Edição 309 – Encerrada a Terceira Sessão Plenária
O grande volume de notícias negativas sobre a economia chinesa aumentou as expectativas do que deveria ser anunciado e colocado em prática após a Terceira Sessão Plenária, reunião do comando do PCCh que se encerrou nesta quinta-feira (18). O PIB chinês cresceu 4,7% no segundo trimestre de 2024, abaixo da alta de 5,3% alcançada nos três primeiros meses do ano. As vendas no varejo ficaram aquém da expectativa, puxando o indicador para baixo, embora a produção industrial tenha crescido acima do estimado, balanceando o dado. Outro fator preocupante sobre o bem-estar da economia chinesa é a taxa de desemprego entre os mais jovens, indicador que subiu em junho: a juventude não sente mais a prosperidade experimentada pelas gerações anteriores e isso mexe com o otimismo e a confiança da população no futuro do país.
Os resultados da Plenária do 20º Comitê Central do PCCh não foram muito surpreendentes: foco em modernização, estabilidade e fortalecimento das instituições. Alguns analistas consultados pela MSN sugerem que a falta de novidades pode indicar a consolidação de poder e o sucesso da liderança de Xi Jinping — e talvez ajudar a acostumar o pessoal com a ideia de que ele tenha um quarto mandato, algo sem precedentes na China pós Era Mao (Xi já havia feito história com o terceiro mandato). No Tracking People’s Daily, dá para conferir uma análise do comunicado oficial sobre a Plenária.
O mundo amanheceu nesta sexta-feira (19) com um apagão em TI, afetando negócios, voos e comunicações. A origem do problema foi uma atualização em uma plataforma do CrowdStrike que é usada no Windows, que mantém forte dominância no mercado de tecnologia ao redor do globo. A China, porém, parece ter passado ilesa — ou quase — a essa crise que deixou muita gente na mão, e o South China Morning Post conta o porquê: a relativa autossuficiência tecnológica.
Velozes e furiosos. A China tem concentrado esforços quando o assunto é energia renovável. Um relatório produzido pela ONG Global Energy Monitor aponta que o país deve aumentar significativamente seu número de instalações para captar energia solar e eólica até o final de 2024, antecipando-se em seis anos ao seu objetivo inicial. Um dos pontos que chamou atenção foi o fato de que entre março do ano passado e o mesmo mês deste ano, a China instalou mais capacidade solar do que nos três anos anteriores juntos. O número também supera o restante do mundo em 2023. Embora o progresso seja significativo, o país ainda enfrenta desafios para reduzir a emissão de carbono e diminuir a dependência de carvão — na edição passada, falamos sobre a implantação de usinas de carvão no país. Uma das respostas para esses desafios tem sido o investimento pesado em tecnologias de armazenamento, como baterias de íon de lítio, para integrar melhor a energia renovável em sua rede elétrica.
Culpado. Guo Wengui, empresário chinês crítico do PCCh e aliado de Donald Trump, foi condenado por aplicar um golpe de 1 bilhão de dólares em seus seguidores. Em veredito unânime, Guo, que é radicado em Nova York, foi considerado culpado pelos crimes de extorsão, fraude e lavagem de dinheiro. Do outro lado do globo, em Cingapura, o governo ordenou que YouTube, Facebook, Instagram, TikTok e X (ex-Twitter) bloqueassem o acesso a vídeos e postagens de contas relacionadas a Guo no país. Segundo as autoridades, a rede de aproximadamente 100 contas estaria difundindo mentiras e desinformação de maneira coordenada com agentes estrangeiros. Já falamos por aqui sobre como Guo pedia apoio financeiro a seus seguidores para fazer o que ele chamava de “jornalismo independente”. Na verdade, os valores arrecadados eram usados para manter um padrão de vida luxuoso.
