Fotografia em cores de soldados em formação em campo gramado.

Foto de Zhiwen Cai via Unsplash.

Edição 306 – Ex-ministros da Defesa são expulsos do Partido Comunista Chinês

Vacinas chinesas e gigantes de tecnologia na China

Conservação ecológica e Desenvolvimento no Huang He. Xi Jinping fez uma visita importante à  região autônoma de Ningxia Hui, no noroeste da China, onde falou sobre conservação ecológica e sobre o desenvolvimento de alta qualidade da Bacia do Rio Amarelo. Nos últimos anos, a região tem se destacado com os avanços na área de conservação ecológica. Mas voltou a acender um alerta de preocupação sobre a qualidade da água das bacias principais dos rios Yangtze, Amarelo e Lancang. Essa visita faz parte de inspeções recentes que Xi fez na província de Qinghai, onde ele enfatizou o papel ambiental e econômico da Bacia do Rio Amarelo da China e pediu esforços para proteger a região, sua biodiversidade e melhorar as capacidades de conservação da água. Lembrando que Qinghai conta com nada mais nada menos do que uma subestação de ultra-alta tensão que foi equipada com um sistema de combate a aeronaves não tripuladas, fica aí a reflexão.    

Expulsos. Mostrando que a América Latina não está sozinha lidando com militares corrompidos, essa semana ficou marcada pela expulsão de dois ex-ministros da Defesa do Partido Comunista da China. Li Shangfu e Wei Fenghe foram removidos pelo Politburo sob acusações de corrupção e enriquecimento ilícito, além de comprometimento da disciplina partidária e militar. Ambos já vinham sendo investigados desde pelo menos o final de 2023. Suspeita-se de perseguição política contra oficiais não considerados suficientemente leais ao governo de Xi Jinping. Nessa história toda, o The Wall Street Journal ressaltou que os frequentes casos de corrupção nas forças armadas da China põem em xeque o estado de prontidão para combate do país. De fato, no início de junho, o próprio Xi falou de sérios problemas arraigados no Exército de Libertação Popular— comentário feito na esteira da maior reorganização das instituições militares do país desde 2015, que incluiu a dissolução das Forças de Segurança Especiais.

A ciência desenvolvida na China cresce rapidamente. Não apenas universidades e pesquisadores chineses estão entre os que mais publicam em jornais de alto nível, mas a qualidade das pesquisas tem se tornado cada vez mais referência em áreas como engenharia e ciências naturais. Esse progresso todo, contudo, é recebido com cautela e preocupação por formadores de opinião nos Estados Unidos, que temem que o crescimento vertiginoso ponha em risco a hegemonia de Washington em áreas estratégicas para a segurança nacional. O artigo, publicado pela The Economist, argumenta que os Estados Unidos precisam agir rápido para manter sua posição corrida tecnológica do século, marcada por progressos em inteligência artificial, energia verde e avanços espaciais. Em resposta, Hu Weijia, jornalista do Global Times, publicou um editorial ressaltando que o pessimismo estadunidense não precisa ser o único caminho: há mais a se ganhar com cooperação científica do que instigar rivalidades. 

A disputa pela liderança em inovação não é um assunto novo e não se resume a Washington e Pequim. Tanner Greer e Nancy Yu fazem um ótimo resumo na Foreign Policy do porquê inovações tecnológicas são vistas como questões geopolíticas, e traçam desde a Dinastia Qing a prioridade que o Partido Comunista Chines e Xi Jinping dão ao tema. 

Um grande passo. Falando em ciência, a China lançou há pouco tempo a sua sonda no polo sul da Lua. Depois de quase dois meses, ela já voltou com amostras e o país agora é o único a ter amostras daquela região lunar e as autoridades consideraram a missão um sucesso, conta a Al Jazeera. Não só de protecionismo vive a China: em uma conferência de imprensa, oficiais chineses deixaram o convite para cientistas ao redor do mundo participarem da pesquisa e análise das amostras. O comentário é feito também como crítica a uma emenda dos EUA que proíbe a cooperação científica em certos temas – enquanto parcerias foram feitas na missão com a Agência Espacial Europeia e de outros países.

Mas não param por aí as aventuras espaciais: em agosto (a princípio no dia 05), o país vai começar a mandar literalmente para os ares uma mega constelação de 12 mil satélites de baixa órbita para fins comerciais no acesso à internet – e deve disputar com a Starlink de Musk. O processo é demorado e o primeiro lançamento deve levar cerca de 18 satélites apenas.

