O dia 10 de outubro de 2020 marcou os 100 dias da implementação da Lei de Segurança Nacional para Hong Kong. O que mudou desde então? Em uma série de artigos que vale ler tomando aquele tradicional cafezinho, diversos jornalistas de Hong Kong e do exterior se debruçam sobre os efeitos da lei sobre a juventude, economia e futuro da cidade que nunca mais será a mesma. Relatam casos de muitos jovens — ativistas ou não — que passaram a enxergar na ilha vizinha de Taiwan um novo lar. Tem até história de padre fazendo autocensura em missa. Leia aqui.


Todo ano, quando do aniversário do estabelecimento das Zonas Econômicas Especiais em Shenzhen, ouve-se a mesma história sobre como o vilarejo de pescadores tornou-se um milagre de desenvolvimento econômico em poucas décadas. É, de fato, algo a ser celebrado e estudado de perto — ainda mais agora na celebração de 40 anos dessa data. Mas o que mais sabemos sobre esse hub cosmopolita de inovação que muitos já chamam de “A Futura Hong Kong” e casa de um dos maiores polos do techno underground da China? Como muitas cidades chinesas da zona costeira, concentra um alto número de jovens migrantes de zonas rurais em situação precária, e o mito fundador do “vilarejo à megalópole” deixa outras histórias para trás. Saiba mais aqui.

A celebração esse ano levou Xi Jinping até a cidade. Em um discurso, Xi falou sobre a importância de Shenzhen e disse que, frente aos desafios atuais nas cadeias de valor globais, a cidade precisa criar soluções novas para lidar com isso. Ele prometeu ainda mais autonomia para a cidade crescer no contexto pós pandemia — e enfatizou o papel de uma economia global de portas abertas. Mais ainda, falou sobre como Shenzhen é um centro integrador do projeto da área da Grande Baía, que inclui a província de Guangdong, Macau e Hong Kong, e fazer da região um centro econômico mundial.


Conforme previsto, autoridades de saúde chinesas conduziram testes para detectar infecção pelo novo coronavírus em toda a população de Qingdao, na costa leste do país, após 13 casos serem confirmados na cidade no início da semana passada. A magnitude do esforço impressiona: foram cerca de 10 milhões de testes realizados em apenas 5 dias (a título de comparação, desde o início da pandemia até o fim do mês passado o Brasil só havia realizado cerca de 18 milhões de testes em todo o país). Nenhum outro caso foi detectado (ao menos oficialmente), e dois funcionários públicos locais foram punidos pelo episódio: o chefe da comissão de saúde de Qingdao e o diretor do hospital de onde supostamente partiu o novo surto.

Mais uma vez, a China recebe críticas de países membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) para que siga o princípio de economia de mercado. Dessa vez, as críticas vieram do Brasil, Estados Unidos e Japão que, juntos, esperam criar uma frente com mais países para garantir que Pequim — que entrou na OMC em 2001 — adote a prática de fair play em suas trocas comerciais. O timing das críticas é bastante oportuno: com a saída precoce de Roberto Azevêdo da diretoria da organização, a OMC está em processo de definir seu novo presidente, ou melhor, sua nova presidente, visto que as duas candidaturas na rodada final de seleção são de mulheres. A transição pode oferecer uma brecha para a reforma da organização.

Em resposta às críticas, Pequim assegurou que tem feito mudanças que privilegiam o mercado e fez comentários irônicos sobre a postura dos Estados Unidos, dadas as recentes sanções impostas por Washington sobre empresas de tecnologia da China.


O clima esquentou novamente entre Canadá e China. Desta vez, a tensão se iniciou após Cong Peiwu, embaixador chinês ao país norte-americano, insinuar que conceder asilo político a dissidentes vindos de Hong Kong pode resultar em impactos sobre os cidadãos canadenses que residem na cidade (um grupo expressivo de cerca de 300 mil pessoas). Em resposta, o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau criticou o que chamou de “diplomacia coercitiva” chinesa e declarou que seu governo não pretende antagonizar a China ou escalar hostilidades, mas que “continuaremos a garantir que os canadenses saibam que defendemos nossos direitos e valores”. Cong logo respondeu, negando as acusações de Ottawa e voltando a clamar pela libertação de Meng Wanzhou, ex-CFO da Huawei presa em 2018 no país sob mandado de fraude bancária emitido por autoridades estadunidenses.

E não é só com o Canadá que as coisas não andam bem. Na última quarta-feira (14), o Departamento de Estado estadunidense alertou que instituições financeiras internacionais que mantêm negócios com indivíduos considerados responsáveis por atos de opressão de Hong Kong poderão em breve enfrentar duras sanções por parte de Washington. Dentre a lista de tais indivíduos figuram nomes importantes como o de Carrie Lam, chefe do poder executivo da região administrativa especial. Pequim não gostou, afirmando através do porta-voz do Ministério de Relações Exteriores que a movimentação estadunidense é uma interferência nos assuntos domésticos do país e mencionou a possibilidade de retaliações de modo a garantir a integridade de sua soberania nacional.


