Fotografia em cores noturna de ponte sobre águas em Chongqing, na China. A ponte, iluminada, estaiada e com uma passagem aberta para os carros em seu pilar central, tem um efeito de alta-tecnologia. Ao fundo, arranha-céus iluminados.

Foto de Toby Yang via Unsplash.

Edição 294 – China e EUA disputam chips, mas chegam a acordo sobre IA na ONU

Vacinas chinesas e gigantes de tecnologia na China

Políticos que usam instituições para combater seus inimigos? Um estudo publicado por dois pesquisadores que estão nos Estados Unidos mostra como integrantes do PCCh usaram relatórios de mídia sobre corrupção para minar seus adversários políticos. O estudo fez uma análise de fatos e dados entre 2000 e 2014. Uma primeira versão do documento foi publicada em 2022, mas sua segunda edição — com mais atualizações — acaba de sair no periódico Political Science Research and Methods. Segundo o SCMP, a visão impressa sai no mês que vem. O estudo foi conduzido por Ji Yeon Hong, professor da Universidade de Michigan, e por Leo Yang, pós-doutorando do Centro de Estudos sobre China de Stanford. Os autores compararam as biografias de autoridades para determinar se havia laços políticos entre determinados secretários do PCCh nas províncias e membros do Comitê Permanente do Politburo. Eles cruzaram essas informações com a frequência de relatórios na imprensa para promover o trabalho dessas autoridades. Com essa metodologia, segundo o SCMP, os autores mostraram que autoridades-chave das províncias, em especial aqueles com laços com membros do Politburo, tinham maior probabilidade de promover cobertura midiática sobre corrupção contra rivais políticos. 

Segura aí. A Administração de Ciberespaço da China – quiçá um dos órgãos mais ativos do país – lançou uma nova regulação, dessa vez sobre exportação de dados. O pesquisador Rogier Creemers tuitou um fio sobre as regras, esclarecendo algumas das disposições atuais, como por exemplo o volume dos dados “importantes” que podem ser exportados, o fluxo de dados pessoais/não-sensíveis e a criação de áreas teste de regulação desses dados dentro de Zonas de Livre Comércio (e sob aprovação). Além das grandes empresas, as novas regras também impactam Pequenas e Médias Empresas, pesquisadores e órgãos públicos (que precisam avaliar esses processos).

Mais um dia na batalha EUA-China. Seguindo a disputa nos chips, peça-chave para a transição energética no mundo e para o desenvolvimento tecnológico, Pequim estaria restringindo o uso de produtos da Intel e da AMD, segundo reportagem do Financial Times. Com base nesta possibilidade, a Reuters analisa o impacto que isso teria na economia estadunidense, e global. Enquanto isso, os EUA e o Reino Unido acusam Pequim de espionagem no campo político, como reporta o The New York Times. Mas nem tudo está perdido nas relações sino-americanas, como o Axios mostra. Os dois países concordaram em um texto sobre Inteligência Artificial e Direitos Humanos na ONU, o que seria a primeira resolução sobre o tema a ser aprovado pela organização. 

Crescem as exportações para o Sul Global. Nos últimos 12 meses, a balança comercial chinesa apresentou um saldo positivo, puxado sobretudo por um crescimento das vendas para países em desenvolvimento. De acordo com dados preliminares levantados pelo Asia Times, houve um aumento expressivo das exportações para Índia, Brasil, Indonésia, África do Sul e outros países do Sul Global nos primeiros meses de 2024. Com isso, os países em desenvolvimento ultrapassaram o Norte Global como principais destinos das exportações da China. Chamou a atenção também o aumento das vendas para países da Ásia Central: na comparação entre 2022 e 2023 houve um aumento de 27% nas exportações chinesas para a região.

Mais casamentos, mais desafios. Em 2023, 7,68 milhões de casais na China se uniram oficialmente, um aumento de 12,4% em comparação com o ano anterior. O número marca uma reversão da tendência observada nos últimos nove anos, possivelmente fruto dos muitos incentivos criados pelo governo para incentivar altas na também descendente taxa de natalidade. No entanto, a capacidade governamental de incentivar mudanças sociais ainda é limitada em pontos importantes: apesar dos avanços significativos nas leis contra violência doméstica e contra a mulher, todo ano registra aumento no números de ordens de proteção pessoal emitidas pelos tribunais chineses. Durante as últimas sessões plenárias anuais do PCCh, o tema como um todo foi abordado como uma questão séria de segurança pública.

E o que você achou? Quem ainda não assistiu a adaptação da Netflix para o livro O Problema dos 3 Corpos deve estar com dificuldades de acompanhar as conversas na sinosfera – e também fora dela, já que até a jornalista-meme Isabela Boscov já manifestou suas opiniões. Isabela gostou, mas sabe quem odiou? Sim, eles: os nacionalistas, embora a Netflix não opere na China. A crítica mais comum é bastante óbvia para quem leu a obra: alguns personagens chineses foram substituídos por novos, de diferentes nacionalidades, cores e gêneros. Também há quem aponte que a representação da violência ocorrida durante a Revolução Cultural pegue mal para o país (tem quem ache isso bom). Teve quem prefira a adaptação chinesa (que voltou a bombar), quem goste das duas. Talvez a opinião mais certeira seja mesmo a mais simples: por ser uma adaptação para o público global de uma obra chinesa, a série já é um sucesso de soft power. Os oito episódios disponibilizados na última quinta-feira cobrem o primeiro livro (2008)  da celebradíssima trilogia de ficção científica de Cixin Liu – que, aliás, aprovou a “diversidade” incluída na adaptação.

reforma electoral en Hong Kong

Sério: o que você achou? Venha conversar com a gente sobre O Problema dos 3 Corpos e suas questões existenciais! Dia 6 de abril, às 16h, na nossa querida Aigo, em São Paulo. Vamos contar com a participação da pesquisadora e jornalista de tecnologia Rita Wu e da física e jornalista Ana Luiza Sério.

Fogaréu: a newsletter Far and Near entrevistou o fotógrafo Zhang Xiao, que registrou imagens do festival Shèhuǒ (社火) – um evento tradicional de cultura popular que ocorre na região norte do país e as suas mudanças ao longo do tempo.

Musical: driblando perguntas cringe, o pianista Lang Lang concedeu uma entrevista ao Berliner Zeitung em que falou sobre sua infância na China, as diferenças entre música chinesa e europeia e sobre suas  influências musicais.

 

Sim, ainda falando d’O Problema dos 3 Corpos: a adaptação preferida da acadêmica Chenchen Zhang é este vídeo de 15 minutos feito por fãs dos livros. Vale ativar as closed captions para ler a narração traduzida para o inglês.

%d blogueiros gostam disto: