É big, é big! Partido Comunista da China chega aos 100 anos
É hora de soprar as velinhas. Na China, sobretudo em Pequim, está tudo preparado para a comemoração do centenário do Partido Comunista Chinês (PCCh) no próximo dia 1º e que vai até o final do mês de julho. Esta reportagem da Reuters conta um pouco sobre os preparativos, como o fechamento de avenidas e acessos, queimas de fogos e disposição de flores pela cidade, além das mensagens que já estão colocadas no portal da Praça Celestial, como “Sem o Partido Comunista não haveria a nova China”. Em junho, o governo inaugurou em Pequim um museu para contar a história do partido. Em tom ufanista, esta reportagem da Xinhua fala que o local é o novo “ponto de referência” de Pequim. Como a China vai muito além da capital, esta reportagem do The New York Times mostra o crescimento nos últimos tempos do turismo vermelho, com seus cidadãos visitando pontos turísticos por todo o país ligados à história do PCCh.
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Maçã é sempre algo perigoso, já diria Eva. Após 26 anos de operação, o tabloide Apple Daily publicou na quinta-feira (24) sua última edição em Hong Kong. A ocasião foi marcada por longas filas para adquirir o milhão de unidades da tiragem. O jornal digital Hong Kong Free Press fez um ensaio com fotos e vídeo das últimas horas da redação, cujo fechamento foi criticado por jornais como Washington Post, Financial Times, veículos japoneses, além de organizações de proteção a jornalistas e o governo britânico. Apesar do fim em Hong Kong, a edição digital taiwanesa deve seguir adiante, e a equipe de Hong Kong foi premiada pela Society of Publishers in Asia — por uma reportagem que agora só pode ser lida em um arquivo PDF, já que todo conteúdo foi removido do site da publicação. Outros veículos locais independentes já estão tomando medidas para evitar o mesmo futuro.
A imprensa de Hong Kong ficou para trás num dos principais anúncios da semana: foram veículos estatais da China continental que noticiaram primeiro a aprovação de três novos líderes políticos para a Região Administrativa Especial. Chamou a atenção a indicação de John Lee, ex-secretário de segurança, para o segundo cargo mais importante do governo. Diante da acusação de que Hong Kong estaria se tornando um estado policial, a legisladora Alice Mak questionou: “se for o caso, por que não?”. Como o assunto ligado à ex-colônia britânica é interminável, deixamos aqui também a dica de leitura — prepara o cafezinho ou a pipoca — desta reportagem do Nikkei Asia sobre o que vem acontecendo no cinema honconguês.
Agora vai? Shanghai quer ser o hub de produção de veículos movidos a hidrogênio e colocar 10.000 exemplares nas ruas, além de 30 estações de recarga, até 2023, revelou a Carbon Brief. Como já comentamos aqui, a ideia de difundir o uso de hidrogênio como combustível tem se expandido em algumas províncias chinesas com apoio dos governos locais e central — a própria Shanghai é uma das cidades na China de maior liderança na agenda ambiental. Mas o pulo do gato está mais em garantir que a produção desse hidrogênio seja “verde” e não utilize combustíveis fósseis como o carvão, atual responsável por boa parte da produção pelo seu baixo custo relativo.
Tá show para a Kuaishou: a rival da ByteDance atingiu 1 bilhão de usuários mensais ativos. Competindo pelo público no âmbito de aplicativos de vídeos curtos com o Kwai, ela também faz sucesso no Brasil. A nova marca a coloca perto do TikTok (1,9 bilhão de usuários) e do WeChat (1,2 bilhão). Já com um bem-sucedido capital aberto na Bolsa de Hong Kong no início do ano, a empresa também ganhou destaque na semana que passou por outros dois motivos: por encerrar a exigência de que seus funcionários trabalhassem um dia extra a cada quinzena, em meio às críticas de seus trabalhadores ao regime de trabalho 996, comum em companhias de tecnologia (segundo a mesma matéria do SupChina chegaram a ser instalados timers nos banheiros para monitorar o tempo que funcionários ficavam por lá); e por, na sexta (25), ter anunciado que ganhou os direitos de exibição oficial tanto da Olimpíada em Tóquio quanto da Olimpíada de Inverno em Pequim. Dá para pedir música no Fantástico.
A Iniciativa Cinturão e Rota ( BRI, na sigla em inglês) está perdendo fôlego? Segundo o que a pesquisadora Stella Zhang argumenta em artigo publicado no The People’s Map of Global China, essa interpretação acontece pelo fato de a BRI ser tratada apenas como um grande programa de financiamento a projetos de infraestrutura. Ela enfatiza que esse é apenas um dos quatro níveis de operação da iniciativa, que inclui ainda: diplomacia de alto nível, paradiplomacia e cooperação de agências regulatórias com o intuito de aumentar o intercâmbio social e comercial da China com seus parceiros. E, por isso, Zhang defende que são necessários indicadores melhores para avaliar a intensidade e o êxito da BRI, levando em consideração todos os níveis sem se restringir ao financiamento de infraestrutura. Mesmo que a Iniciativa Cinturão e Rota não seja só formada por projetos de infraestrutura, eles ainda são parte importante da iniciativa e é sobre isso que trata Juan Cruz Margueliche no ReporteAsia, focando sobretudo na América Latina.