Dívida bilateral da China com países africanos é o tema do relatório publicado pela empresa de pesquisa Rhodium Group. A análise indica que os chineses lidam caso a caso com problemas de pagamentos, e parece que a tendência não vai ser a apreensão de ativos — ao contrário do que os que concordam com a teoria da “diplomacia da dívida” vinham argumentando. Daqui para frente, os países africanos vão ter opções reduzidas de empréstimos e investimentos — e o foco pode acabar sendo fortalecer o desenvolvimento nacional com base em um planejamento cada vez mais local, segundo análise dos editores do The China-Africa Project. O tema está em alta, com as discussões no G20 sobre alívio de dívidas de nações africanas.

Falando em África, o pesquisador Paul Nantulya escreveu um ótimo e detalhado texto sobre o crescente uso de empresas de segurança privadas para proteger investimentos e também cidadãos chineses no continente. Com o aumento de empresas chinesas em países africanos, muitas em zonas de conflito, estima-se que 20 empresas chinesas registradas (com 3200 agentes de segurança na África, em comparação aos 2500 chineses nas operações de paz por lá) atuem nesse setor no exterior. Os gastos das estatais chinesas com segurança, porém, chegam a 10 bilhões de dólares por ano. Essas empresas são bastante reguladas na China e normalmente contratam ex-membros das Forças Armadas, o que é ótimo para Pequim — que paga custos altos na desmobilização de seu alto número de reservistas. Nantulya explica que, apesar de serem agentes independentes, são comumente considerados parte do governo chinês nos países africanos onde atuam.

Consumismo. Obsessão com riqueza. Desejo por ascensão social. Vidas falsas na internet. São as questões que surgem de uma polêmica que dominou as redes sociais chinesas nas últimas semanas. Uma blogueira divulgou os grupos de WeChat dos “falsos ricos de Shanghai” — mais de 500 mulheres que se reuniam para dividir refeições caras no The Ritz, reservas em hotéis 5 estrelas, dividir uma meia-calça da Gucci e aluguel de Ferrari entre até 40 pessoas para todas tirarem fotos e postarem nas redes sociais. O objetivo era fingir ter mais dinheiro do que de fato se tem ou até atrair cônjuges de classe social mais alta. Outras histórias parecidas estão surgindo, como de homens em grupos de WeChat que contratam serviços para receber fotos diárias de produtos de luxo, como relógios e bebidas, e fingir que são seus.


Quem já visitou a China talvez esteja familiarizado com um fenômeno conhecido como pèngcí (碰瓷), um golpe popular que consiste em fingir que se é vítima de um acidente grave causado por outra pessoa e extorqui-la através da exigência de compensação pelos danos supostamente sofridos. Apesar de gerar algumas cenas até mesmo engraçadas, a conduta é problemática e as autoridades chinesas decidiram agir para combatê-la. Na última quarta-feira (14), o Supremo Tribunal Popular, a Suprema Procuradoria Popular e o Ministério da Segurança Pública da China emitiram conjuntamente novas diretrizes definindo formalmente o ato ilícito e estabelecendo detalhes de como puni-lo. A partir de agora, quem praticar pèngcí pode ser acusado de crimes que variam desde fraude e litígio fraudulento até extorsão e destruição intencional de propriedade.


Nessa semana, o atleta olímpico chinês Zhang Wanqing foi acusado publicamente pela ex-esposa de abuso físico e sequestro de menor. Em post publicado no Weibo na quinta-feira (15), Zhang Mohan, que se divorciou de Wanqing em julho, afirmou que o atleta a violentou durante toda a duração do casamento e que, após a separação, ele teria a perseguido e sequestrado o filho de apenas 1 ano do casal, previamente sob a guarda da mãe. Junto à publicação, Zhang Mohan inclui fotos de ferimentos espalhados pelo corpo e relatou um diálogo perturbador que teve com o então companheiro: ao perguntar porque ele a tratava de maneira violenta, Zhang Wanqing teria respondido que “atletas são assim por causa de nossos níveis de hormônio masculino”. A assessoria de Zhang Wanqing negou as acusações e as autoridades chinesas ainda não comentaram sobre o caso.

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

Nostalgia: delicie-se com antigas fotos preto e branco de Pequim e demais cidades chinesas. Os negativos são de 1986 e é uma boa forma de refletir sobre as mudanças socioeconômicas que aconteceram no país desde então.

Diáspora negra e China: a artista Aaliyah Bilal apresenta uma ótima série chamada Known Rivers, que até agora teve 4 episódios curtos, sobre conexões entre a diáspora negra e a China ao longo dos anos. Os primeiros 2 episódios focam na história de Agatha e Eugene Chen, e os 2 seguintes sobre o poeta negro Langston Hughes em Shanghai nos anos 30.

Podcast: esse episódio do ChinaTalk conversa com Emily De La Bruyere, da consultoria Horizon Advisory, fala sobre as ambições chinesas na área de tecnologia e seu investimento em pesquisa básica, padrões internacionais, mineração de minerais terras raras e infraestrutura. Tem a transcrição também.

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