Fotografia em cores de vista aérea da Cidade Proibida iluminada à noite.

Foto de Dimitry B.

Edição 281 – O mistério da Terceira Plenária e o futuro da economia

Vacinas chinesas e gigantes de tecnologia na China

Vai rolar ou não? O Partido Comunista Chinês tem feito suspense sobre a data da Terceira Sessão Plenária do 20º Congresso Nacional do Partido. Normalmente realizada entre os meses de outubro e novembro, a reunião não foi mencionada no encontro do Politburo que se encerrou em 27 de novembro. A Terceira Plenária é aguardada por ser normalmente a ocasião em que o PCCh anuncia as diretrizes para os próximos cinco anos, geralmente referentes a aspectos econômicos — foi nesta ocasião que, em 1978, Deng Xiaoping lançou processo que deu início à abertura e reforma da economia chinesa. A expectativa para 2023 está relacionada a possíveis medidas para reverter a desaceleração da economia chinesa. Em texto para o Council of Foreign Relations, Carl Minzer discute se esse atraso não indicaria uma deterioração institucional do PCCh. 

Sem oposição. Algumas das figuras mais emblemáticas dos movimentos políticos que pararam Hong Kong em 2019 voltaram ao noticiário. Agnes Chow Ting, do partido de oposição a Pequim Demosisto (agora dissolvido), anunciou na segunda-feira (4) que não deve retornar à região — talvez nunca mais. Vivendo no Canadá, onde faz mestrado, Agnes deveria se apresentar à polícia de Hong Kong nas próximas semanas. A ativista revelou que, para recuperar o passaporte retido após 10 meses de detenção, aceitou ser levada pela polícia em uma viagem educativa a Shenzhen em dezembro de 2022 e forçada a escrever cartas de agradecimento aos policiais e de arrependimento por sua atuação política. Enquanto isso, na segunda-feira, o julgamento de parte dos 47 de Hong Kong (apenas os 16 que se declararam inocentes), iniciado em fevereiro, chegou ao fim sem prazo para um veredito. Joshua Wong, ex-colega de partido de Agnes, está entre os 31 que se declararam culpados e segue preso por outros crimes relacionados aos protestos.

O jornal South China Morning Post tem sido notícia — das ruins. Amigos da repórter Minnie Chan, que trabalha para o veículo, soaram o alarme para o jornal japonês Kyodo News: Chan foi a Pequim no final de outubro para cobrir um fórum de diplomacia militar, publicou matérias até o início de novembro e não voltou para Hong Kong. A suspeita é de que ela possa estar detida por conta de seu trabalho. O SCMP informou que Chan estaria de licença pessoal, mas veículos internacionais e órgãos profissionais locais seguem preocupados: segundo a Al Jazeera, no ano passado, um jornalista do SCMP esteve afastado na China continental por meses, retornando para cobrir pautas menos políticas. Outro ponto de descrédito para o jornal foi a revelação de que o autor de um editorial político polêmico (agora retirado do site) simplesmente não existe. Como apontou o Hong Kong Free Press, não é a primeira vez que isso acontece.

A relação entre IA e desenvolvimento econômico é bastante questionável, mas o governo chinês parece estar caminhando para uma regulação que vê o avanço tecnológico como um catalisador da economia. Isso é o que a professora Angela Zhang defendeu em publicação nas redes sociais comentando uma decisão da Corte de Internet. A visão da China tem se aproximado de um licenciamento de direitos de propriedade para trabalhos de arte usando inteligência artificial, diferente de como isso tem sido tratado em outros países. Este texto do The Diplomat detalha a visão que a China tem sobre IA; a relação positiva do país com a tecnologia é retratada em relatório recente da McKinsey, publicado pelo SCMP; e o Radii discute o papel de IA para o futuro do e-commerce. Se você realmente curte governança de inteligência artificial, fica a dica da edição recente da ChinaAI sobre o tema.

A China segue nos holofotes na COP 28, realizada em Dubai. A primeira parte do evento — da qual participam chefes de Estado e governo — já acabou, mas as negociações continuam rolando. O enviado especial chinês para o clima Xie Zhenhua apresentou números e estimativas: o país deve atingir o máximo da emissão de carbono em 2030, rumo ao objetivo de zerar as emissões de carbono até 2060. As metas para o intervalo de 2030-2035 devem ser lançadas em 2025. O China Policy fala em um “menor entusiasmo” de Pequim com a redução de emissões de carbono nesta edição da COP. Apesar disso, o Politico afirma que países como a China estão no centro do debate, e John Kerry, o enviado especial para o Clima dos Estados Unidos, disse que as duas maiores economias do mundo vão trabalhar conjuntamente em relação ao clima.

