Um grupo de pessoas em um prédio amplo, com uma loja da Huawei ao fundo vendendo carros

Foto de P. L. na Unsplash.

Edição 339 – Huawei sob investigação na Europa

Política e economia

Pressão deflacionária na China. O índice de preços ao consumidor na China caiu 0,7% em fevereiro em relação ao ano anterior, marcando a primeira queda em mais de um ano. Apesar do impacto sazonal do Ano Novo Lunar, os números reforçaram preocupações sobre a demanda enfraquecida e a dificuldade de recuperação do consumo no país. O setor de alimentos foi um dos grande responsáveis por puxar o índice para baixo, com os preços de vegetais frescos recuando 12,6% devido ao aumento da oferta com o fim do inverno na mudança de estação. 

Além disso, o núcleo da inflação – que exclui alimentos e energia – também caiu pela primeira vez desde 2021, com destaque para o setor de veículos elétricos, onde os preços recuaram 6%. Para conter os efeitos da deflação, Pequim vem ampliando estímulos, incluindo um programa de US$ 40 bilhões para subsidiar a compra de eletrodomésticos, mas analistas ainda esperam os próximos dados para avaliar se essas medidas terão impacto real no consumo e na atividade econômica.

Logo após a pandemia e em busca de agitar a economia, as autoridades chinesas investiram em isenções de visto para turistas. E parece que está dando resultados, conta este texto no The Diplomat. Os dados publicados pelo órgão de estatísticas da China mostram que foram quase 27 milhões de visitantes estrangeiros no país no último ano – um crescimento de 95,5% em relação a 2023. Ainda ficou atrás do pré-pandemia, com esse número sendo equivalente a 85% dos visitantes em 2019. São 54 países que agora possuem acesso total ou facilitado para a China (inclusive o Brasil), de acordo com o governo. No final do ano passado, o período de trânsito sem necessidade de visto passou a ser de 10 dias – antes eram 72h – em 21 portos de entrada. O sucesso é claro: dos 27 milhões de visitantes, cerca de 20 milhões foram sem visto. Isso também foi facilitado pelos aplicativos de pagamento mais comuns, como o WeChat e Alipay, que passaram a aceitar cartões de créditos estrangeiros desde 2023.

Internacional

Toc, toc, toc. Na quinta-feira (13), autoridades belgas revistaram mais de 20 locais na Europa, incluindo escritórios de parlamentares europeus em Bruxelas, recolheram equipamentos eletrônicos e detiveram pessoas para interrogação, conta o Le Soir. A operação policial faz parte de uma investigação de acusações de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e falsificação de documentos, envolvendo as atividades de lobby da Huawei na sede do legislativo da União Europeia desde 2021. Ao que tudo indica, nenhum membro do parlamento foi diretamente indiciado, mas 15 atuais e ex-membros estão sob investigação, duas salas no Parlamento estão lacradas para a investigação e, no momento, representantes da empresa estão proibidos de acessar o prédio. Segundo a matéria do Politico, os lobistas estariam com dificuldades de acesso a autoridades europeias após as crescentes críticas e acusações de espionagem aos equipamentos de 5G da Huawei. A empresa chinesa publicou uma nota afirmando que tem tolerância zero para práticas de corrupção. 

Entre tapas e beijos, um possível encontro? Desde seu retorno à Casa Branca, Donald Trump tem sinalizado interesse – do jeitinho dele – em negociar diretamente com Pequim. Segundo fontes diplomáticas, Trump pode visitar a China em abril. O movimento acontece apesar das recentes tensões comerciais, incluindo novas tarifas impostas pelos EUA e sanções retaliatórias da China contra empresas estadunidenses. Enquanto Trump teria expressado desejo de receber Xi Jinping em Mar-a-Lago (sim, no resort), Pequim, por outro lado, prefere um encontro em um ambiente mais formal. Ainda não está claro até que ponto as negociações sobre essa visita avançaram, mas diplomatas chineses indicam que o diálogo com Washington tem sido mais difícil do que na administração Biden, devido às mudanças políticas internas nos EUA.

Bye EUA, olá Brasil! O prazo para a solução do imbróglio TikTok nos Estados Unidos é 5 de abril – ou seja, já está logo ali. No último domingo (9), o presidente Donald Trump afirmou que as negociações de venda das operações do app no país são promissoras. Já contamos por aqui que um dos possíveis grupos envolvidos na negociação contaria com empresas como Oracle e Microsoft trabalhando em uma oferta sob orientação da Casa Branca. Em reação à perda do mercado estadunidense, a ByteDance tem acelerado a expansão internacional da TikTok Shop, sua plataforma de vendas. Entre os seis países para qual o produto está expandido está o Brasil: o aplicativo deve ser lançado a tempo das vendas de Dia das Mães, em 11 de maio. Segundo estimativas, o aplicativo poderia ocupar entre 5% e 9% do e-commerce brasileiro nos próximos três anos e, segundo analistas consultados pelo site InvestNews, a combinação de entretenimento e comércio torna essa novidade “potencialmente disruptiva”.

Sociedade

Moda, influência e diplomacia cultural. Pequim tem apostado cada vez mais na moda e nos influenciadores digitais para reforçar sua imagem global. O destaque da vez foi Li Ziqi, que reapareceu na Gala do Festival da Primavera vestindo uma peça que incorporava 13 técnicas tradicionais de patrimônio cultural. O evento reforça uma tendência: o uso de criadores de conteúdo e da estética tradicional para projetar a cultura chinesa no exterior. Cidades como Hangzhou já trabalham com influenciadores para promover turismo e artesanato, mas o movimento levanta dúvidas. O texto de Xing Jiahui traz alguns questionamentos, que incluem a escolha do que é um bem cultural tradicional chinês, a simplificação de processos artesanais complexos e cheios de história em conteúdo rápido e raso, e questiona se a estratégia se tornará um soft power efetivo e orgânico ou é apenas um branding cultural bem embalado criado pelo Partido.

Ser profissional do livro é um negócio muito arriscado em Hong Kong. Pessoas editoras e livreiras são desaparecidas, livrarias são assediadas ao ponto de fecharem. Ainda assim, é uma sociedade leitora: segundo uma pesquisa de 2024 da Hong Kong Publishing Professionals Society, 69% dos respondentes afirmaram ter o hábito de ler livros impressos – em comparação, a Retratos da Leitura no Brasil indicou que no mesmo ano 53% dos entrevistados não leram nem parte de um livro (impresso ou digital) de qualquer gênero, nos três meses anteriores à pesquisa. E onde os leitores honconguenses compram seus livros? Como conta a newsletter Lingua Sinica, 80% das livrarias de Hong Kong fazem parte da Sino United Publishing (SUP), operada por um órgão local responsável pela relação da região com a China continental. Vale ler o post para entender como a relação entre a SUP e o Partido Comunista da China contribuem para a deterioração da liberdade de imprensa local.

Zheng He

 

Corujão: uma das novas tendências entre jovens na China é a retomada das lan houses ou internet cafes – onde os millenials jogavam Counter Strike e acessavam a internet nos anos 2000. Na sua segunda vida, os estabelecimentos que sobreviveram agora viraram locais chiques para e-games ou para estudar, conta a Radii China.    

Mahjong: Parece história de ficção, mas a revista Zolima City conversou com um artesão de peças de mahjong que, muito ocupado com o trabalho, nunca aprendeu o jogo, que é Patrimônio Cultural Imaterial de Hong Kong.

 

A China é um mercado fundamental para a fabricante de veículos elétricos Tesla, de Elon Musk. Este vídeo da estadunidense CNBC explora como essa dependência pode contribuir (de modo positivo ou negativo) para a relação entre os dois países.

 

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