Official White House Photo by Shealah Craighead)

Edição 357 – Trump diz que vai à China em “futuro não muito distante”

Política e economia

Quebrando um novo (próprio) recorde, a China anunciou o início da construção do que promete ser a maior hidrelétrica do mundo. Segundo autoridades do governo, uma barragem começou a ser construída no planalto tibetano para dar lugar a uma usina com capacidade de 300 bilhões de kilowatt-hora. A iniciativa supera a também ambiciosa construção da usina das Três Gargantas, no rio Yangtzé, em 2014, no sul do país asiático. A notícia, anunciada pelo primeiro-ministro Li Qiang, vem com gosto que mistura entusiasmo com riscos. Por um lado, o mercado financeiro reagiu bem à iniciativa, já que um custo estimado de US$ 170 bilhões (cerca de R$ 945 bilhões), promete aquecer a economia da China e, portanto, do mundo. Porém, isso não se dará sem impactos humanitários e ambientais, como costuma acontecer na construção de obras dessa dimensão. 

Entre os que levantaram alerta sobre essas preocupações estão os governos da Índia e de Bangladesh, que fazem fronteira com a região onde a usina será construída na China. O principal alerta é o impacto para as populações que vivem ao longo do curso do rio, nos territórios desses dois países. Organizações Não Governamentais (ONGs) também fazem coro ao acrescentarem riscos a um dos mais ricos e mais diversos ambientes do planalto tibetano. A China, claro, nega danos e afirma que a usina ajudará na demanda por energia no Tibete e no restante do país. A estimativa é que as operações da hidrelétrica comecem ainda em 2030. 

A Lei de Proteção de Dados da União Europeia segue causando dores de cabeça para empresas de aplicativos chineses. Além do DeepSeek, recentemente banido na Alemanha, as atenções agora se voltam para o e-commerce AliExpress, o WeChat e, é claro, o TikTok. Queixas foram apresentadas contra as donas dos apps no último dia 17 pela ONG austríaca Noyb, que já teve vitórias em casos similares contra empresas dos Estados Unidos e, recentemente, representou casos contra a OpenAI e Meta. Registradas na Bélgica, Holanda e Grécia, as queixas afirmam que as empresas não teriam atendido solicitações de acesso a dados em acordo com a lei europeia.

Nem toda espionagem vem de fora. O Ministério de Segurança do Estado da China precisou dar uma chamada em servidores públicos nesta quinta-feira (24). De acordo com o alerta, novatos deslumbrados com seu acesso a segredos de estado estariam expondo informações sensíveis em redes sociais. O documento cita o exemplo de Jiang, um jovem recém-contratado pelo governo que foi se exibir no WeChat Moments com uma foto na qual segurava um documento confidencial – vazando assim o conteúdo da primeira página. Outros vacilos exemplares foram o upload de dados em ferramentas de inteligência artificial e conversas sobre assuntos confidenciais realizadas em proximidade de familiares. No início do mês, o ministério havia lançado um comunicado sobre os perigos do contato com agentes estrangeiros, relatando episódios recentes e bem-sucedidos de espionagem, como o de um empregado em uma província “seduzido” por uma espiã internacional que depois o chantageou com os registros do caso.

Internacional

Afinal, Trump vai ou não vai à China? Enquanto as relações comerciais do Brasil com os EUA andam bem azedas, o presidente Donald Trump vem “suavizando” seu tom contra o país asiático numa tentativa de viabilizar um acordo com Pequim. Neste contexto, na última quinta, o republicano afirmou que deve viajar em breve à China, onde deverá se reunir com Xi Jinping. Trump não especificou porém quando isso aconteceria, mas falou em “um futuro não muito distante”. Além de um possível acordo, a relação China-EUA ganhou destaque depois que a administração Trump cortou especialistas no país asiático do departamento de Estado. A iniciativa gerou até perguntas duras da deputada Pramil Jayapal à vice-secretária de Estado dos EUA, Allison Hooker. Perguntada sobre o tamanho do departamento ligado a China do governo estadunidense, a sub-secretária não soube dizer. Vale ver o vídeo para entender melhor o debate. 

Na última segunda (21), o governo chinês confirmou que um funcionário do banco americano Wells Fargo não pode deixar o país. Nascido em Shanghai, mas com nacionalidade americana, Chenyue Mao é baseado em Atlanta, no estado da Geórgia. Ao confirmar que Mao não pode deixar a China, o governo local divulgou que Mao estaria envolvido em uma investigação criminosa, sem que mais detalhes tenham sido divulgados. Nos EUA, o Wells Fargo afirma acompanhar o caso de perto, mas não fez mais comentários. O caso reascende o temor de empresas estrangeiras enviarem funcionários à segunda maior economia do globo, já que falta transparência sobre acusações, investigações e como o caso pode se desdobrar. Pequim, contudo, fala em “caso isolado” e reforça que em solo chinês é necessário seguir legislação local.

Sociedade

It takes a village, não é? As vezes é necessário um vilarejo para criar felinos, ou seriam felinos para revitalizar um remoto vilarejo? O Sixth Tone conta como Zhou Hewei decidiu voltar para sua pobre e abandonada vila natal no norte do país para ensinar arte. O que ele fez, na verdade, foi repovoar o vilarejo de Dongping com gatos. Eles são hoje mais de 200 perambulando pelas ruas de pedra locais. Além disso, são os gatinhos que estão estampados na arte de Zhou, em pinturas de muros de sua pequena vila, Dongping, no norte do país. Se você não resiste à fofura felina, vale ler a matéria e assistir ao vídeo linkado nela. 

A IA chegou pra ficar – mas deu uma saída. O site The Verge publicou um apanhado de informações apuradas por outros veículos sobre um assunto que foi discutido por jovens durante o gaokao, mas não foi oficialmente anunciado por ninguém: durante os dias de prova do tradicional mega vestibular, entre 7 e 10 de junho deste ano, diversos serviços de inteligência artificial foram desativados nas plataformas chinesas. As funcionalidades mais afetadas parecem ter sido as que permitem fotografar um texto para gerar respostas. Como contamos por aqui, em 2025 o governo esteve especialmente preocupado em coibir o uso dessas tecnologias em fraudes envolvendo o gaokao, tratando esses casos com a mesma gravidade que outros crimes contra a estabilidade social.

Zheng He

História em fotos: Em um momento de excepcional desacordo entre China e EUA, uma exposição em Shanghai celebra a cooperação entre os dois países durante a Segunda Guerra Mundial. Veja algumas imagens aqui. 

E o bambu? Andaimes de bambu usados na construção civil são as mais recentes vítimas das investidas do governo de Hong Kong contra tudo que distingue a região. O South China Morning Post conta um pouco da história dessa peculiaridade local que deve desaparecer logo menos. 

Arquitetura: A Radii mostra imagens impressionantes do trabalho de Ma Yansong. Nascido em Pequim e celebrado na Europa, ele mistura filosofia chinesa e arquitetura moderna em suas criações.

 

Há uma década, Pequim lançava o Made in China, plano que buscava lançar a China à corrida pela liderança tecnológica mundial. Neste vídeo, o SCMP faz um apanhado das mudanças promovidas pelo plano que atingiu mais de 85% das metas estabelecidas.