Newsletter 033 (PT)

Destaques sobre política, sociedade, economia e cenário internacional da República Popular da China.

A China se tornou o primeiro país do mundo a colocar uma sonda no lado oculto da Lua—  aquele lado que não é visto da Terra. A Chang’e 4 vai explorar a superfície e analisar os minerais e terreno do satélite. Inicia-se, assim, “uma nova era da exploração espacial”. A expedição pode oferecer explicações do porquê os dois lados diferem tanto em seu relevo. O jornal Nexo fez um episódio do podcast “Durma com Essa” (em português) sobre o tema.


A Apple está com problemas na China. Porém, parece que são problemas acumulados que vieram cobrar a conta agora e não — como se especulava — que sejam resultantes da guerra comercial sino-estadunidense. O crescimento da empresa no Império do Meio está lento e existem opções locais que se encaixam melhor no contexto das necessidades e dos custos do usuário chinês. Ser um gigante em boa parte do mundo não garante também ser um gigante na China.


 Um renomado professor de economia chinês deu um discurso polêmico em um evento na Universidade do Povo, em Pequim. Ele afirma que o crescimento real anual da economia da China é menor do que os dados divulgados: em torno de 1,67%, em vez dos 6,5%. Seu principal argumento é que para combater essa desaceleração o governo de Pequim precisa garantir a proteção da propriedade privada, repensar o crescimento baseado em consumo e avaliar as políticas financeiras para regular a especulação. Finaliza, ainda, com uma recomendação de que o número de funcionários públicos no país deve ser reduzido.


 A China aprovou no último mês novos projetos de construção de linhas de trem de alta velocidade avaliados em cerca de 125 bilhões de dólares americanos. A decisão é vista como uma maneira de não somente combater a desaceleração da economia chinesa através da expansão de investimentos públicos como, ainda, de alavancar a posição do país frente ao conflito comercial com Washington. Somente neste ano, os chineses pretendem construir quase 7.000 quilômetros de novas linhas ferroviárias, 3.200 dos quais de alta velocidade — um aumento de mais de 40% em comparação ao ano passado.

Em discurso oficial em ocasião da comemoração dos quarenta anos da mensagem enviada em 1979 da China continental à Taiwan clamando pela reunificação e pelo fim do confronto entre Pequim e Taipei, Xi Jinping declarou que a ilha desfrutará de paz e independência política sob o modelo de Um País, Dois Sistemas do Partido Comunista Chinês. “Diferentes sistemas políticos não são um obstáculo à unificação, e muito menos uma desculpa para separatismo”, afirmou o presidente. Xi ainda assegurou que a China se reserva ao direito de usar quaisquer meios, inclusive militares, para garantir a unificação com os taiwaneses. “A reunificação é uma tendência histórica e o caminho certo, a independência de Taiwan é um beco sem saída”, completou.

Em resposta, Tsai Ing-wen, a presidente de Taiwan, disse que a democracia é um valor e um estilo de vida que o povo taiwanês valoriza e que, portanto, a China precisa aceitar a ideia de uma República da China (nome oficial da ilha) independente. Em outra declaração, Tsai afirmou ainda que Taiwan está se preparando militarmente para se defender caso a China recorra à força para garantir a unificação, mas que conta com a ajuda de outras nações no cenário de um conflito aberto. “Esperamos também que outros países que valorizam a democracia e se importam com Taiwan possam trabalhar ao nosso lado”, declarou.


Representantes da China e dos Estados Unidos se reuniram pela primeira vez após a trégua de 90 dias declarada durante o encontro da cúpula do G20 na Argentina para discutir a guerra comercial em curso entre os dois países. Para analistas, é improvável que um acordo pondo fim ao conflito seja tomado tão cedo. Ainda assim, espera-se que a reunião, que começou nesta segunda-feira em Pequim, inicie a construção das bases de uma solução para a hostilidade econômica entre as duas maiores economias do mundo. Dentre os tópicos da discussão, devem se destacar o Made in China 2025, política de modernização industrial chinesa que, para Washington, rompe com as regras da Organização Mundial do Comércio, e o polêmico caso da prisão da Diretora Financeira da Huawei no Canadá em dezembro sob ordens da polícia estadunidense.


