No dia 1º de outubro, a República Popular da China comemorará 70 anos de sua fundação. Para marcar a data, Pequim planeja executar, em uma demonstração do poder e do desenvolvimento chinês, a maior parada militar de sua história. Espera-se, também, que Xi Jinping se dirija ao povo chinês em discurso que aborde o rápido crescimento do país e, além disso, indique os caminhos para o futuro da nação. A celebração ocorrerá na Praça da Paz Celestial — palco de alguns dos mais importantes eventos históricos da China moderna — e será exclusiva para convidados.

Aproveitando a ocasião, vale a pena refletir sobre as conquistas chinesas nas últimas 7 décadas. Em 1º de outubro de 1949, Mao Zedong lançou a nação, que nascia pobre e arrasada pela guerra, a uma nova era de desenvolvimento. De lá para cá, nos bons e maus capítulos, o Império do Meio jamais deixou de impressionar o restante do planeta. Os desafios ainda são muitos e as cicatrizes são profundas, mas não há quem não esteja ao menos curioso para saber o que guarda o futuro do gigante asiático — e em que medida o país mudará com o tempo.

O aniversário também coloca mais lenha na fogueira com as tensões em Hong Kong. Muita gente está de olho, já que os protestos não diminuem e a violência cresce a cada semana. O governo local já cancelou os fogos de artifício que tradicionalmente ocorrem no dia 1º de outubro, e a cerimônia principal vai ocorrer atrás de portas fechadas.


Em 2014, a China se comprometeu a reduzir expressivamente a utilização de fontes poluentes para a produção de energia elétrica no país nas próximas décadas. Manter a promessa, entretanto, não tem sido fácil. Imagens de satélite obtidas no início do mês indicam a construção e/ou operação de três novas usinas a carvão na Mongólia Interior, no norte do Império do Meio. As razões para o avanço do carvão — uma fonte de energia barata e abundante no interior chinês — provavelmente se devem às novas dificuldades enfrentadas pela economia do país, em considerável desaceleração e em meio a um prolongado conflito comercial com Washington.


Que a Tesla é sinônimo de carros elétricos em muitos países é um fato, mas será que o mesmo vale na China? Apesar do Império do Meio ser o segundo maior mercado para a empresa de Elon Musk, o nicho de carros elétricos no país é diversificado e com fortes competidores nacionais (alguns são estatais).  A BYD, por exemplo, foi a maior produtora de carros elétricos na China em 2018, seguida pela BAIC — ambas as empresas com uma margem de lucro na marca dos bilhões de dólares. O governo chinês traçou metas ambiciosas para o setor: até 2020, almeja que 12% da venda de veículos seja composta por carros elétricos. Você pode ler mais aqui sobre porquê a China continuará sendo a vanguarda no setor.


Foi inaugurado nesta semana o Aeroporto Internacional de Daxing — o maior terminal aeroportuário de estrutura contínua do mundo, com uma área de mais de 700.000 m² (o equivalente a 98 campos de futebol). Localizado nos arredores de Pequim, o megaprojeto foi assinado por Zaha Hadid e levou quase cinco anos para ser construído com custo total de mais de 11 bilhões de dólares. Na mesma semana em que foi inaugurado o aeroporto “Estrela do Mar” — como já é conhecido por muitos devido ao seu formato peculiar — outro aeroporto fechou as portas na capital: o de Nanyuano mais antigo do país, inaugurado em 1910. Que semana para a RPC.

Em novo capítulo da guerra comercial sino-estadunidense, a Casa Branca estaria considerando implementar restrições aos investimentos do país norte-americano na China. Dentre as medidas possíveis, inclui-se até mesmo o bloqueio de todos os investimentos financeiros dos Estados Unidos em empresas chinesas. Se aprovadas, as iniciativas seriam “um desastre absoluto”, afirma Stephen Roach, pesquisador da Universidade de Yale e ex-presidente do Morgan Stanley na Ásia. De acordo com Roach, investimentos abertos e livres são a melhor maneira de criar oportunidades de ganhos para corporações multinacionais e os limites alegadamente considerados pela administração Trump constituiriam um passo na direção errada no esforço de abertura comercial entre as duas nações.


