fotografia de parte interna do aeroporto de Daxing, com design aberto e luz natural

Foto de Aleksandr Eremin via Unsplash.

Edição 367 – Governo chinês lança visto especial para profissionais de STEM

Política e economia

Se não quiser, tem quem queira. Começou a valer em 01 de outubro o inovador visto K, que permitirá a jovens imigrantes qualificados ficarem na China sem necessariamente ter uma oferta de um empregador no país. Anunciado em agosto, a expectativa de Pequim é atrair talentos da área de STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática). Contudo, o visto não veio sem críticas domésticas e xenofobia por o que está sendo visto como tratamento preferencial a estrangeiros, conta a CNN. Nas redes sociais, a preocupação é direcionada ao mercado de trabalho para jovens chineses recém saídos da universidade. Já contamos algumas vezes que a situação tem causado ansiedade, visto que atingiu 17,8% em julho e subiu para 18,9% em agosto entre aqueles de 16 a 24 anos. O Global Times publicou um editorial para tentar conter as críticas e fortalecer o argumento de que o visto é uma sinalização de que a China está aberta (e confiante) para colaborar com outros países e ter um papel estratégico no mundo. 

O timing? Trump anunciou há duas semanas que o visto H1-B passará a exigir que as empresas paguem US$100 mil para contratar com esse formato sob o argumento de incentivar mais trabalhadores nacionais. O H1-B é bastante utilizado para a contratação de estrangeiros considerados “altamente qualificados”, com 70% dos vistos sendo concedidos a indianos. As big techs e o Vale do Silício em geral são grandes adeptas do H1-B. As exigências do visto K ainda não foram anunciadas, e devem vir depois do feriadão que vai do dia 01 ao 08 de outubro. 

Feito em casa. Pequim anunciou novas regras para definir o que é considerado produto Made in China nas licitações públicas. A partir de janeiro de 2026, bens produzidos localmente terão uma preferência de 20% nos preços em disputas por contratos do governo. A medida também garante tratamento igual para empresas estatais, privadas e estrangeiras, proibindo órgãos públicos de discriminar fornecedores com base na nacionalidade ou tipo de capital. Segundo analistas, as mudanças buscam restaurar a confiança de investidores estrangeiros após críticas de falta de transparência e favorecer a adaptação de multinacionais que produzem no país. A Câmara de Comércio da União Europeia na China, porém, vê o movimento como tentativa de estabilizar o investimento externo sem abrir mão do protecionismo industrial que marca o plano Made in China 2025.

O sucesso dos EVs chineses não é para todos. Uma guerra de preços silenciosa e feroz está redefinindo as regras do jogo. Uma reportagem da CNN conta como o boom dos veículos elétricos na China criou gigantes globais como a BYD, mas também gerou um excesso de oferta que mergulhou o setor em disputas de preço. Incentivadas por anos de subsídios governamentais, as montadoras agora disputam ferozmente espaço, com lucros em queda e fornecedores sob forte pressão. A reportagem conta o caso da Ji Yue, que quebrou em pouco tempo quando a promessa era de que ela seguisse os mesmos caminhos promissores da BYD. Diante dessa nova realidade, Pequim resolveu intensificar a regulação contra essa competição voraz. Seria o novo crackdown do país?

Internacional

Banida nos EUA e na Europa desde 2018, a Huawei passou a mirar países em desenvolvimento para expandir seus negócios de nuvem e inteligência artificial, conta a Rest of World. A empresa chinesa já ajudou a construir data centers na Argélia, Egito, Nigéria e Filipinas, além de anunciar projetos no Paquistão e em universidades da Nicarágua. Com preços baixos e presença de décadas em mercados emergentes, a Huawei busca disputar o futuro da infraestrutura de IA, estimado em US$200 bilhões anuais até 2028. Mas a aposta vem acompanhada de riscos: governos que escolhem a chinesa podem sofrer pressão de Washington, que lançou um plano para exportar sua “pilha completa” de IA, chips, softwares e modelos, como forma de limitar a influência de Pequim.

Não bastam apenas vistos para a boa colaboração científica. Este texto do Dialogue Earth discute como a China lidera o desenvolvimento de tecnologia verde, e como muitas das suas empresas agora buscam expandir para o mercado internacional também como forma de escoar a produção. Para além das empresas, o governo chinês também se posiciona na liderança de uma transição verde, como conta esta matéria na Wired. Contudo, países do Sul Global vêm trazendo críticas para Pequim sobre a falta de interesse chinesa na transferência de tecnologia para esses equipamentos essenciais na transição para a energia renovável e para abrir possibilidades de pesquisa para novas soluções. Para muitos é até estranho, considerando como a China se beneficiou da transferência de tecnologia durante a Era Mao e durante a abertura econômica.

