Fotografia em cores de notas de 100 yuans.

Foto de: Eric Prouzet via Unsplash.

Edição 316 – Investimento chinês no Brasil cresce 33%

Vacinas chinesas e gigantes de tecnologia na China

Na tentativa de burlar sanções de chips, instituições estatais chinesas estão usando serviços de nuvem da Amazon (AWS) e similares, segundo explica esta matéria da Reuters. Juridicamente falando, isso não seria um problema – já que as sanções dizem respeito a exportação de materiais e softwares. A Reuters teve acesso a um processo de uma universidade para aquisição desses serviços de nuvem, que permitem acesso a sistemas de IA generativa e para treinamento de grandes quantidades de dados. As empresas dos EUA também estão capitalizando nas sanções. Recentemente, saiu uma notícia de que empresas chinesas estariam usando chip brokers – intermediários em outros países – para burlar sanções e adquirir esses materiais.

Aparentemente, a empresa holandesa ASML – uma das principais fornecedoras de máquinas de litografia (usada para a produção de semicondutores) – deve deixar seu acordo com a China expirar no final do ano. É a única empresa que produz sistemas de litografia ultravioleta extrema usados para a produção de chips e que a China nunca teve acesso, pois foram desenvolvidos após o início das sanções. O acordo ao qual a ASML respondia era para a manutenção de máquinas adquiridas previamente – o que é uma prática padrão da empresa, conta a Bloomberg. Sem surpresas, a pressão teria vindo dos Estados Unidos – que já havia conseguido limitar a exportação para a China alguns anos atrás. As restrições já haviam aumentado em janeiro deste ano. Isso é ruim para empresas chinesas, como Huawei, mas também é ruim para a ASML – que perde um bom mercado. O tema apareceu no ChinaTalk, com algumas explicações mais técnicas da história. 

Mudar para evitar crise: esse foi o tom da fala do ex-presidente do Banco Central da China Yi Gang durante um importante encontro econômico em Shanghai. De acordo com o relato do Financial Times, o economista fez um apelo para que a China afrouxe a política fiscal do país para evitar baixo crescimento e deflação. O texto faz um paralelo com o que aconteceu com um país vizinho, o Japão, que sofre há décadas com baixo crescimento e deflação, sinais claros de uma economia em desaceleração. A fala de Yi aconteceu durante o Bund Summit, cerca de um ano depois de ele ter deixado a liderança do Banco Central da China. 

Hiperconectados. Números na casa de bilhões não são muito raros na China. De acordo com uma pesquisa recém-lançada por um instituto governamental (China Internet Network Information Center), os usuários de internet no país agora somam quase 1,1 bilhão de pessoas. O documento afirma que quase quatro a cada cinco pessoas no país estão conectadas, isso graças a um incremento de 7,4 milhões de novos usuários entre janeiro e junho deste ano. Reportagem do Sixth Tone citando o documento afirma que entre as explicações para este salto estão um vasto investimento do governo em infraestrutura.

Investimentos chineses no Brasil em alta. No início de setembro, o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) publicou seu relatório anual sobre os investimentos chineses no Brasil. Os principais resultados do levantamento foram discutidos por Fabiane Menezes no Brazilian Report, que destacou que, entre 2007 e 2023, o Brasil foi o quarto maior destino de investimentos diretos da China, ficando apenas atrás de EUA, Austrália e Reino Unido. Na contramão do que aconteceu com os parceiros anglófonos, o país sul americano viu um aumento dos aportes chineses no ano passado na ordem de 33%. Apesar do resultado positivo, vale ressaltar que o volume de investimentos é baixo se comparado à série histórica. O relatório aponta também que os investimentos chineses procuram cada vez mais projetos menores e projetos relacionados à sustentabilidade, como energia verde, mobilidade elétrica e infraestrutura urbana.

Promissor. Terminou nesta sexta-feira (6) o 9º Fórum sobre Cooperação China-África (FOCAC), realizado em Pequim ao longo de três dias. Xi Jinping recebeu líderes de mais de 50 países africanos e os secretários-gerais da ONU e da União Africana na capital chinesa, onde trataram do aprofundamento da cooperação sino-africana. Os temas são variados, como industrialização, agricultura, segurança e infraestrutura. O discurso do líder chinês na abertura do evento ressaltou o compromisso do país com o desenvolvimento dos países africanos. A sustentabilidade foi o foco da vez: a China anunciou que agora enfatizará “projetos pequenos e belos” a obras faraônicas, dando preferência a projetos de energia renovável e desenvolvimento verde. Além disso, Pequim também se comprometeu a investir 50 bilhões de dólares (aprox. 280 bilhões de reais) no continente africano no próximo triênio e a isentar impostos de importação de produtos originados em ao menos 33 países da África. Com acordos firmados no marco da Iniciativa Cinturão e Rota com o Quênia e a Tanzânia, o leste africano se afigura como foco chinês, sobretudo devido à rivalidade com os EUA.

