Fotografia em cores de barcos simples de pescadores no mar da China.

Foto de Lisheng Chang via Unsplash.

Edição 278 – Tecnologia chinesa se destaca nos mares

Vacinas chinesas e gigantes de tecnologia na China

Uma semana depois de sua morte, a China se despediu do ex-primeiro ministro Li Keqiang em cerimônia em Pequim. As homenagens contaram com a presença de nomes importantes da política local, como Xi Jinping e o atual primeiro ministro Li Qiang. De acordo com a imprensa estatal, outros figurões do PCCh como o ex-presidente Hu Jintao não estiveram presentes. Após homenagem, o corpo de Li Keqiang foi cremado no cemitério de Babaoshan, onde estão os restos mortais de líderes do partido. Além de líderes partidários, populares prestaram sua homenagem a Li tanto em Pequim quanto em Anhui, província ao sul do país, onde o ex-primeiro ministro nasceu. O clima de comoção também foi combinado com alerta: no passado, mortes de líderes importantes foram seguidas de protestos em 1989, os eventos da Praça da Paz Celestial seguiram o falecimento do secretário geral do Partido e  reformista Hu Yaobang. Anos antes, em 1976, a morte de primeiro ministro Zhou Enlai foi seguida de grandes manifestações populares. Semana passada contamos como até uma música de amor virou alvo da censura para proteger Xi Jinping de críticas ligadas à morte de Li. 

O mar é o limite? A China está no centro das atenções de dois temas críticos que envolvem o mar: o primeiro é a expansão de sua capacidade de energia eólica offshore e o segundo, o rápido desenvolvimento de suas capacidades submarinas. No campo da energia eólica, o ritmo acelerado do desenvolvimento tecnológico e de infraestrutura apesar do espaço limitado da costa chinesa tem preocupado atores como a União Europeia, que lidera o setor. Sobre o crescimento das capacidades submarinas da China, o relatório da Faculdade de Guerra Naval dos EUA  destaca que a detecção dos novos submarinos chineses com propulsão nuclear já se apresenta como um desafio significativo. A expansão da marinha chinesa representa um processo histórico de seu desenvolvimento, e os atuais avanços são fundamentais para a definição e controle de territórios marítimos.

Saldos de 2019. Pesquisadores do Center for Asian Law na Georgetown University analisaram dados do governo de Hong Kong relacionados às respostas governamentais aos protestos de 2019. Mais de 10 mil pessoas foram detidas por envolvimento com as manifestações, 1/3 delas foi processado pelo Estado e 80% dos condenados receberam uma pena de encarceramento. A sobrecarga sobre o sistema judiciário é grande: o período de espera para julgamento aumentou em 50%, chegando a 287 dias. Entre os 1.500 casos encerrados até julho de 2021, 100 diferentes crimes foram apontados, o mais comum sendo unlawful assembly (reunião ilegal), e a idade média dos acusados foi de 23 anos; entre os 130 menores de idade condenados, mais de ​​66% foram encarcerados. Desde 2019, representantes políticos de Hong Kong têm sofrido diversas sanções internacionais. Na última semana, foi proposta no congresso dos EUA a sanção de 50 juízes e promotores honconguenses — o que, segundo observadores, poderia resultar em casos de segurança nacional sendo julgados na China Continental.

Estremecem as relações entre Filipinas e China. Nas últimas semanas, está havendo um pico de tensão em território marítimo disputado entre Manila e Pequim no Mar do Sul da China. Os EUA reafirmaram que iriam em defesa de Manila, caso as Filipinas sejam atacadas pela China e o Ministério das Relações Exteriores chinês rechaçou o que entende serem provocações dos vizinhos asiáticos com encorajamento estadunidense. Na esteira do episódio, Japão e Filipinas anunciaram um acordo para intensificar sua cooperação militar bilateral, com Tóquio fornecendo equipamento de monitoramento marítimo a Manila. O premiê japonês Kishida Fumio destacou que seu país coopera com os EUA e as Filipinas para garantir a segurança do Mar do Sul da China. Sinal da deterioração das relações China-Filipinas, autoridades filipinas anunciaram o cancelamento e a paralisação de diversos projetos no âmbito da Iniciativa Cinturão e Rota, o que o Asia Times considera ser um indício de que o país deve estar deixando a iniciativa.

Hora de assoprar. Após anos de frias relações entre China e Austrália, esta semana Xi Jinping recebeu Anthony Albanese, primeiro-ministro australiano, em Pequim. Essa foi a primeira visita oficial de um chefe de governo australiano à China desde 2016. No encontro, Xi e Albanese procuraram reatar os laços bilaterais, sobretudo comerciais, mas sem deixar de lado as diferenças políticas, como conta o The Japan Times.

