NBC fez um texto para ajudar quem está perdido a entender por que em alguns casos a China lidera e para outros, os EUA estão à frente. Mas a participação chinesa nos jogos não se limita a isso, claro. Como sempre, tem agito nas redes sociais quando um atleta tem bom desempenho, caso da tenista Zheng Qinwen, como conta o SCMP. Ele também está presente, o nacionalismo. E esse debate ganhou as redes quando o nadador vitorioso Pan Zhanle se recusou a assinar a bandeira chinesa de um fan, para evitar que isso fosse lido como um ato desrespeitoso. Em troca, ele ofereceu tirar uma selfie e, de novo, ganhou as redes pela vitória, pela selfie, e por ter sido submetido a inúmeros testes antidoping no desenrolar de acusações a atletas chineses. Por fim, mas ainda em clima olímpico, se você está perdido sobre Hong Kong disputando em um time separado, vale ler essa reportagem da AP (sobre Taiwan, recomendamos assistir o vídeo desta edição).

reforma electoral en Hong Kong

Literatura negra na China: uma viagem no tempo, na literatura e atravessando o mundo. Isto talvez possa definir este texto de Kun Huan para o Made in China. Como as obras escritas no Harlem Renaissance chegaram a revistas em Shanghai.

Crítica: já comentamos aqui da série To the Wonder, que tem feito sucesso na China. Neste texto, Guldana Salimjan analisa a série e o contexto histórico da obra em que foi baseada (My Altay, de Li Juan) – que foi a chegada incentivada de pessoas da maioria han numa região cazaque e as políticas para a minoria. Para Salimjan, a obra de Li pressupõe uma “inocência han” sobre os resultados negativos desses assentamentos.

Festival de Veneza: não só de esporte vive o verão europeu, o famoso Festival de Cinema de Veneza começa em agosto e a Radii fez um compilado dos filmes em mandarim em exibição. A famosa atriz Zhang Ziyi é uma das juízas deste ano. 

Memes: a China e o Brasil tem trabalhado duro pela medalha na produção de memes sobre a Olimpíada de Paris. Confira alguns (e a cobertura do What’s On Weibo). O atleta de tiro turco foi também um sucesso entre chineses.

 

Um documentário sobre identidade, história e pertencimento

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