YouTube retira vídeos com denúncias sobre Xinjiang. O grupo Atajurt Kazakh, que tem um canal sobre direitos humanos, queixou-se de ter seus vídeos removidos pelo YouTube, como publicou a Reuters. O canal foi bloqueado no último dia 15 depois de ter 12 vídeos denunciados por violar a política de “assédio e cyberbullying”. Um dos problemas seria o fato de as testemunhas que aparecem dando depoimentos mostrarem seus documentos, o que violaria as regras do YouTube. O Atajurt, contudo, evita borrar os documentos por acreditar que isso poderia comprometer a credibilidade das informações publicadas por se tratar de temas tão sensíveis como a acusação de que há violação de direitos humanos contra a minoria uigur, por parte do governo chinês, na região autônoma de Xinjiang. Pequim nega as acusações. O canal já publicou 11.000 vídeos e conquistou em torno de 120 milhões de visualizações desde 2017. Uma alternativa que vem sendo tentada é procurar outros locais para hospedar o canal, mas que não têm a mesma visibilidade atual. Se você quiser ler mais sobre a questão em Xinjiang, na última edição falamos um pouco sobre o assunto. Também no início do ano tratamos da questão do boicote ao algodão produzido na localidade.
A atuação global da empresa China Tobacco é o tema de investigação do consórcio jornalístico e de mídia Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP). Muita gente não sabe, mas a estatal China Tobacco (ou China National Tobacco Corporation, CNTC na sigla em inglês) é uma das maiores empresas do ramo, com quase metade da produção global. A atuação da empresa no Brasil foi tema desta matéria no The Intercept Brasil (em parceria com a OCCRP), especialmente na região sul. Por conta de sua presença discreta, as condições precárias de trabalho em lavouras fornecedoras passam despercebidas pelas autoridades locais. A investigação da OCCRP também rendeu matérias sobre o contrabando de cigarros da CNTC para países na América Latina via Panamá e para a Ucrânia. Segundo os artigos, a empresa estaria vendendo para distribuidores não autorizados nessas regiões. O contrabando de cigarros para expansão em novos mercados é algo que outras gigantes do setor faziam na década de 1990, segundo especialistas entrevistados pela OCCRP.
A China é o maior produtor de tabaco do mundo, seguido pela Índia e Brasil. É também um dos maiores consumidores, com cerca de ⅓ dos fumantes mundiais, e estima-se mais de 1 milhão de mortes ao ano relacionadas ao fumo no país.
E a treta avança. A China afirmou ter entrado com um processo contra a Austrália na Organização Mundial do Comércio (OMC) na quinta-feira (24), questionando a legalidade das medidas antidumping que o governo australiano impôs em 2019 sobre uma série de bens produzidos em território chinês. A ação diz respeito a exportações de turbinas, rodas ferroviárias e pias de aço inoxidável, como reporta a CGTN, e vem uma semana após a Austrália ter acionado a OMC pelas tarifas impostas por Pequim aos seus vinhos no ano passado. A judicialização da disputa comercial é o capítulo mais recente do estranhamento entre os dos países, que já comentamos por aqui.
Contrastando com as tensões com Camberra, em reunião bilateral por videoconferência na semana passada, a China se mostrou bastante disposta a cooperar com a Nova Zelândia em temas comerciais e na recuperação econômica de países do Pacífico Sul, segundo um artigo do South China Morning Post.
Frota pesqueira chinesa novamente em pauta. Há algumas semanas contamos que navios chineses estariam pescando ilegalmente em águas territoriais da Argentina. Dessa vez, a China Policy publicou uma matéria sobre a relação da pesca em águas internacionais e a segurança alimentar para o Estado chinês. Com as terras agricultáveis chinesas se exaurindo já no final do século XX, o país asiático passou a incentivar o consumo de pescado, que triplicou desde os anos 1980. Só que agora os mares chineses já estão praticamente sem peixes e o governo está aprovando regulamentações para limitar e proteger cardumes locais ao mesmo tempo em que incentiva a pesca em mares profundos — tudo para garantir a segurança alimentar de mais de 1 bilhão de pessoas. Porém, como a matéria chama atenção, países vizinhos não veem com bons olhos esse apoio, porque as frotas pesqueiras chinesas têm se envolvido cada vez mais em disputas territoriais.
No mês do orgulho LGBTQIA+, uma atacante da seleção feminina de futebol se assume lésbica. Com isso, Li Ying é a primeira atleta profissional na China a assumir homossexualidade. Ela publicou uma foto com a namorada no Weibo, mas acabou apagando depois de ter recebido uma série de mensagens, entre palavras de apoio e preconceito. De acordo com dados do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (Pnud), cerca de 95% das pessoas LGBTQIA+ optam por não se assumir publicamente na China. Falamos sobre este tema em uma publicação recente em nosso Instagram.