Sociedade

Infância e IA na China: A adoção de inteligência artificial na educação infantil virou uma indústria bilionária na China. De cães-robôs que ensinam inglês a tablets que corrigem provas em segundos, as empresas estão se estapeando por este mercado, que, ao mesmo tempo que é estimulado pelo governo, também encontra pais dispostos a investir em desempenho escolar. Pequim, por exemplo, tornou obrigatória a educação em IA nas escolas, enquanto outras províncias planejam treinar professores e até usar “terapeutas virtuais” em cabines escolares. Pesquisadores, no entanto, alertam para riscos de dependência tecnológica, ampliação de desigualdades entre áreas urbanas e rurais e perda de habilidades críticas de aprendizagem. Apesar do entusiasmo, educadores apontam que a adoção ainda tem caráter performativo, sem transformar de fato os métodos de ensino. Muitos pais enxergam a tecnologia como alternativa mais barata que tutores particulares, mas críticos destacam que, em vez de reduzir desigualdades, a IA pode reforçá-las, enquanto alunos urbanos testam robôs de ponta, crianças em áreas rurais continuam limitadas a telas e longas horas de estudo solitário. 

Terra de grandes números, a China agora chama atenção pela alta do mercado de “filhos de aluguel”. Além do aumento da expectativa de vida, os números chineses mostram que cada vez mais os filhos estão morando longe dos pais, trazendo um desafio novo para a tradição de que os filhos costumavam trazer pais mais velhos para morarem com suas novas famílias. De acordo com reportagem da Sixth Tone, mais de 310 milhões de chineses têm 60 ou mais anos desde o fim de 2024 e mais da metade deles não moram com os filhos. Dados do governo apontam que em algumas regiões essa realidade representa 70% dos idosos. Diante disso, uma alternativa vem surgindo, como o aluguel de filhos: pessoas que prestam serviços a idosos que necessitam de tarefas como visitas a hospitais ou compras nos mercados. Esse serviço tem gerado preocupação já que é feito de forma não regulamentada e por meio de aplicativos e redes sociais. A reportagem mostra que os custos variam entre 200 e 500 yuans (R$150 e R$375). Os serviços não param por aí e há até a oferta de pessoas para fazer companhia aos mais velhos. Será que a moda pega?

E por falar em números grandes, o feriadão de outubro está a todo vapor. Todo ano, olhar para os números de viajantes nos feriados chineses é um bom indicador de como anda a economia do país. A Reuters conta que no primeiro dia da “semana dourada”, quando se celebra a data de fundação da República Popular da China (e que esse ano também coincidiu com o feriado do Festival da Lua e virou oito dias de feriadão), houve recorde com 23,13 milhões de viagens, uma alta de 8% em comparação ao mesmo período de 2024. Para quem precisa ver para crer, este vídeo do China Insider dá uma ideia de como é viajar de trem na China nesta data. Nos roteiros, o Radii China mostra porque muita gente decidiu trocar grandes cidades por “pequenas preciosidades” do interior.

Zheng He

Essa é a galera do avião: esta matéria do The World of Chinese mergulha um pouco na história e trabalho das comissárias de bordo na China. A história passa pela carreira vista com glamour (não muito diferente de outros lugares do mundo), a pressão e o maior acesso a viagens de avião entre cidadãos comuns – mas nunca deixa de lado a  pressão do “dever de ser bonita” e os estereótipos de gênero.  

Artigo acadêmico: o time do DeepSeek mandou muito bem e publicou um artigo na revista Nature sobre o desenvolvimento do seu modelo R-1, aquele que chegou para abalar os corações do mundinho de IA em janeiro deste ano.  

Restauração: a pagoda de madeira mais alta e mais antiga da China vai ganhar uma restauração. O monumento, construído em 1056 (durante a dinastia Liao) tem 67 metros de altura e vai ser restaurada quase 1000 anos depois de ser construída no condado de Ying, província de Shanxi, norte do país. Apesar de ainda estar de pé, a estrutura está comprometida e não permite que ninguém suba nela. 

Imigração com sabor original:  Chinatown original: o South China Morning Post conta como imigrantes chineses levaram sabores autênticos de seu país para as ruas de Paris. Se estiver passando por lá, vale conferir.

 

Achou que estava difícil de se aposentar? A banda de jazz mais velha do mundo toca todas as noites no Peace Hotel em Shanghai. E é velha de antiga (tocando todas as noites desde 1979), mas também na idade dos integrantes — uma média de 82 anos.