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Foto de CHUTTERSNAP via Unsplash.
Edição 334 – De tarifas à Nova Rota da Seda, EUA seguem pressionando a China
O comércio da China com o mundo segue em alta. A agência responsável pelos dados de comércio exterior publicou um crescimento de cerca de 5% nas transações no ano de 2024, mantendo a China na liderança global. Segundo a agência, novas regras que facilitam o trânsito alfandegário em portos chineses ajudaram nesse crescimento, bem como a redução de tarifas. O total de bens importados e exportados chegou a mais de 6 trilhões de dólares. A newsletter China Policy mergulha um pouco mais nos números e conta como o país está tentando diversificar cada vez mais seus parceiros comerciais e a atração de investimentos estrangeiros, de olho no governo Trump e contando com apoio dos países da Iniciativa Cinturão e Rota (BRI). Mas é bom olhar esse dado de comércio com cautela: já falamos sobre o altíssimo superávit chinês.
Falando em Cinturão e Rota e exportações, o Panamá anunciou na segunda-feira (3) que não fará mais parte da iniciativa. A decisão é amplamente atribuída, por observadores, às pressões realizadas pelos Estados Unidos a fim de diminuir o que consideram uma influência excessiva chinesa sobre o país que abriga o canal pelo qual passam 40% dos contêineres estadunidenses que trafegam entre o Caribe e o Oceano Pacífico. Pequim lamentou a decisão, reforçou o que considera uma cooperação mutuamente benéfica e reforçou a necessidade de resistir às “interferências externas”. Analistas especulam que essa mudança pode gerar um efeito cascata sobre outros países que fazem parte da Iniciativa.
Na volta a gente taxa. Na última terça-feira (4), o governo dos Estados Unidos declarou a suspensão do de minimis, regra que isenta de inspeção e cobranças alfandegárias pacotes avaliados em até 800 dólares. Existente desde 1938, a dispensa permite que vendedores internacionais, como Temu e Shein, ofereçam entregas rápidas e baratas aos consumidores dos EUA. Ninguém estava esperando por essa: no mesmo dia, o serviço postal nacional parou de aceitar pacotes enviados da China continental e de Hong Kong, aviões de carga retornaram à China, pacotes acumularam em aeroportos e consumidores receberam cobranças inesperadas. O fim de minimis agravou a decisão da semana passada em que Donald Trump anunciou tarifas de 10% sobre produtos chineses. Nesta sexta (7), a suspensão foi pausada; a justificativa foi a necessidade de garantir que as partes envolvidas consigam se adaptar ao aumento de taxas e de inspeções.
Amigos, amigos, negócios… Kash Patel, o indicado de Trump à liderança do FBI, tem ações em uma companhia que controla a Shein. Patel declarou que não pretende se desfazer das ações, avaliadas entre U$1 milhão e U$5 milhões, caso assuma o serviço doméstico de inteligência e segurança.
China no comando. Na última segunda-feira (3), a China assumiu a presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU. Durante seu mês de liderança, prometeu reforçar o multilateralismo – em contraste direto com a abordagem isolacionista dos EUA sob Trump. O embaixador chinês Fu Cong destacou o compromisso de Pequim com a governança global e foi direto ao afirmar que “nenhum país pode se isolar dos desafios globais”, mandando um recado sutil aos EUA. Apesar do clima tenso, Fu também sinalizou abertura para cooperação em áreas de interesse comum, como segurança, crime transnacional e mudanças climáticas. Nos bastidores, analistas veem a China aproveitando o vácuo deixado pelo recuo diplomático americano para fortalecer sua imagem de líder global. O embate diplomático promete esquentar, mas com toques estratégicos de pragmatismo.
A China abriu uma investigação antitruste contra o Google, uma medida que muitos interpretam como uma resposta direta à nova tarifa de 10% imposta por Trump sobre produtos chineses. O foco da investigação ainda não está claro, mas tudo aponta para o ecossistema Android e as práticas de publicidade da gigante americana. O histórico da relação do Google com a China é turbulento desde o lançamento do google.cn em 2006, passando pela retirada do buscador do país em 2010 (após disputas sobre censura e ataques cibernéticos), até sua presença atual limitada a escritórios de vendas e engenharia. Embora a empresa mantenha operações em Pequim, Xangai e Shenzhen, seus serviços, como Gmail e Chrome, permanecem bloqueados pelo “Grande Firewall”. O Google enfrenta processos semelhantes em diversos países, incluindo União Europeia, Coreia do Sul, Rússia, Índia, Turquia e até nos EUA.
Jogos Asiáticos de Inverno. A cidade de Harbin, na província de Heilongjiang, recebeu nesta sexta-feira (7) a abertura da 9a edição dos Jogos Asiáticos de Inverno. Harbin é conhecida como “Cidade de gelo” e seu Festival Anual de Gelo e Neve ocupa o noticiário todos os anos. Durante as duas próximas semanas, as competições envolverão mais de 1.200 atletas de 34 países, incluindo veteranos favoritos em suas modalidades e esportes que entrarão nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2026. É possível assistir toda a cerimônia de abertura, com comentários em inglês, aqui; e acompanhar o quadro de medalhas aqui.
Veio aí: a lista das leituras do nosso Clube do Livro de Literatura Chinesa. Tem inéditos, tem repeteco, tem livro em inglês. Vem com a gente, na última segunda do mês, às 20h.
PARE, mostre seu gato: o RadiiChina publicou uma lista de expressões da internet chinesa que inclui um pedágio para novos usuários do RedNote e términos com seus seriados favoritos.
Trens: esta série de textos do ChinaFile conta a história da China moderna pela memória da família de Zha Jianying e de suas jornadas de trem.
A livraria e espaço cultural paulistana Tapera Taperá realizou, em 2018, uma conversa sobre o livro Garoto do Riquixá – primeira leitura de 2025 do nosso Clube, um repeteco de 2022. É mais uma oportunidade pra você pensar em se juntar a nós na conversa.