Uma polêmica estrelada pela NBA (a liga nacional de basquete dos Estados Unidos) dominou as conversas sobre China durante a última semana. O motivo? Um tweet publicado por Daryl Morey, diretor geral do Houston Rockets, em que o executivo equiparava o apoio pelos recentes protestos em Hong Kong com a luta pela própria liberdade. A afirmação, é claro, não caiu nada bem com o público da China continental. Em pouco tempo, empresas chinesas anunciaram suspensão de patrocínios e transmissão de jogos da associação no país. Consumidores, por sua vez, prometiam boicote. Daryl pediu desculpas. A própria NBA pediu desculpas. Foi a vez, então, dos estadunidenses se ofenderem — forçando a liga a novamente se retratar, desta vez tentando agradar ao público de sua terra natal. Uma confusão do tamanho do Pacífico.

Os fãs chineses da NBA, contudo, não abandonaram o esporte. Mesmo com a incerteza de se o pré jogo entre os Los Angeles Lakers e os Brooklyn Nets iria acontecer na quinta-feira, entre pedidos de boicote online e irritação do governo, a arena em Xangai encheu com 18 mil pessoas. E encheu de novo no sábado, quando aconteceu o jogo em Shenzhen. O caso, porém, ilustra bem os riscos de um difícil equilíbrio que empresas e organizações multinacionais buscam — ou deveriam buscar — manter entre os conflitos intra-chineses e o público de outros países.


Há alguns meses, viralizou na internet chinesa uma apresentação de Powerpoint com 100 slides sobre a inteligência artificial e 5G. Produzida pela Sociedade Jiusan (九三学社) — um dos 8 partidos reconhecidos pelo partido comunista e que congrega intelectuais dos campos da ciência, tecnologia e educação —, a apresentação foi compartilhada até por Ren Zhengfei, o fundador  da Huawei. Os slides discutem desde o que é 5G até aplicações da tecnologia nos mais diferentes campos. Você pode conferí-los em inglês aqui.


Para ficar de olho: o sistema de crédito social irá englobar empresas estrangeiras, conforme relata Jodi Xu Klein para o South China Morning Post. Isto significa que, da mesma forma que cidadãos são avaliados por suas atitudes cívicas (ou não) e atividades financeiras, agora as empresas com sede fora da China atuando em território chinês também poderão entrar em uma “lista especial” caso tenham sido verificadas movimentações monetárias suspeitas, ou desrespeito aos valores chineses — como se referir a Hong Kong, Taiwan, Macau ou Tibete como países independentes.

Um novo relatório do think-tank Atlantic Council apresenta uma discussão sobre a iniciativa Belt and Road na América Latina. Boa parte do relatório apresenta e explica as quatro características atuais da iniciativa: (1) crescente preocupação com o meio ambiente e com maior transparência; (2) aumento participação do setor privado; (3) papel importante das economias já desenvolvidas; e (4) novos setores de atuação para além de infraestrutura. Além disso, o autor explica como elas se integram na região da América Latina e qual o papel dos Estados Unidos nisso tudo (ou qual o papel que o autor acha que deveriam ter). E deixa o aviso: a América Latina e o Caribe não devem ser considerados apenas atores periféricos da iniciativa.


E a guerra comercial sino-estadunidense, por onde anda? No último episódio do estendido conflito entre as duas maiores economias do mundo, a China e os Estados Unidos concordaram com o esboço de um acordo comercial parcial que pode vir a ser assinado já no mês que vem por Donald Trump e Xi Jinping. Como parte de tal acordo, Pequim aceitaria, dentre outros, comprar mais produtos agrícolas estadunidenses e implementar concessões financeiras ao país norte-americano. Washington, por sua vez, adiaria a imposição de novas tarifas a importados chineses. Será que desta vez vai?


Em visita à Índia, Xi Jinping se reuniu com o primeiro-ministro indiano Narendra Modi em uma cúpula informal de dois dias. Durante o encontro, os líderes consentiram com o estabelecimento de um novo mecanismo para balancear o comércio entre as duas nações. Além disso, Xi e Modi também concordaram em administrar as diferenças sino-indianas de maneira “prudente”. Nenhuma palavra foi dita, porém, sobre as recentes turbulências na Caxemira — uma região fronteiriça disputada entre a Índia e o Paquistão, um aliado próximo de Pequim.

