Foto de bandeiras no prédio do Parlamento Europeu, com a bandeira da China em primeiro plano e outras bandeiras europeias e o logo do Euro

Foto de European Parliament sob licença CC BY-NC-ND 2.0.

Edição 300 – China está engajada em melhorar relação com europeus

Vacinas chinesas e gigantes de tecnologia na China

Estímulo fiscal. O governo central chinês deve levantar 1 trilhão de renminbi (cerca de 710 bilhões de reais) através da emissão de títulos públicos de longo prazo nesta sexta-feira (17). O Ministério da Fazenda da China deve lançar títulos públicos com 20 a 50 anos de prazo com o intuito de prover apoio financeiro à implementação de projetos tidos como estratégicos e, de quebra, estimular a economia do país. O Financial Times também assinalou que a medida é bastante parecida com o que foi feito durante a pandemia de Covid-19 com a marcada diferença de enfoque: enquanto em 2020 a quantia foi levantada para garantir alguma estabilidade econômica, agora o foco parece ser o apoio financeiro à reestruturação da economia.

O cenário econômico desanimador também motiva algumas empresas europeias a tirarem seus investimentos da China, pelo que conta esta matéria da Caixin. A Câmara de Comércio Europeia no país na sexta (10) lançou a sua pesquisa anual realizada com associados sobre confiança nos negócios na China. Os dados apontam que as expectativas com o cenário econômico atingiram o recorde mais baixo desde o começo da pesquisa há 20 anos (44% estão pessimistas) e apenas 13% dos respondentes consideram a China como destino prioritário para investimentos (era 27% em 2021) e 68% afirmaram que o cenário está mais difícil (um recorde máximo). O crescimento econômico lento se soma aos desafios com insegurança jurídica com novas regulações e o que alguns vêem como favoritismo a empresas chinesas. A Câmara representa 1700 associados europeus, incluindo grandes empresas do setor automobilístico, farmacêutico, energia e mais. No início do mês, o Xi Jinping anunciou que irá criar mais oportunidades para empresas europeias durante a sua viagem – abrindo mais os setores de serviços, telecomunicações e saúde. 

Crise de identidade. A gente sabe muito bem que o TikTok tem sido alvo de preocupações sobre segurança de dados e potencial censura por parte do governo dos EUA. Recentemente, o presidente Joe Biden sancionou o projeto de lei que exige que a ByteDance, empresa controladora chinesa do TikTok, venda o aplicativo dentro de 270 dias ou o retire das lojas de app no país. Esta matéria da Rest of World tem relatos de funcionários sobre a tentativa de diversificar a nacionalidade dos funcionários da empresa. O que embaralhou tudo por lá. Houve a nomeação de uma série de dirigentes não chineses, incluindo o presidente executivo. 

Apesar do esforço para “dessinicizar” a empresa, a transferência de pessoal não tranquilizou legisladores americanos.  Diante disso, o TikTok tem tentado mudar sua estratégia de defesa em Washington, adotando  uma postura mais proativa. Iniciativas sobre proteção de dados dos usuários dos EUA e mais transparência são medidas anunciadas, mas a resposta do governo estadunidense tem sido pouco positiva.

Depois de Paris e da Sérvia,  o presidente Xi Jinping desembarcou na Hungria, última parada durante visita ao continente europeu. O clima foi diferente do encontro com Emmanuel Macron, e como apontou a AP, a Hungria configura o único país da Europa a ver investimentos chineses como indispensáveis. Xi e Viktor Orbán também incluíram na pauta a celebração de 75 anos das relações sino-húngaras.  Os dois países anunciaram uma parceria comercial ampla, para todas ocasiões, na contramão do restante do continente europeu, que vem tentando reduzir risco e dependência chinesa. A ida de Xi à Europa reacendeu o debate sobre o posicionamento chinês em relação ao conflito entre Rússia e Ucrânia. Por falar nisso, vamos deixar para semana que vem os detalhes (ainda em curso), mas nesta quinta-feira (16) teve início a visita de Vladimir Putin à China.

Nem tudo é diplomacia nas relações do Norte Global com a China.  A administração de Joe Biden voltou a fazer ofensivas comerciais e políticas contra a China. Mais empresas chinesas entraram numa lista de restrições devido ao controverso (e jamais esquecido) episódio do balão. Um total de 37 companhias foram adicionadas a esse grupo pelo Ministério do Comércio dos EUA, sendo oito delas supostamente envolvidas no sobrevoo de balões chineses ao território estadunidense. A embaixada chinesa nos EUA criticou a ação e a classificou de bullying e contenção econômica. Biden também deve anunciar a taxação de 100% dos veículos elétricos chineses no país. A China é um importante líder nesta indústria. 