Da ponte pra cá. Fechando o mês de outubro, no sábado (28), a China inaugurou o primeiro túnel subaquático em Bangladesh. Também conhecido como Túnel do Rio Karnaphuli, a obra é um marco para a Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) e para a cooperação entre Bangladesh e China. Construído em parceria entre os dois países, o túnel teve suas obras iniciadas em 2017 pela China Communications Construction Company, Ltd. e cobre uma extensão de 9,3 quilômetros. O Ministro dos Transportes Rodoviários e Pontes de Bangladesh, Obaidul Quader, elogiou a iniciativa e afirmou que a obra é uma “conquista monumental” para o país. Essa parceria foi fruto de extensas negociações, uma vez que Bangladesh foi o primeiro país do sul da Ásia a assinar um Memorando de Entendimento de cooperação da BRI com a China e, nos últimos anos, tem alinhado sua estratégia de desenvolvimento econômico à Iniciativa, o que aumentou a proximidade entre os dois países.

Staycation, a nova modinha na China pós-pandêmica. Muita gente mudou o conceito de lar depois de passar dias, semanas, meses e até anos trancado em casa na pandemia. Esse hábito de melhorias no lugar de dormir também afetou o setor de turismo. De acordo com o Jing Daily, cada vez mais jovens (ricos) chineses estão combinando turismo com estadias mais confortáveis e luxuosas, valorizando mais o local de hospedagem do que um simples “lugar para dormir” depois do turismo. Seria o novo conceito do turismo como experiência?

O número de pessoas vivendo com HIV/Aids na China cresceu 70 vezes nas últimas duas décadas, segundo dados do governo. Em 2002, a prevalência de casos era de 1,09 para cada 100 mil pessoas; em 2021, chegou a 79,62. A tendência já vêm sendo identificada há anos, e é atribuída à ampliação do acesso à testagem. Mais de um milhão de chineses atualmente convivem com o vírus e a doença, e a expectativa de vida tem aumentado – exceto pelo período da pandemia de Covid-19, quando o acesso a tratamento foi prejudicado. 

Solidariedade com a Palestina. Junto de Washington, Jacarta, Berlim, Londres e outras metrópoles pelo mundo, Hong Kong também viu ativistas se manifestarem contra o bombardeio indiscriminado de Gaza por parte de Israel. O ato, que destacou em um longo cartaz os nomes de quase 10 mil civis palestinos mortos, ocorreu nas proximidades do consulado israelense e foi acompanhado de perto por policiais à paisana, como relata o Hong Kong Free Press. Em 2021, autoridades locais proibiram a realização de protestos em solidariedade com a Palestina alegando preocupações sanitárias devido à pandemia e, no mês passado, intensificaram o monitoramento de “indivíduos suspeitos” nas comunidades judaica e muçulmana da região. Como um todo, casos de islamofobia e antissemitismo online vêm aumentando de número na China desde o ataque terrorista do Hamas no início de outubro.

reforma electoral en Hong Kong

A nossa cara: e não é que Eileen Chang, conhecida por suas histórias focadas na vida privada chinesa, considerou escrever sobre Zheng He? Infelizmente, ela teria desistido da ideia por achar que seus leitores nos EUA não se interessariam. 

Literatura: a China Books Review conversou com o escritor Murong Xuecun para entender como um romancista chinês se torna exilado político.

Leia mais mulheres: A Sixth Tone publicou uma reportagem sobre a incrível livraria em Shanghai dedicada aos escritos de mulheres. Vale a leitura (e o lembrete para sua próxima viagem).

Sobe o som! Charity SsB, rapper famoso da cena de Shanghai, lançou seu primeiro álbum, com faixas que misturam diversos gêneros musicais. O resultado pode ser conferido aqui.

Acadêmico: o VI Encontro Nacional da Rede Brasileira de Estudos da China e o VII Seminário Pesquisar a China Contemporânea divulgaram suas playlists com as gravações do evento simultâneo realizado presencialmente no fim de outubro na UFABC.

 

E se Karl Marx e Confúcio se encontrassem no palco de um programa de televisão para responder perguntas de estudantes e acadêmicos? Essa é a premissa do especial em cinco episódios Quando Confúcio conheceu Marx, da Hunan Television. Infelizmente, apenas alguns trechos chegaram ao YouTube com tradução para o inglês.

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