A maior reunião de cúpula realizada pela China dos últimos anos, o FOCAC acontece a cada três anos desde o ano 2000. Segundo análise de Cobus van Staden, essa é a reunião de cúpula mais proveitosa para os países africanos, pois acontece em alto nível e é marcada por compromissos chineses de financiamento e investimentos em projetos de infraestrutura em sintonia com as demandas e necessidades locais.

O fim de uma era. A adoção de crianças chinesas por famílias ocidentais já rendeu livros, documentários e filmes mundo afora. Uma medida recém-anunciada por Pequim deve por fim a essa realidade. De acordo com a porta-voz do Ministério de Relações Exteriores chinês Mao Ning, exceções poderão ser concedidas para estrangeiros que adotem enteados ou filhos de parentes de sangue chineses. Sem muitos detalhes sobre os motivos da decisão governamental, Mao agradeceu o cuidado e interesse de cidadãos de diversas nações com crianças chinesas. Em reportagem sobre o tema, o The New York Times menciona a política do filho único, encerrada em 2014, e fala em 160 mil crianças chinesas adotadas por estrangeiros entre 1992 e o início da pandemia, em 2020. O jornal estadunidense também menciona controvérsias envolvendo adoções de crianças do país asiático, como abandono de menores e corrupção.

Quantas línguas formam o chinês? Várias, e apenas uma delas é uma língua oficial em Hong Kong: o cantonês, que é bastante diferente do mandarim. Enquanto o governo colhe os frutos de suas campanhas de atração de talentos da China continental para a região (mais de 100 mil profissionais), os jovens dessas famílias encontram escolas despreparadas para lidar com a barreira linguística. O South China Morning Post reportou o caso da Scientia Secondary School, que tem cerca de 700 discentes e, no ano letivo que se iniciou nesta semana, recebeu 120 estudantes da China. Por outro lado, há instituições de ensino que buscam ativamente atrair esses alunos, uma vez que a população jovem local está em declínio, com escolas e pré-escolas fechando por falta de demanda, e o fluxo de estrangeiros de outros países também diminuiu. O futuro do cantonês, assim, segue um motivo de preocupação – e se o assunto interessa, vale conferir esta palestra da Dra. Gina Tam sobre os usos dos termos “dialeto” ou “língua” para se referir às diferentes línguas chinesas.

Após críticas à Revolução Cultural, artista é preso na China. A detenção de Gao Zhen, renomado artista chinês de 68 anos, foi anunciada esta semana pelo irmão de Zhen e seu parceiro artístico Gao Qiang. De acordo com as informações publicadas por meios de comunicação estadunidenses citando Qiang, Zhen teria sido preso sob a alegação de difamar herois e mártires chineses. Ele teria sido detido por autoridades da província de Hebei, próximo a Pequim, que negou a comentar o assunto com a CNN. Os irmãos Gao têm obras consagradas no território chinês e no exterior e são conhecidos por estátuas bem humoradas de Mao Zedong.

reforma electoral en Hong Kong

Quadrinhos: nosso primeiro link do BlueSky vai para esse projeto de pesquisa sobre a cultura da leitura e produção de HQs na China. 

Resistência: não é de hoje que se sabe que povos e pessoas oprimidas resistiram e resistem a ataques contra eles. Um artigo publicado em junho mostra, remonta a história de resistência de mulheres chinesas. A pesquisa é baseada em crânios e restos mortais encontrados na Mongólia Interior e no deserto de Gobi. Vale conferir. 

Lazer esportivo: com o aquecimento global derretendo as pistas naturais de esqui n China, nesta sexta-feira (4) foi inaugurada em Shanghai a maior estação de esqui indoor do mundo. Será que tanta neve artificial e o sistema de resfriamento são… sustentáveis?

Humor: inexplicavelmente, duetos deep fake de Donald Trump e Kamala Harris estão se alastrando nas redes sociais chinesas. Tem com o Biden também. Nada faz sentido.

 

Nos últimos suspiros do Twitter (X) no Brasil, rolou uma novela fake aos moldes de Glória Perez, inspirada na cultura chinesa. A ideia ganhou até uma abertura “oficial”, mas vale um aviso: é uma versão bem exoticizada da China, com elementos de outros povos perdidos no meio – enfim, daquele jeito que outras culturas são “homenageadas” nas nossas novelas.

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