O que a opinião pública da América Latina pensa sobre a China?

Já se perguntou o que, de fato, você e o restante da América Latina sabem sobre o gigante asiático?

Créditos da imagem: Lucas Santos on Unsplash

Por Guilherme Mattos

A China é tão grande e variada que a tarefa mais difícil para quem se interessa por esse país é entendê-lo. Você já se perguntou o que, de fato, sabe sobre o gigante asiático? Também interessante é pensar o que a grande maioria das pessoas sabe ou pensa sobre ela. Recentemente, alguns estudos têm revelado o que a opinião pública de países da América Latina tem a dizer sobre o Império do Meio.

No Brasil, as posições variam conforme o assunto. A população brasileira percebe a China como não-confiável para a manutenção da paz ou da estabilidade internacional e atribui esse papel aos Estados Unidos. Porém, quando o assunto muda para economia, pode-se perceber uma alteração na opinião dos brasileiros sobre a China – nesse assunto, o país passa a ser identificado como um líder benéfico para a economia internacional.

Em outras nações da América Latina, percebe-se dinâmicas diferentes por outras perspectivas. Na Argentina, a China tem influenciado o que parece ser o início de uma polarização do debate público. Em análises dos debates feitos pelo legislativo do país, pode-se identificar que o tópico do engajamento chinês tem ganhado uma roupagem de potencial divisor de interesses. A discussão tem tomado um padrão comum também em outros lugares: a China é considerada por alguns grupos de interesse como uma ameaça e por outros como uma oportunidade para o país e para a região.

Além disso, nos meios digitais, onde recentemente as discussões sobre o assunto têm sido mais acaloradas, surgem padrões notáveis sobre a opinião pública de países da nossa região. Ao analisar comentários em páginas de redes sociais de jornais clássicos de países de língua espanhola da América Latina em notícias sobre a China, os pesquisadores Ariel Armony e Nicolás Velásquez identificam um sentimento “anti-chinês” em ascensão. Segundo eles, esse fenômeno pode ser verificado nos comentários e tem como base os seguintes aspectos: a qualidade de produtos chineses, que por vezes é considerada como ruim; as práticas de negócio que empresas chinesas usam, que têm sido consideradas injustas por alguns; uma preocupação com a cultura chinesa, principalmente quanto ao consumo de animais considerados domésticos, a práticas cruéis contra animais e à falta de higiene; e, por fim, a percepção de desenvolvimento e relações internacionais, que abrangem preocupações com a orientação comunista da China, com temas de sustentabilidade e com uma possível dominação econômica chinesa de setores importantes para esses países.

“A China, por seu lado, sabe bastante sobre a nossa região e sabe claramente o que busca aqui. Agora, por outro, resta a nós saber o que queremos desse país tão grande e cheio de oportunidades.”

Para a China, a opinião pública dos países da região é uma variável importante para se atentar – principalmente pelo fato de terem começado a acontecer alguns episódios de manifestação de locais contra empresas chinesas, como no caso da subsidiária de mineração chinesa no Peru, já tratada em nossa newsletter em espanhol (que pode ser assinada clicando aqui). Alguns desses padrões conectam-se à falta de informação sobre a China. A China, por seu lado, sabe bastante sobre a nossa região e sabe claramente o que busca aqui. Agora, por outro, resta a nós saber o que queremos desse país tão grande e cheio de oportunidades.

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