Por onde anda a Made in China 2025?
Há meses, a polêmica política industrial sumiu dos discursos oficiais de Pequim. O que, de fato, mudou?
Créditos da imagem: Road Trip with Raj on Unsplash
Por Jordy Pasa
Lançada em 2015 pela Partido Comunista Chinês, a Made in China 2025 é uma política industrial compreensiva que propunha modernizar as capacidades industriais chinesas através do desenvolvimento de tecnologias de manufatura inovadoras, aprimoramento da infraestrutura do país, treinamento de talento humano e, ainda, incentivo a práticas industriais sustentáveis. Baseado, em larga escala, em uma série de medidas de financiamento e estímulo estatal, o plano representava a aspiração das lideranças do Império do Meio em promover a ascensão da China nas cadeias globais de produção, transformando o país, outrora tido como mero centro de manufatura e montagem de baixo valor agregado, em uma superpotência industrial mundial.
Sob acusações de descriminação de negócios estrangeiros, distorção da livre concorrência e até mesmo ameaça à segurança internacional, a política vem sendo, porém, exaustivamente criticada desde seu princípio por diversos países e organizações comerciais e empresariais ao redor do mundo – e, em particular, em Washington. Em relatório publicado em 2017, a Câmara de Comércio dos Estados Unidos criticou as aquisições de empresas locais e suas propriedades intelectuais por corporações chinesas estimuladas pelo plano. Já em 2018, representantes da administração Trump envolvidos nas negociações em torno da guerra comercial entre os dois países expressaram o desejo de que Pequim reconsiderasse a implementação da Made in China 2025 como um todo. Em pouco tempo, os produtos dos setores beneficiados pela estratégia se tornaram alvos das tarifas impostas pelo governo estadunidense.
Naturalmente, cresceram as expectativas de que, de modo a apaziguar o conflito comercial com os Estados Unidos, o governo central chinês se afastasse de ao menos alguns dos pontos mais controversos de seu novo plano industrial. Em seu discurso inaugural durante a reunião do Congresso Nacional Popular em Pequim em março deste ano, o primeiro ministro Li Keqiang, de fato, não mencionou a estratégia – fato inédito desde seu anúncio há quatro anos. Apesar de não citar seu nome, porém, Li reafirmou, ainda na mesma ocasião, vários dos principais pilares da Made in China 2025, como a determinação chinesa em direcionar generosos fundos públicos ao desenvolvimento de indústrias emergentes de ponta. Fortaleceu-se, então, um ceticismo quanto à real disposição do gigante asiático em alterar os fundamentos de seu polêmico plano.
Ao que parece, a mudança no posicionamento de Pequim quanto ao assunto foi, mesmo, apenas retórica. Em novo trabalho sobre a estratégia e seu desenvolvimento, o Mercator Institute for China Studies alega que, a despeito do termo Made in China 2025 ter há meses sumido dos discursos oficiais chineses, a implementação da política segue a todo vapor. Apesar das novas dificuldades impostas à realização dos objetivos mais ambiciosas do plano em um cenário de crescentes dificuldades de acesso às ainda vitais tecnologias estadunidenses, Pequim parece seguir comprometida com a ambição de refinar e fortalecer a associação entre condução estatal e modernização industrial de modo a permitir que a China dê continuidade ao seu processo de desenvolvimento – mesmo que por meios tidos por alguns de seus competidores como desleais.