E após a Índia, foi a vez de Xi Jinping visitar outro vizinho: o Nepal. Primeiro líder chinês a visitar o pequeno país sul-asiático em mais de 20 anos, Xi aproveitou a ocasião para renovar o apoio de Pequim aos nepaleses e, ainda, prometeu a ampliação da cooperação econômica entre as duas nações. Para o Nepal, uma maior presença chinesa pode auxiliar na diversificação das rotas comerciais do país, atualmente dominadas pelos indianos. Alguma dúvida de que Nova Déli está de olho nessa aproximação?


Na semana passada, falamos sobre como era improvável que os Estados Unidos aprovassem sanções contra a China pela situação em Xinjiang. O jogo virou. O Departamento de Estado dos EUA está restringindo vistos a funcionários do governo chinês e também impôs sanções às empresas chinesas que auxiliam o aparato de segurança. O governo da RPC criticou a postura.

A escritora Can Xue era uma das favoritas para o Nobel de Literatura deste ano. Não ganhou, mas o burburinho atual ajudou a divulgar mais a sua obra — os preços dos seus livros até subiram quase 200%. Com um estilo de escrita mais experimental (ficção avant-garde) e diversas obras publicadas em inglês, ela fala que escreve para as gerações futuras. Vale ler esta entrevista de 2016.


Quando se pensa na língua chinesa, muitas pessoas costumam se referir ao chinês mandarim (o “chinês padrão”), forjado no início do século XX  com base no dialeto de Pequim e feito com o intuito de facilitar a comunicação no território nacional. Mas a língua chinesa é muito mais do que isso: fora os diferentes sotaques entre uma província e outra, há uma diversidade de dialetos de norte a sul da China. Há dez grandes grupos de dialetos: Mandarim (官话), Jin (晋语), Wu (吴语), Hui (徽语), Gan (赣语), Xiang (湘语), Min (闽语), Hakka (客家话), Yue (粤语), Pinghua (平话) e Tuhua (土话).

Enquanto que pessoas de províncias diferentes podem entender o sotaque uma da outra – digamos, uma pessoa de Urumqi em Xinjiang consegue entender sem grandes dificuldades alguém de Kunming, em Yunnan  —, nem sempre é possível dizer o mesmo sobre pessoas que moram na mesma província, mas em vilarejos diferentes. Interessante, não é mesmo? Hora de preparar aquele cafezinho e ler mais sobre o assunto aqui.


Como conquistar corações e mentes de millennials chineses e promover o nacionalismo de uma maneira moderna e convincente? Uma das respostas pode ser… através de boy bands, filmes e seu exército de fãs. Desde que um dos membros da TFBOYS (uma das boy bands mais famosas atualmente) apareceu na capa da revista oficial da Liga da Juventude do Partido, têm ficado cada vez mais evidentes os esforços de Pequim em vender uma narrativa nacionalista palatável para as novas gerações. Além de ter recuperado a Educação Patriótica de 1994, produções artísticas alinhadas à história oficial promovida pelo partido costumam ter bilheterias maiores e o apoio político e financeiro do Estado.

Para a professora Jessica Weiss, autora do livro “Powerful Patriots: Nationalist Protest in China’s Foreign Relations”, o nacionalismo incutido nas novas gerações não se traduz, no entanto, na crença de que a China seja melhor do que os outros países, mas sim de que os chineses estariam mais dispostos a apoiar medidas drásticas para combater pressões externas.

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

Podcasts: em busca de conteúdo para praticar o mandarim? O WhatsOnWeibo publicou uma lista de 10 melhores podcasts chineses para você diversificar o vocabulário e treinar os sotaques.

O peso das palavras: os protestos em Hong Kong têm gerado diversas discussões interessantes. Uma thread no Twitter se propôs a discutir linguagem e como o cantonês tem se tornado uma forma de resistência dos manifestantes contra o governo, principalmente com a criação de novas palavras.

Música: o som do pequinense Howie Lee combina, em uma harmonia complexa e contraditória, tradições musicais do Ocidente e da China. Vale a pena pegar os fones de ouvido e ouvir agora mesmo.

Errata: a edição 72 incluía um link para uma matéria da Scientific American sobre energia solar. Só que foi o link errado. Aqui está o certo.

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