Newsletter 032 (PT)
Destaques sobre política, sociedade, economia e cenário internacional da República Popular da China.
Foi um ano intenso para o setor de tecnologia na China: o SCMP fez uma retrospectiva das notícias dos últimos doze meses. Foram dados passos importantes para as marcas chinesas de telecomunicações, para a inteligência artificial (principalmente no mercado doméstico) e para o e-commerce, com novas empresas entrando no jogo. Além disso, o desenvolvimento de carros autônomos segue em alta. Mas nem tudo são flores. Com a guerra comercial, causalidades já chegaram à área, como a questão da ZTE. Uma das últimas notícias preocupantes é o iminente colapso da Ofo, uma das maiores startupsde aluguel de bicicletas sem doca no país. Alguns argumentam que a empresa nunca teve um modelo de negócios sustentável desde o seu começo.
De acordo com dados de expectativas de mercado e condições de negócio coletados pela Bloomberg, dezembro marcou o sétimo mês consecutivo de desaceleração da economia chinesa. Para a publicação, tanto a guerra comercial com Washington como a recente queda no nível interno de consumo e a conseguinte redução de atividades industriais domésticas contribuíram com a continuidade de expectativas negativas e, subsequentemente, com a manutenção de uma performance econômica abaixo da média para um país acostumado a taxas de crescimento elevadas.
Ao contrário do que esperavam alguns analistas, porém, o Banco Central da China negouque irá se engajar com políticas monetárias expansionistas em 2019 para combater inseguranças comerciais e a desaceleração da economia do país. Para a instituição, os riscos enfrentados hoje pela economia chinesa são controláveis e não há razão para grandes pacotes de estímulo. “Ao invés disso, trabalharemos com ajustes direcionados, controles macroeconômicos e discrição”, declarou Sun Guofeng, chefe do departamento de política monetária do banco.
A China é um dos países que mais avança no desenvolvimento da tecnologia espacial no mundo. Não é à toa que a ficção científica floresce no Império do Meio. Além de desenvolver satélites para comunicação com extraterrestres (investimento que a NASA foi forçada a abandonar por restrições orçamentárias) e de estar enviando um satélite para explorar o outro lado da Lua que não é visível da Terra, também está avançando além: o país já tem um plano de até 2030 possuir uma base lunar e iniciar uma nova era de exploração do espaço.
A detenção da Diretora Financeira da Huawei em Vancouver no início do mês segue repercutindo nas relações sino-canadenses. Na sexta-feira, Sarah McIver, cidadã do Canadá detida pelas autoridades chinesas sob a acusação de trabalhar ilegalmente como professora de inglês, foi liberada e já retornou ao seu país. No domingo, porém, juízes chineses concordaram em julgar novamente Robert Lloyd Schellenberg, outro canadense preso na China, pelo crime de tráfico de drogas. A nova audiência — Schellenberg já foi condenado a 15 anos de detenção em regime fechado em novembro deste ano — pode sentenciar o norte-americano à pena de morte e deve contribuir com a escalada da tensão entre Pequim e Ottawa.
O Beidou — sistema de geolocalização chinês concorrente do estadunidense GPS — acaba de estender sua cobertura para além da Ásia, chegando a regiões da Europa e da África. O objetivo da tecnologia, que começou a ser desenvolvida nos anos de 1990 de modo a reduzir a dependência da China em alternativas estrangeiras, é ir ainda mais longe e cobrir todo o planeta até o fim desta década. Para além de uso civil, a ferramenta também provê serviços de navegação e posicionamento para o exército chinês e para a estrutura sensível e estratégica de Pequim espalhada pelo mundo através de projetos como o One Belt One Road.
Em 2019 a China vai se tornar o segundo maior contribuinte dos custos da ONU, cobrindo 12% da conta da organização (antes era 7,92%), aproximadamente 5 bilhões de dólares. O primeiro lugar é dos Estados Unidos, com 22%, mas muitos acreditam que a administração Trump deve em breve reduzir a contribuição. O segundo lugar antes era do Japão, com 9,68% (agora cai para 8,56%). O novo apoio chinês é bem-vindo pela ONU, dado o provável corte dos EUA, e faz parte da presença chinesa cada vez maior na organização.