A Shūmiàn defende esta causa e este é um tema importante para nós, por isso pintamos nosso logo neste mês com as cores do arco-íris. Aproveitamos para deixar aqui algumas leituras que já apareceram por aqui, como a mais nova embaixadora da Dior na China ser Jin Xing, uma mulher transexual e famosa apresentadora de TV, além de uma edição em que comentamos o movimento Vogue no gigante asiático. Resgatamos nos stories do nosso Instagram algumas matérias ao longo desses 3 anos.
Na China tem protesto? Embora hoje em dia esse tipo de pergunta seja comum, o país tem um histórico de importantes manifestações iniciadas por estudantes, embora contestar decisões do governo não seja assim tão trivial. Desde o início do mês, universitários têm se insurgido contra o plano de que algumas instituições de ensino superior sejam fundidas — o temor é que eles percam em qualidade e prestígio com a fusão de universidades. Os alunos cobram do governo informações mais claras sobre o futuro das instituições em que estão matriculados. Vale pontuar que os protestos estão acontecendo em províncias bastante ricas, como Zhejiang, que abriga Hangzhou (cidade do Alibaba). Com frequência falamos sobre o complexo sistema de ensino chinês e as formas de ter acesso à educação de qualidade, como, por exemplo, o gaokao, o “Enem” do país. Vale dar uma lida neste fio de Rodrigo Zeidan sobre as desigualdades educacionais na China.
Mesmo com o cerco fechando para as gigantes de tecnologia, é nelas que os jovens chineses recém-formados mais querem trabalhar. Como aponta Xinmei Shen para o South China Morning Post, os altos salários são o principal atrativo no setor que, só no ano passado, representou quase 40% do PIB chinês (e crescendo). Huawei e Alibaba são as mais desejadas pelos recém-graduados, independentemente do curso de formação. Paralelamente, também cresce o interesse entre os jovens pelo serviço público chinês. Diferentemente do ritmo de trabalho das big techs e competição acirrada, a burocracia estatal tem horários mais fixos, além de benefícios mais atraentes para quem preza por estabilidade, apesar de salários muito mais baixos. Para uma geração que tem sido mais vocal sobre o propósito da vida e sua utilidade econômica, tempo livre tem se tornado um ativo cada vez mais relevante, como já comentamos aqui.
Esta história vale um cafezinho. Prata velha da casa, Peter Hessler escreveu um longo texto para o The New Yorker sobre a Olimpíada de Inverno de 2022, que vai ocorrer em Pequim em janeiro. O escritor reflete sobre tudo que está em jogo, desde tentativas de boicote que denunciam violações de direitos humanos em Xinjiang, às mudanças vistas nos arredores de Pequim, com vilarejos urbanizados em pouquíssimo tempo com os investimentos para a olimpíada. Hessler conversou com locais sobre os jogos e como eles criaram mais oportunidades para uma geração de camponeses que vivia desconectada da capital. Em um tom mais crítico do que o usual, as histórias de Hessler lhe transportarão para as montanhas gélidas de Chongli e valem cada minuto da leitura.
Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.
14º Plano Quinquenal e o agronegócio brasileiro: nossa editora sênior, Lívia Costa, entrevistou Larissa Wachholz, chefe do Núcleo China do Ministério da Agricultura, para o site Diálogo Chino. Para Wachholz, mesmo com pauta ambiental, é pouco provável que a China imponha cláusulas de sustentabilidade na soja e carne do Brasil. Confira a entrevista aqui.
História: muito antes do Apple Daily, o The Friend of China — primeiro jornal de Hong Kong — também teve seu editor chefe preso. A revista Zolima resgata essa história de dois séculos atrás neste texto.
Esperanto com sotaque mandarim: a ideia de criar uma língua universal, como o esperanto (世界语, ou shìjièyǔ), nunca foi muito para frente no mundo, é verdade. Mas este texto do Radii China fala sobre como uma surpreendente subcultura do 世界语 ainda resistia no país asiático, mas parece estar lentamente chegando ao fim. Para aprofundar ainda mais a leitura, vale este texto de David Cowhig.
Militares: o SupChina fez um bom e breve apanhado da história da Academia Militar de Whampoa, fundada em junho de 1924 pelo Guomindang (KMT). A instituição é peça chave na China moderna, com discurso de Sun Yat-sen na abertura e palco de disputas entre comunistas e nacionalistas.
Tuntitunti: a matéria da NeoCha fala sobre a história e o cenário da cultura rave em Chengdu, capital de Sichuan, que se tornou ponto de referência para a música eletrônica no país. Chengdu também é considerada a capital LGBTQIA+ da China.
Um, dois, três: ao longo das últimas semanas, temos publicado no nosso Instagram sobre as três irmãs mais famosas da China: as Soong. Para quem quiser ir além dos posts, vale conferir essa matéria com fotos. Ou até ir atrás do livro da Jung Chang, que saiu esse ano em português.
Acadêmico: a disputa entre China e EUA e suas consequências para Hong Kong, Taiwan e a indústria de semicondutores são tema do novo boletim do Grupo de Estudos e Pesquisa em Ásia Pacífico da Universidade Estadual da Paraíba.