Para quem procura um resumo (bem simplificado) das diretrizes da política externa chinesa atualmente, vale conferir o mais recente discurso do diplomata Wang Yi durante a Assembleia Geral da ONU que ocorreu nessa última sexta-feira (27). Alguns pontos já são carta velha no baralho: o respeito máximo à soberania e princípio da não-interferência em assuntos internos de outros países — tanto em termos geopolíticos, quanto de agenda de desenvolvimento —, críticas aos impactos globais da guerra comercial sino-estadunidense, alguns comentários não muito sutis sobre como os problemas internacionais não podem ser resolvidos com a construção de muros.

De pontos novos no discurso, a questão da Caxemira, o acordo nuclear iraniano e a urgência de se fortalecer o INF (Intermediate-Range Nuclear Forces Treaty) na crescente militarização no Mar do Sul da China. Confira o discurso completo aqui.


Também em comemoração ao aniversário, o governo da RPC lançou um novo white paper chamado “A China e o mundo na Nova Era“. O documento enfatiza o desenvolvimento chinês nos últimos 70 anos – um período curto de comparado ao tempo que outras nações demoraram para atingir tanto progresso. O texto foi publicado para auxiliar o mundo a entender o crescimento do país, declara a importância do engajamento e abertura chinesa para chegar onde chegou, e como esse desenvolvimento é uma oportunidade para o mundo se engajar com a China. Coloca o país também como a força mais estável no crescimento econômico mundial, o seu papel na inovação tecnológica (e desenvolvimento próprio através de pesquisa), e a importância da Belt and Road Initiative como uma maneira de prover bens comuns para a comunidade internacional. Pega um café e boa leitura.

Antes da virada do novo século, poucos eram os registros ou referências à arquitetura contemporânea chinesa. Após a revolução de 1949, dominou o país uma concepção funcional da arquitetura como engenharia e não como arte. Com a chegada dos anos 2000, porém, e o desenvolvimento econômico e social do gigante asiático, um novo entendimento arquitetônico inundou o Império do Meio com construções das mais intrigantes às mais bizarras. E no presente? Com sua ascensão à liderança do país, Xi Jinping parece querer mudar novamente os rumos da arquitetura da China, tornando-a menos experimental em bases ocidentais e mais tradicionalmente chinesa. Nem o prédio mais alto da capital do país escapou da transformação.


Já mencionamos aqui a epidemia de HIV/AIDS que assolou a China nos anos 1990 e 2000, devido às transfusões de sangue e histórias acobertadas pela mídia e pelo governo. Uma médica, a Dra. Wang Shuping, foi uma das responsáveis por trazer o escândalo à tona, em um relatório publicado em 1995. A Dra. Wang, que saiu do país para fugir das hostilidades, faleceu no dia 22 de setembro.


O governo chinês decidiu investir pesado em parques nacionais. O país já tem um número bem alto de parques (são 225), comparado com outros países (o Brasil tem 73, os EUA têm 61). O Sixth Tone lançou a primeira de três matérias sobre as comunidades que se encontram no meio da decisão do governo de criar 10 novos parques. A primeira matéria fala de uma vila, na província de Zhejiang, que estava com planos de se tornar um ponto de encontro turístico de astrônomos e admiradores das estrelas. Contudo, acabou sendo incluída na criação de um parque nacional, o que limita a possibilidade de infraestrutura a ser desenvolvida no local. São mais de 100 cidades enfrentando esse mesmo dilema.

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

Qin Hui: o famoso historiador chinês Qin Hui teve um dos seus textos traduzidos pela iniciativa Reading the China Dream. O texto, de 60 páginas no original, compara o apartheid da África do Sul com a discriminação contra camponeses na China. A exploração do trabalho desse grupo sem poder político seria o motivo do sucesso econômico do país. Tem em PDF, para facilitar a leitura.

70 anos em música: uma ótima hora para celebrar os 70 anos da RPC com músicas que marcaram o país desde 1949. Está uma preciosidade. Aproveite!

Fotografia: o premiado fotógrafo Liu Heung Shing lançou o livro A Life in a Sea of Red. Propício para o aniversário dos 70 anos da RPC, já que mostra as mudanças históricas pelos olhos desse ganhador do Pulitzer. Confira algumas aqui.

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