Os hackers chineses tiram férias? Recentemente surgiram suspeitas de que o Ministério da Defesa do Reino Unido havia sido hackeado por atores financiados pelo Estado chinês, resultando em uma violação massiva de dados. O ataque visou principalmente o sistema de folha de pagamento, expondo nomes e dados bancários. O governo britânico não confirmou publicamente a identidade do país responsável, mas diversos membros do setor mais conservador têm acusado a China. O Ministério das Relações Exteriores da China negou as acusações e condenou o uso político do incidente. O Ministério da Defesa britânico está investigando a extensão do hack. O incidente levanta preocupações sobre a segurança cibernética e as relações com a China, especialmente em meio à visita do presidente Xi Jinping à Europa.

Um terço dos chineses vivem em cidades que estão afundando. Esta é a conclusão de um estudo publicado em abril na revista científica Science. Cerca de 270 milhões de chineses vivem em cidades que estão gradualmente submergindo. A pesquisa, reportada pelo Asian Times, foi realizada por meio da análise de imagens de satélite entre 2015 e 2022 nas 82 cidades mais importantes da China. Os autores observaram o assentamento de terra nessas cidades e concluíram que 37 delas estão afundando. Eles reportaram ainda que perto de 70 milhões de pessoas estão vivenciando uma depressão do solo na ordem de 10 milímetros ao ano. Eles fazem um alerta sobre o quanto isso eleva certos riscos, como no caso de alagamentos, mesmo para cidades que estejam longe de rios ou da costa. As causas indicam atenção para áreas com minas, aterramento marítimo e alto uso de água puxada do solo. Em tempos em que estamos vendo as tristes cenas do Rio Grande do Sul, o dado chama mais atenção, sobretudo levando em conta o fato de que estudiosos indicam que o afundamento de grandes cidades está majoritariamente ligado à ação humana. Em 2021, durante as trágicas enchentes em Henan, o tema de “cidades-esponja” estava na pauta como uma solução – assim como está agora no Brasil para pensar como mitigar casos semelhantes. 

Vamos falar de chá? HeyTea, uma marca chinesa de chá com leite, começou em uma pequena cidade e se tornou um fenômeno global, refletindo a capacidade das marcas locais de conquistarem mercados internacionais. Sua ascensão, alimentada por jovens estudantes que promoviam a marca em suas escolas, ganhou a graça dos consumidores com muita força nas redes sociais e pelo marketing boca a boca. Além de ter influenciado o cenário de bebidas no país, a HeyTea inspirou uma série de novas marcas de chá e café em Jiangmen, consolidando a cidade como um centro de inovação de bebidas. Esta evolução não apenas impulsionou a economia local, mas também demonstrou como pequenas cidades podem se reinventar e influenciar tendências nacionais e internacionais. Lembrando que não foram só os chás de leite que ganharam seguidores, os eventos intitulados “batalhas dos chás” tem atraído cada vez mais fãs e investidores ao redor do mundo para esse mercado.

reforma electoral en Hong Kong

Evento: no sábado (18), o Observa China realiza online o evento “50 anos Brasil-China e 45 anos Portugal-China: fortalecendo diálogos”. Será às 10h BRT, transmitido no YouTube.

Tradução: esta edição do ChinaAI faz análise do recém lançado  The Chinese Computer: A Global History of the Information Age, de Thomas S. Mullaney. O livro conta a ótima história de como o teclado que estamos mais acostumados a ver por aí (QWERTY, para os íntimos) vira — ou é traduzido em caracteres chineses no seu computador.

Livro: a obra Esquizofrenias reunidas: Ensaios, de Weijun Wang, acabou de ser lançada em português. Esmé Weijun Wang é de família taiwanesa, mas nasceu e vive nos EUA. Esse é o seu segundo livro – o primeiro (The Border of Paradise) também trata de saúde mental (e migração). 

Celebração: perdemos a data, mas no início do mês foram comemorados os 105 anos do Movimento 4 de maio que ocorreu em 1919 na China. Liderado por intelectuais, foi um dos maiores protestos estudantis do país e altamente reprimido. O pesquisador Jeff Wasserstrom fez um texto e sugeriu obras sobre o tema.

Loirinha: os swifties (ou fandom da cantora Taylor Swift) chineses são o tema desta edição do Active Faults.

 

Este episódio do The China in Africa Podcast fala sobre as relações entre China e África em meio às disputas geopolíticas.

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