A influência chinesa sobre a mídia na Indonésia é o tema desta matéria do SCMP, que comenta o crescimento no que é considerado pressão ou poder chinês sobre as notícias do vizinho. No ano passado, um relatório do think tank estadunidense Freedom House já havia questionado as parcerias da mídia  indonésia com veículos chineses, as quais coincidiram com um viés mais positivo nas matérias sobre Xinjiang e o impacto de sucesso dos projetos da Iniciativa Cinturão e Rota no país, especialmente do trem bala que liga Jacarta a Bandung. Para a Associação de Jornalistas Independentes da Indonésia, falta um pouco de senso crítico aos jornalistas — que aceitam viagens com tudo pago para o país.

Hackeamento estratégico. A pesquisadora Antonia Hmaidi, do think tank Merics, publicou um relatório sobre a persistência de ataques hackers em setores estratégicos ao redor do mundo por parte de agentes chineses. Afiliados ou ao menos contando com o apoio do governo, esses grupos teriam se especializado em ataques não disruptivos para a obtenção de dados e sobretudo para garantir acesso de longo prazo a comunicações sigilosas. Segundo Hmaidi, os atores chineses teriam remodelado suas capacidades para tornar a atribuição de autoria mais difícil e para aumentar sua capacidade de resposta. Com efeito, nas últimas semanas surgiram denúncias de que hackers chineses teriam roubado dados de fabricação de chips da neerlandesa NXP e espalhado malware entre servidores do Ministério das Relações Exteriores do Uzbequistão, ações que não parecem ser nada aleatórias.

Futebol. A BBC News publicou um rico panorama do esporte na China, sobretudo da liga de futebol masculino e como esta acompanhou movimentos da política nacional. Como já falamos por aqui, Pequim decidiu investir pesado no esporte para tornar-se uma força futebolística ainda no início da década de 2010; porém, em 2020, novas políticas foram adotadas para conter o endividamento excessivo dos clubes de futebol. Isso, claro, refletiu-se nos campos: menos de dez anos atrás, jogadores de grande nome internacional estavam sendo contratados por quantias milionárias para jogar na liga chinesa, como os brasileiros Hulk e Oscar. Mas agora a bolha estourou, o movimento inverteu, cartolas foram presos por corrupção e algumas torcidas ficam a ver navios.

Testemunhas também são vítimas. É esse entendimento da Suprema Corte chinesa sobre crianças que testemunham violência doméstica. Como mostra o Sixth Tone, a corte publicou 10 casos em que esse entendimento foi aplicado para garantir direitos e proteções de vítimas de violência doméstica no país. Esses exemplos estimulam o debate sobre proteção e custódia de menores que passarem por essa situação, um tema  que tem ganho um crescente número de legislações. 

Um documento misterioso. Imagine que você aproveitou as promoções (verdadeiras ou não) da Black Friday para comprar um casaquinho novo e, ao vestir a peça, encontra no forro um documento de identidade de um possível…. prisioneiro. Isso aconteceu com uma mulher no Reino Unido que comprou uma peça da marca Regatta.. O caso levantou suspeitas sobre trabalho análogo à escravidão por parte de presidiários chineses, o que a empresa nega.Não é a primeira vez que a exploração de mão de obra de pessoas encarceradas na China vira pauta entre consumidores e mídia ocidentais,  nem mesmo no Reino Unido, embora países como Estados Unidos também adotem essa prática.

reforma electoral en Hong Kong

Cinema: o filme chinês Stonewalling foi premiado no festival Cavalo Dourado, de Taipei, como melhor narrativa. Trata-se de uma saga de uma jovem que engravida e se vê num dilema entre carreira, ajuda aos pais e vida pessoal, e sobre a ideia de ser mãe. 

Livro: Fuchsia Dunlop já lançou oito livros sobre culinária da China e é uma das mais famosas autoras desse tema. No recém-lançado Invitation to a Banquet: the story of Chinese food, ela apresenta uma pesquisa focada em desmistificar a história e tradições dos banquetes.

TV: vem conhecer o reality show The Big Band. A terceira temporada veio com muita ansiedade para os fãs de rock — já que o programa se tornou um excelente lugar para descobrir novas bandas (até as meio rebeldes) que antes estavam escondidas no mundinho underground.

Música: aliás, está imperdível a música sucesso dessa temporada — 大梦, da banda Vareihnaz 瓦伊纳, sobre a vida de um trabalhador. Para acompanhar as letras (em inglês e mandarim) confira aqui.

Último do ano: ainda dá tempo de ler o último livro do nosso Clube do Livro! A obra é a fantasia A Guerra da Papoula (vol. 1), da autora R.F. Kuang e o encontro será dia 19/12, às 19h.

 

Confira o trailer de Ruthless Blade, um filme de animação chinês do gênero wuxia, ligado a artes marciais.

 

%d blogueiros gostam disto: