Fotografia em cores de celular na tela de carregamento do app TikTok. Ao fundo, a bandeira da China.

Foto de Solen Feyissa via Unsplash.

Edição 292 – TikTok sob ameaça de banimento nos EUA (de novo)

Vacinas chinesas e gigantes de tecnologia na China

Lei de Moore, querendo ou não. Durante as sessões legislativas anuais em Pequim, foi anunciado um aumento de 10% nos investimentos em ciência e tecnologia, a maior alta em qualquer área do governo, superando setores como defesa e segurança pública.  Essa ação pode, em parte, ser explicada como uma resposta ao confronto tecnológico com os EUA, como analisou Alex Lo para o South China Morning Post (SCMP), uma vez que China tem buscado impulsionar a autossuficiência tecnológica investindo na criação de um ecossistema doméstico de semicondutores. Recentemente, a Secretária de Comércio dos EUA, Gina Raimondo, afirmou que o seu país precisa intensificar os subsídios na produção de semicondutores.

Na velocidade sete do créu. Só foram necessários nove dias para a publicação, na última sexta-feira (8), do rascunho da lei sobre segurança nacional de Hong Kong, conhecida como Artigo 23 – isso apesar dos 13 mil comentários recebidos durante o breve período de consulta pública. Conforme esperado, o texto expande a Lei de Segurança Nacional (LSN) imposta em 2020, incluindo crimes de insurreição, sabotagem (inclusive por meios digitais), interferências externas e colaboração com agências de inteligência estrangeiras. É possível ler o documento completo (em inglês), mas o SCMP dedicou uma página especial à explicação e contextualização da nova lei, incluindo críticas e um histórico político. Apesar do vice-premiê chinês Ding Xuexiang ter pedido celeridade na implementação, o Conselho Legislativo de Hong Kong fez alterações no texto que, segundo críticos, deixarão a lei ainda mais repressiva. A aprovação da LSN em 2020 é apontada, junto com a pandemia de Covid-19, como uma das razões da debandada de empresas estrangeiras e turistas da cidade. Por isso, especula-se que a aprovação do Artigo 23 possa afetar a retomada econômica de Hong Kong, focada no turismo e na atração de capital estrangeiro.

Acelerando a transição. Antes das Duas Sessões agora em março, em janeiro e fevereiro ocorreram assembleias parecidas no âmbito provincial. Nelas, os carros movidos a novas energias foram um dos principais focos da maioria das províncias chinesas, conforme analisou You Xiaoying para o China Dialogue. Diversas medidas devem ser adotadas por governos locais para estimular a produção e venda desses automóveis: Sichuan, por exemplo, comprometeu-se a expandir o número de pontos de recarga e troca de bateria de carros elétricos, enquanto Urumqi planeja tornar-se uma cidade piloto para a o uso de hidrogênio verde em automóveis. Essas decisões informaram os trabalhos das Duas Sessões, que confirmaram o apoio de Pequim a essas novas tecnologias.

O crescimento da indústria automobilística chinesa, sobretudo no setor dos carros elétricos, vem incomodando atores tradicionais desse mercado. A União Europeia agora considera impor impostos retroativos a veículos importados da China para o mercado comum europeu devido a subsídios conferidos por Pequim a suas empresas, que são considerados danosos à indústria europeia.

Estamos em 2020 de novo? Querer banir o TikTok dos EUA não foi prerrogativa do governo Trump. Um projeto de lei avançando rapidamente no Congresso estadunidense pode levar ao desvinculamento do aplicativo da sua dona ByteDance — ou pelo menos, essa é a ameaça, sob o velho argumento de influência do Partido Comunista da China no app e, portanto, em milhares de cidadãos estadunidenses. A preocupação não é apenas com o ano eleitoral, mas com a coleta e transmissão de dados de cidadãos dos EUA para bases na China. O projeto Protecting Americans from Foreign Adversary Controlled Applications Act cobra a venda do aplicativo para uma empresa não chinesa ou sua remoção das lojas. Com apoio de Democratas e Republicanos, o projeto foi aprovado hoje (13) pela Câmara por 352 votos contra 65 e ainda precisa ir ao Senado (onde a aprovação deverá ser mais difícil). Segundo o The Wall Street Journal, a notícia do projeto pegou a empresa de surpresa, que reagiu com um aviso na tela de abertura, convocando usuários a se manifestarem diretamente aos parlamentares, o que deixou alguns deles irritados e deu ruim para a empresa (assim como numa situação parecida no Brasil). No SXSW, um professor dos EUA jurou que o TikTok vai ser vendido antes de ser banido, conta a Valor Investe. Se passar, a empresa disse que vai parar na justiça.

Cresce a presença de chineses no mercado imobiliário madrilenho. Segundo apurou a ABC, o número de compradores de imóveis na capital espanhola vindos da China subiu cerca de 30%, atingindo uma fatia de 3% do mercado imobiliário da cidade. A tendência de crescimento se acentuou em 2023, mas vem desde a pandemia de Covid-19. A Espanha concede vistos de residência a estrangeiros que invistam no mínimo 500 mil euros no país — e a procura por imóveis dessa faixa de valor por parte de chineses cresceu significativamente. A matéria, no entanto, ressalta que a maioria dos imigrantes chineses procura de fato morar nos imóveis adquiridos e não são grandes investidores. A Irlanda passou por situação semelhante até encerrar em 2023 o seu programa de vistos facilitados para quem adquirisse casas de alto valor após ver um aumento vertiginoso dos preços de imóveis no país.

“Uma desgraça para a civilização”, essas foram as palavras usadas por Wang Yi, ministro das Relações Exteriores da China, para descrever o ataque de Israel na Faixa de Gaza. A afirmação foi feita em coletiva de imprensa sobre as Duas Sessões realizada na quinta-feira (7), ocasião em que Wang também reforçou a necessidade de um cessar-fogo imediato e de urgente ajuda humanitária na região, conforme noticiou o Le Monde. Além disso, também foi frisado o apoio chinês à admissão da Palestina como Estado membro da ONU e a crítica a membros permanentes do Conselho de Segurança que vetam a medida. Às vésperas do Ramadã, a fala de Wang vem na esteira de marcada piora da situação humanitária e alimentar em Gaza, onde mais crianças foram mortas nos últimos meses do que em todos os conflitos armados nos quatro anos anteriores ao atentado do Hamas.

Agora os nacionalistas foram longe demais. Em fevereiro, um blogueiro decidiu processar um escritor chinês por considerar que suas obras prejudicam a imagem do PCCh e insultam a memória de Mao Zedong. O réu, no caso, é Mo Yan, único autor chinês não dissidente a vencer um prêmio Nobel de literatura. Mais do que isso: no ano da premiação, 2012, Mo era membro ativo do PCCh. O blogueiro pede que os livros de Mo Yan sejam tirados de circulação, que o autor se desculpe publicamente e que pague multa de 1 renminbi por pessoa chinesa. É pouco provável que o romancista seja condenado: desde o prêmio Nobel ele é regularmente celebrado pelo governo. E os nacionalistas já tem novo alvo, sobre o qual podem agir diretamente: Nongfu Spring, a maior engarrafadora de água do país, é foco de boicotes por ser supostamente pró-Japão e pela rivalidade contra outra marca chinesa cujo dono, falecido recentemente, vem sendo muito celebrado em seu patriotismo. As ações da companhia estão em queda, atingindo perdas de mais de 30 bilhões de renminbis.

Mais infiltrados? O ex-engenheiro de software da Google Linwei Ding foi acusado pelo Departamento de Justiça dos EUA de roubar segredos comerciais de inteligência artificial (IA) da gigante estadunidense enquanto trabalhava secretamente para duas empresas sediadas na China. De nacionalidade chinesa, Linwei foi detido em Newark, Califórnia, enfrentando quatro acusações de roubo de segredos comerciais, cada uma passível de até 10 anos de prisão.  O caso foi descoberto e denunciado pela própria Google após uma série de investigações internas. As acusações reforçam as preocupações com episódios de espionagem, com o agravante de dizer a respeito ao tema sensível da Inteligência Artificial.

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Macio: Um dos tecidos mais gostosos famosos do mundo e que todo mundo relaciona com Ásia? A seda é o tema deste ensaio na Aeon que analisa a história do material e a sua conexão com a China. 

Clube do Livro: Ainda é tempo! Pare tudo o que você está fazendo e leia Severance, de Ling Ma. Depois venha conversar com a gente no nosso encontro do dia 25. 

Podcast: O NüVoices fez uma entrevista com a feminista Leta Hong Fincher para comemorar os 10 anos de seu clássico Leftover Women e apontar sua lamentável relevância atual.

 

Michael Moy, policial e ex-membro da gangue Fuk Ching, que operava na Chinatown de Nova York, levou o pessoal do SCMP para uma turnê pelo seu antigo território.

 

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