Muito se fala sobre os financiamentos de projetos de infraestrutura no continente africano (inclusive na Zheng He desta semana tem um vídeo sobre). Um texto novo discute como governos mais pobres do que a China  —  ou seja, boa parte do mundo — podem negociar melhores acordos. São quatro dicas com base na análise de uma pesquisadora de Oxford, e que fariam bem de serem também estudadas no Brasil: não realizar negociações isoladamente de outros órgãos, trazer avaliadores externos ao governo, manter a mídia por perto e informada, e expandir conhecimento nos países sobre a China, principalmente através de pesquisa acadêmica.

Saiu a lista dos filmes mais vistos na China em 2018, junto com os 5 maiores fracassos. Não é novidade que Hollywood tem dificuldade em acessar o mercado cinematográfico chinês (e vice-versa). Já falamos disso aqui. Os blockbusters hollywoodianos aparecem apenas da metade do ranking para baixo e praticamente são apenas de super-heróis (Avengers, Venom, Aquaman). Vale destacar que o filme mais caro já feito na China, o épico de fantasia Asura, foi o maior fracasso do ano. O filme pretendia se tornar uma trilogia no estilo “O Senhor dos Anéis” — inclusive com equipe que participou dos filmes. Mas não deu bem certo.


 A China é a maior produtora e consumidora de tabaco do mundo e o número de fumantes no país alcança a marca de 315 milhões de pessoas — um grupo quase tão grande quanto toda a população dos Estados Unidos da América. Em artigo da Inkstonededicado ao tabagismo na nação mais populosa do planeta, outros dados também impressionam. Se, por um lado, mais de 50% dos homens chineses são fumantes, somente 3% das mulheres do país fumam. Em 2016, a indústria do cigarro lucrou cerca de 170 bilhões de dólares americanos na China e pagou mais de 140 bilhões em impostos. Ao mesmo tempo, doenças decorrentes do fumo matam milhões de chineses todo ano e geram uma enorme pressão sobre o sistema de saúde do país. O governo central de Pequim, por sua vez, preocupa-se com os problemas gerados pelo uso disseminado de cigarros, mas se vê paralisado pelas dificuldades em combater um hábito de tamanha expressão na sociedade chinesa.


Quando o cientista He Jiankui anunciou, no mês passado, o nascimento de bebês editados pela tecnologia CRISPR em um experimento conduzido por ele e sua equipe na Universidade de Ciência e Tecnologia do Sul da China, muitos se perguntaram sobre como reagir ao que parecia ser uma evidente violação dos preceitos éticos científicos contemporâneos. A resposta chinesa chegou rápido: de acordo com nova determinação de Pequim, os pesquisadores condenados por má conduta científica enfrentarão punições generalizadas em quase todos os aspectos de suas vidas — até mesmo na esfera privada. “Eu nunca tinha visto de uma lista tão extensa de punições à má conduta em pesquisa em qualquer outro lugar do mundo”, declarou o Dr. Chien Cho, da Universidade Chiao Tung em Taiwan. Com a mudança, o país pretende enrijecer seu ambiente acadêmico, tornando condutas indesejadas — que, dentre outras, também incluem plagiarismo e falsificação de dados — menos recorrentes.

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

Fotografia: um convite para discutir as nuanças da Revolução Cultural — é uma das intenções por trás das fotografias de Li Zhensheng que retratam este período que, apesar de importantíssimo para a sociedade chinesa, tem sofrido uma crescente amnésia atualmente. Fotografias em preto e branco da década de 1960. Vale a pena conferir.

Música: uma das maiores gravadoras de selos independentes da China liberou para streaming e download uma compilação de 10 anos de música da cena underground do país. Você pode ouvir aqui a playlist que a Maybe Mars preparou para o aniversário de uma década do empreendimento.

Vídeo: quer entender melhor a evolução das relações entre a China e a África e as transformações que Pequim vem, nas últimas décadas, trazendo ao continente? Estecurto vídeo vai te ajudar.

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