A crescente febre millennial por abacates no mundo, e sobretudo na China, tem agravado o estresse hídrico de alguns países latino americanos — é a conclusão de Alejandra Cuéllar em seu mais recente artigo para o China Dialogue. De 153 toneladas para mais de 32.000 toneladas em cinco anos, o “ouro verde” se beneficiou de acordos comerciais da China com Chile, México e Peru, principais países exportadores da fruta, e tem ficado cada vez mais popular em cidades como Pequim, Xangai e Guangzhou. A CGTN fez uma reportagem sobre o fascínio pela fruta no país. Como se o desflorestamento e uso indiscriminado de água já não fossem razões alarmantes o suficiente, há também o envolvimento de cartéis no México para o cultivo ilegal da fruta em reservas ambientais.
Mais uma da série “Parece Ficção, Mas É Só A China”. De acordo com artigo do The Global Times, escolas chinesas na região de Guizhou passaram a rastrear a localização exata de seus alunos através de uniformes inteligentes equipados com chips de modo a incentivar melhores taxas de presença em sala de aula. Somada a tecnologias de reconhecimento facial em câmeras de vigilância, a novidade possibilita manter controle de quando cada aluno entra em sua escola e, além disso, ativar um alarme caso ele deixe o campus mais cedo que o previsto. O The Verge afirma que os uniformes são também capazes de detectar quando um estudante cai no sono e, ainda, de servir como carteira para pagamentos digitais.
Em 2015, um proeminente advogado da área de direitos humanos foi detido na China. Wang Quanzhang, junto com cerca de outros 200 ativistas e advogados da área, foram aos poucos sendo encaminhados para processos judiciais, prisões e afins. O julgamento de Wang ocorreu essa semana, no dia 26 de dezembro. Sua situação ganhou destaque no Ocidente devido ao fato que a sua família não teve qualquer acesso a ele por alguns anos. Sua esposa foi proibida de ir até Tianjin, onde ocorreu o julgamento. Wang foi acusado de subverter o poder do Estado, devido à sua atuação com o Falun Gong, um movimento espiritual muito ativo nos anos 90, mas que foi notoriamente erradicado pelo governo chinês ao final da década sob acusações de ser um culto. O veredito ainda não foi anunciado.
As vilas coletivas tornaram-se um símbolo da China comunista sob Mao. Eram lugares rurais onde a propriedade era compartilhada, bem como existia acesso a saúde e moradia sem custos, educação oferecida pelo Estado, dentre outros. Foram basicamente extintas durante a abertura econômica. Num longo texto, a Sixth Tone investiga como três das vilas sobreviventes estão hoje em dia. As desigualdades também existem. Dos que saíram e voltaram, muitos navegam em nostalgia e outros têm dificuldade de retornar ao coletivo após viver sob a pressão do individualismo.
Podcast: quer saber um pouco mais sobre a história da Ofo e o que estava acontecendo na empresa? O Pandaily faz um episódio no podcast TechBuzz China sobre o surgimento das bicicletas compartilhadas. É dividido em duas partes. O primeiro sobre a Ofo e o segundo sobre a Mobike.
Livros: que tal adicionar nas resoluções de Ano Novo a leitura de alguns livros chineses? O What’s on Weibo preparou uma lista com os 25 melhores livros de ficção do país (a maioria com tradução em inglês!). Não curte muito ficção? Vale dar uma olhada na listados 30 melhores livros de não-ficção para entender a China.
Comida: as refeições dos imperadores chineses não eram tão opulentas como se costuma imaginar, como discute um artigo do Inkstone News nesta semana. Uma dieta balanceada e o medo diário de envenenamento ditavam a rotina na cozinha da Cidade Proibida.
Fotografia: esculturas de gelo de tirar o fôlego em um festival em -35°C é uma das formas de descrever o Festival de Gelo e Neve de Harbin. Outra maneira é olhar mais de perto as pessoas que trabalham dia e noite para fazer isso acontecer. Aqui você pode conferir algumas imagens e, se quiser algo mais interativo, vale conferir o vídeo que compartilhamos sobre o festival na nossa página no Facebook.