Uma Nova Fase da Diplomacia Chinesa. Nos últimos cinco anos, a estratégia conhecida como “diplomacia do lobo guerreiro”, adotou um tom agressivo e confrontacional em resposta às críticas internacionais, especialmente dos EUA. O ápice dessa diplomacia ocorreu em meio a críticas ao tratamento da China em Xinjiang, aos protestos em Hong Kong e à gestão da pandemia de COVID-19. Em eventos notórios, diplomatas chineses usaram uma retórica inflamada para defender o país, muitas vezes provocando reações internacionais negativas. Porém, nos últimos três anos, a China retornou a um estilo mais tradicional e moderado, seguindo diretrizes de Xi Jinping para melhorar relações globais. Este artigo da Foreign Affairs alerta que a retórica combativa pode ressurgir se a China sentir-se ameaçada novamente. Portanto, é essencial que formuladores de políticas dos EUA considerem os impactos de suas críticas públicas, equilibrando a defesa de questões nacionais, com a necessidade de manter canais diplomáticos abertos para evitar tensões com a China.

Todo mundo quer um carguinho no governo, literalmente. Su Zhen, um recém graduado da Universidade de Stanford, gerou polêmica nas redes sociais ao aceitar um cargo em um governo municipal na província de Anhui. O alvoroço todo foi porque alguns internautas argumentaram que Su era superqualificado para a função. Segundo esta matéria da Sixth Tone, Su seria o único dos 434 candidatos à vaga a ter um diploma de Ph.D. e de uma universidade estrangeira. A história atraiu mais de 160 milhões de visualizações no Weibo e destaca como o desequilíbrio no mercado de trabalho chinês parece não deixar de assombrar os jovens. Uma realidade que não afeta apenas a província de Anhui, mas a China como um todo. Durante 2024 o país registrou um número recorde de 2,6 milhões de inscritos para o exame de serviço civil, uma média de 66 candidatos por vaga, 24% a mais do que há cinco anos. 

Trabalhadores vs. Algoritmos. Um grupo de artistas decidiu processar uma empresa que desenvolve inteligência artificial (IA) que imita pinturas feitas à mão. A audiência foi conduzida na semana passada pela Corte da Internet em Pequim, enquanto a etapa atual do processo aguarda pareceres técnicos sobre o desenvolvimento de modelos de IA. Os réus dos processos são uma plataforma para a publicação de arte e a desenvolvedora do sistema de IA. Os ilustradores usavam a plataforma para publicar seus trabalhos há algum tempo e argumentam que o sistema usou os seus estilos de forma direta para treinamento do modelo. É mais um dos muitos casos pipocando por aí de direitos autorais vs. IA e que ajudam a formar precedentes. 

Em outra batalha, os trabalhadores de serviços de entrega do Meituan (que no ano passado entraram em greve) reclamam que o novo programa de compras em grupo está diminuindo os seus pagamentos consideravelmente. Esta matéria do Rest of World explica como a dinâmica, que organiza os pedidos em vez dos trabalhadores terem a escolha, pressiona os entregadores. Outro resultado é que as histórias de disputas com clientes estão aumentando sobre, por exemplo, demora ou não querer subir até o apartamento.

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Pandas: Dois pandas gigantes foram “emprestados” ao zoológico de San Diego como “embaixadores da amizade” pelo próprio Xi Jinping. Esta é a primeira importação desses diplomatas fofinhos em mais de 20 anos. 

Livro: o jornalista Edward Wong, ex-chefe do escritório do The New York Times na China, lançou um livro sobre a história do seu pai – que era soldado do Exército chinês na década de 1950 e serviu em Xinjiang. Este artigo do NYT traz um resumo do In Search of My Father’s Frontier: His Years in Mao’s Army.

Tartarugas: o lucrativo mercado de cascas de tartaruga desacelerou (ainda bem?) também por falta de interesse dos jovens. O The World of Chinese conta sobre como o item de espécies específicas e que são mais moles é considerado bom para fins medicinais. Os animais são mantidos em criadouros e vendidos para restaurantes e afins.

 

O escritor Chen Qiufan (também conhecido como Stanley Chan) explica o cyberpunk na ficção científica chinesa e sua influência para além da literatura.

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