China sediará nova reunião entre Hamas e outros grupos palestinos, como Fatah e Hamas, sobre futuro de Gaza. Um encontro semelhante aconteceu em abril deste ano. A nova reunião foi anunciada por meio de uma nota à imprensa assinada por Husan Badran, membro do gabinete político do Hamas. O encontro acontecerá em Pequim entre 21 e 22 de julho e tem como objetivo alcançar o cessar fogo no conflito entre Israel e Hamas. A China tem feito um apelo para que as agressões sejam encerradas e tem se colocado como possível mediadora. Em tempo: nesta sexta-feira (19), a Corte Internacional de Justiça deu um parecer ressaltando a ilegalidade da ocupação israelense da Palestina, que se assemelha a uma anexação territorial.
Retorno à normalidade? A revista The Economist publicou uma matéria nesta semana sobre um distensionamento das relações entre China e Índia nos últimos meses. Ainda longe de se recuperar plenamente do baque após os embates na fronteira disputada no Himalaia em 2020, pressões externas e internas aos dois países parecem estar conduzindo Delhi e Pequim a retomarem um diálogo construtivo. De um lado, a Índia precisa de tecnologia e investimentos em um período de pressão para destravar o crescimento industrial. Do lado chinês, o gigante vizinho pode ajudar na sua necessidade de ampliação de mercado externo e, no contexto de crescente barreiras a seus produtos, sobretudo nos EUA e na União Europeia. A Foreign Policy, no entanto, ressaltou que, apesar da gradual reaproximação, a base do recém-reeleito premiê indiano Narendra Modi exige uma postura mais dura e combativa com relação à China.
Sinização da juventude tibetana. Nos últimos meses, a questão da alfabetização de crianças e jovens tibetanos em internatos estatais ganhou destaque. Um vídeo que mostra uma cerimônia de encerramento das atividades de uma escola particular tibetana em Golog, província de Qianhai, circulou pela internet sob a narrativa de fechamento compulsório da instituição pelo governo chinês. Segundo comentários, se tratava de uma das poucas instituições educacionais verdadeiramente administradas por tibetanos na região. O caso faz parte de um esforço de Pequim para unificar o uso do mandarim em seus territórios, uma estratégia importante de assimilação aplicada também em Xinjiang. O governo chinês tem incentivado a frequência de crianças em internatos estatais desde a pré-escola, alegando um acesso facilitado à educação para os filhos de agricultores. Este episódio do podcast Drum Tower questiona o porquê de quase 80% das crianças tibetanas frequentarem internatos estatais onde o mandarim é a principal língua, vale conferir.
Camarada Trump. Pequim não demonstrou muita energia na sua reação ao atentado contra o candidato e ex-presidente Trump nos EUA, que ocorreu em um evento no sábado (13). Mas, como mostra o What’s on Weibo, a notícia viralizou nas redes sociais, chegando ao topo dos tópicos. Ela veio acompanhada de elogios à foto que foi parar em camisetas em e-commerce, análises políticas (Trump se favorece), apoio ao ex-presidente, teorias da conspiração e (não poucas) piadas — inclusive comparando com o assassinato do primeiro-ministro japonês Shinzo Abe em 2022. Outra comparação que apareceu pouco do lado de cá da Grande Firewall foi com o ex-primeiro-ministro de Taiwan Chen Shui-bian, como conta o ChinaTalk: Chen levou um tiro um dia antes das eleições na ilha e acabou ganhando o pleito. Vale mencionar também que o tabloide NY Post divulgou falsamente que o atirador de Trump era um homem chinês — e depois atualizou a matéria para sinalizar que era um homem branco.
À espera dos jogos. A Radii explica como a chegada às Olimpíadas elevou o status do skate na China.
Cinema. O filme do verão na China é uma mistura de Succession e Show de Truman que está fazendo os pais exigentes refletirem.
Jornalismo. Após mais um episódio lamentável de ataque à liberdade de imprensa em Hong Kong, o China Media Project explica que ainda dá pra piorar bastante.
História. O JSTOR Daily organizou uma coletânea de artigos sobre um século de serviços postais chineses em outros territórios — pré-PCCh.
Amor, perda e Inteligência Artificial na China — este ensaio audiovisual merece a sua atenção se você acredita que as tecnologias chinesas são o futuro.