Ícone do app Tik Tok sob fundo azul-escuro.

Imagem de Alexander Shatov via Unsplash.

Edição 332 – A volta dos que não foram: o Tik Tok ficou por enquanto

Política e economia

TikTok, RedNote e os desafios da internet chinesa. Mesmo que o aplicativo chinês RedNote tenha atraído recentemente cerca de 500 mil usuários em protesto contra o possível banimento do TikTok nos Estados Unidos, a expansão global de empresas da China enfrenta obstáculos crescentes. O controle estatal, mesmo nos casos em que as chinesas estejam à frente da concorrência, gera desconfiança internacional. O The New York Times destacou que, em meio a tensões geopolíticas e à crise econômica doméstica, essas empresas enfrentam dificuldades tanto para atrair investimentos estrangeiros quanto para sustentar o crescimento interno. Segundo a reportagem, o sucesso de TikTok no exterior parece ser uma exceção em um contexto de retração global para as empresas do país. Ainda assim, plataformas como RedNote ilustram como a internet chinesa mantém seu potencial competitivo.

China atinge quase US$1 trilhão em superávit comercial em meio a desequilíbrios globais. Em 2024, o superávit comercial da China atingiu um recorde histórico de 992 bilhões de dólares, impulsionado por exportações massivas de bens como aço, veículos elétricos e equipamentos de alta tecnologia. Segundo dados oficiais, esse salto foi acompanhado por um aumento significativo no comércio eletrônico, que mais do que dobrou desde 2020. Apesar da ameaça de novas tarifas pelos Estados Unidos sob a presidência de Donald Trump, o aumento das exportações aponta para uma combinação de estocagem estratégica e uma expansão agressiva da capacidade produtiva chinesa.

Ainda que o número possa parecer positivo, especialistas apontam que o superávit expõe vulnerabilidades da economia chinesa, como baixo crescimento do consumo doméstico e riscos de deflação. Enquanto países desenvolvidos e emergentes endurecem medidas contra as exportações chinesas para proteger suas indústrias locais, Xi Jinping reafirma a importância da autossuficiência industrial e da resiliência econômica para os objetivos de modernização do país, destacando que o foco na “Prosperidade Comum” virá apenas após atender os interesses nacionais prioritários.

Internacional

As notícias da minha morte foram claramente exageradas. O drama do fim do TikTok nos Estados Unidos parece que se resolveu – com ajuda do proponente inicial de banir o aplicativo chinês, Donald Trump. Em vez de esperar a derrubada e as multas, o TikTok voluntariamente se tirou do ar no sábado (18) e deixou uma mensagem para quem abrisse o app que começava com: “Desculpe, o TikTok não está disponível agora.” e encerrava dizendo que a empresa estava trabalhando com Trump (que só assumiria o cargo de presidente dois dias depois, dia 20) para retomar suas atividades. O aplicativo também saiu das lojas da Apple e Google Play. Mas foi breve: no domingo (19), já estava de volta ao ar, ainda que não nas app stores, com uma mensagem agradecendo a Trump e mandando e-mails para patrocinadores, como conta o The Verge. Na segunda-feira (20), o CEO Shou Zi Chew participou da posse do republicano ao lado de outros chefes das big techs como Elon Musk e Jeff Bezos.O futuro do aplicativo segue incerto, já que Trump não cancelou o processo na sua Ordem Executiva – apenas deu mais prazo para o TikTok achar uma contraparte dos EUA que compre uma parte do produto.

Novos ares na relação China-EUA?  Ainda é muito cedo para pintar o que pode acontecer nos próximos quatro anos nas relações entre Pequim e Washington. Mas a primeira semana de Donald Trump à frente da Casa Branca trouxe um tom menos ameaçador do que o visto na primeira administração do republicado. Primeiro, Trump concedeu uma entrevista dizendo que estava positivo em relação a um novo acordo comercial com o país asiático. Na sequência, questionado pelo assunto, o governo chinês demonstrou por meio de seus porta-vozes que estaria disposto a negociar novos termos. O clima é de cautela já que ainda há um clima de animosidade e uma suposta mudança tarifária esperada para barrar mais produtos chineses no país norte americano.

Sociedade

Descobrir o que os chineses pensam da Iniciativa Cinturão e Rota foi o ponto de partida deste texto no The Diplomat, a partir de entrevistas com um grupo diverso de cidadãos chineses (infelizmente a pesquisa não fala quantos). Um dos pontos que apareceu foi a dúvida sobre o impacto desse engajamento externo na política e economia doméstica – especialmente benefícios para áreas mais pobres do país. Ainda assim, há otimismo com as relações do país num mundo globalizado e nos benefícios de longo prazo da Iniciativa. Outro ponto interessante é a percepção de que além do seu aspecto econômico, a BRI também tem um lado de divulgação da cultura chinesa.    

IA pode substituir tutores? Engrossando a lista de possíveis funcionalidades para inteligência artificial, esta matéria do Sixth Tone fala sobre como jovens chineses estão lotando salas de estudos onde conteúdos gerados por IA são transmitidos. O modelo é baseado em auto estudo, com cabines individuais e em tabletes, tanto a transmissão do conteúdo quanto a correção de eventuais erros dos alunos não é por conta de seres humanos, mas de máquinas. A reportagem fala que esse modelo opera ainda numa zona cinzenta, já que não há regulação para isso, e é voltada para estudantes entre 8 e 18 anos. Como de costume na China, esses espaços já atingiram números bem altos, com uma soma de 50 mil unidades desses centros de coaching espalhados pelo país.

Zheng He

Jovens: este texto da empresa de marketing chinesa Youthology, traduzido no Reading the China Dream, pinta um cenário complicado para a juventude do país nascida após os anos 1990.  

Diários: a vida das trabalhadoras domésticas em Hong Kong é o tema desta matéria do South China Morning Post. A história é narrada por elas mesmas e acompanhada por belas ilustrações. 

Realismo: o notoriamente pessimista pensador de relações internacionais Yan Xuetong escreveu sobre o novo governo Trump e as relações com a China. 

Clube do Livro: já decidimos quais vão ser os nossos livros do Clube de Literatura Chinesa para 2025. O primeiro encontro será na última segunda-feira de fevereiro, às 20h. Dia 24/02 – O Garoto do Riquixá, de Lao She. Em breve vamos divulgar as outras leituras pela newsletter do Clube.

Horóscopo: o ano da Serpente está aqui e para quem curte uma vibe esotérica, o SCMP postou as previsões para os signos do horóscopo chinês.

Só se fala em China em Washington. Não, nada de política, o tema do dia na capital estadunidense é a estreia dos pandas chineses no zoológico da cidade. Teve transmissão ao vivo, sucesso de visitação e muita cobertura midiática.

 

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