Edição 317 – Supertufão deixa rastro de destruição no Sul da China
Unindo adversários pela segurança de dados. Nem tudo é sobre competição no noticiário de empresas de tecnologia e desenvolvimento de Inteligência Artificial. Na esteira do Bund Summit, em Shanghai, gigantes chinesas e estadunidenses do ramo se uniram para criar o primeiro padrão internacional para a segurança de grandes modelos de linguagem (LLM, Large Language Model) para cadeias de abastecimento. Parece complicado, mas a ideia é fazer com que exista uma referência internacional para a criação de modelos de linguagem seguros a serem usados em produtos de Inteligência Artificial. A ideia é evitar problemas de segurança de dados, como vazamentos, etc. A iniciativa une nada mais nada menos do que os grupos chineses Ant (Alibaba), Tencent (Wechat) e Baidu, além das estadunidenses Microsoft, Google e Meta. A iniciativa foi alinhada pelo World Digital Technology Academy (WDTA), em evento paralelo ao Bund Summit. A criação desse padrão atende todo o ciclo de vida dos LLMs e está alinhada com as exigências da Iniciativa de Segurança de IA, Confiança e Responsabilidade, lançada pela WDTA no ano passado, na Suíça.
Depois de muito suspense e todo tipo de rumores, o jornal The Washington Post publicou um texto revelando o que seria o novo trabalho de Qin Gang, ex-embaixador da China nos EUA e ex-ministro das Relações Exteriores. O paradeiro de Qin é desconhecido desde o ano passado, quando ele foi enxotado do cargo de chanceler. Segundo o jornal estadunidense, o ex-todo poderoso e aliado de Xi estaria ocupando uma posição à frente de uma editora ligada ao Ministério de Relações Exteriores. As informações foram atribuídas a fontes anônimas do governo dos EUA. A ver se novos boatos e teorias confirmam ou negam a nova posição de Qin Gang.
Ninguém para. Conforme comentamos há algum tempo, a China oficialmente elevou a idade da aposentadoria — pela primeira vez desde a década de 1950. A nova política entra em vigor a partir de 1º de janeiro de 2025, aumentando ao longo dos próximos 15 anos. A idade para os homens passará de 60 anos para 63, enquanto a das mulheres vai depender da sua profissão (55 para 58 se for quadro do Partido, e de 50 para 55 se forem trabalhadoras de colarinho azul). Após o anúncio do governo, o tópico virou discussão e piada no Weibo. É aquela já conhecida pauta de envelhecimento da população (pessoas com mais de 60 já são 20%) e pressão no sistema de pensão, que sofreu um aperto maior ainda com a pandemia. A gente sabe bem.
A espionagem está em alta? Além de uma prefeita nas Filipinas, uma assessora do ex-governador de Nova York e um ex-funcionário da CIA foram acusados de espionagem para o governo chinês. A assessora Linda Sun e seu marido Chris Hu foram indiciados sob crimes de atuar como agentes estrangeiros, além de lavagem de dinheiro e fraude. Sun trabalhou para Kathy Hachul e Andrew Cuomo. Segundo a Reuters, o indiciamento aponta que ela recebeu uma boa soma de dinheiro (que deu para até comprar uma Ferrari) para, por exemplo, forjar uma assinatura para autorizar visto de oficiais da China, retirar menções a Taiwan de documentos e esconder convites de eventos relacionados à ilha. Ambos se declaram inocentes.
Já o funcionário aposentado da CIA, Alexander Yuk Ching Ma, recebeu a aprovação de um acordo de 10 anos na prisão. Ele havia sido preso em 2020 sob a ameaça de prisão perpétua, após admitir vender informações secretas dos EUA para o governo de Shanghai junto com o seu irmão enquanto ambos estavam na agência de inteligência. Ele trabalhou no FBI posteriormente em uma posição que foi usada para explorar os vínculos de Ma (que é de Hong Kong e naturalizado estadunidense) com a China e os contatos dele lá.
Um relatório novo publicado pela Comissão Europeia lançou uma série de discussões sobre políticas de incentivo, regulação e competitividade. Sobrou para Pequim também já que o documento de 400 páginas escrito por Mario Draghi, ex-diretor do Banco Central Europeu, indica que o endurecimento nas políticas contra a China é resultado de um enfraquecimento da economia europeia frente à chinesa. Conforme explica o Politico, tem quatro grandes pontos relevantes da dinâmica sino-europeia: a pressão por tecnologia verde, o mercado de carros elétricos, investimentos diretos chineses no continente, e dependência de minerais críticos vindos da China.
O supertufão Yagi deixou um rastro de destruição no sul da China, quando atingiu a ilha de Hainan na sexta (06), deixando quatro mortos e mais de 90 feridos, com colapso de transporte por estradas e marítimo, e falta de eletricidade (com turbinas de energia eólica destruídas, por exemplo). Ele já havia causado 16 mortes e caos nas Filipinas e aumentou de força no caminho. O supertufão é aproximadamente equivalente a um furacão de categoria 5 e levou à evacuação de mais de 410 mil pessoas da ilha — que raramente é atingida por esse tipo de fenômeno. A cidade de Wenchang relatou uma destruição e perdas financeiras de cerca de 32,7 bilhões de yuan (cerca de R$25 bilhões) — o que equivale ao PIB da municipalidade no ano passado. Ele depois seguiu passando brevemente pela província de Guangdong, a princípio sem fatalidades, mas com altas perdas econômicas. Até agora, a estimativa das seguradoras é de 1,23 trilhão de yuan (cerca de R$ 970 bilhões). Voos em Hong Kong e Macau foram cancelados. Após a passagem pela China, o supertufão partiu para o Vietnã — onde já deixou mais de 200 mortos e mais de 700 feridos. Já é o mais mortal da Ásia em 2024.
O que torna uma pessoa chinesa? As pautas sobre identidade chinesa são uma constante aqui e, claro, na imprensa mundial. Esta semana trazemos dois textos interessantes. No primeiro deles, no China Books Review, Yangyang Cheng faz um misto de um relato pessoal da própria trajetória com a resenha de três livros recém-lançados que falam sobre o tema. Yangyang é natural da China e vive nos Estados Unidos desde 2009, quando saiu para estudar achando que voltaria e acabou permanecendo no exterior. Ela faz um relato que pode ser contraditório, mas apesar do distanciamento físico, ela se sente extremamente ligada à terra natal. No mesmo texto, ela resenha os livros At The Edge Empire (Edward Wong), The Great Flowing River (Chi Pang-yuan) e Other Rivers (Peter Hessler). Além da história da autora e a temática dos livros passarem pelo tema da identidade, eles também falam sobre cursos de rio. Vale a leitura. Para complementar, o volume 9 do Made In China Journal reflete sobre isso em termos culturais e étnicos na era pós Xi Jinping, especialmente para minorias.
Artigo acadêmico: no que a extrema-direita do governo Bolsonaro atuava e pensava em relação à China? Este artigo de Thiago Bessimo e Octavio Amorim Neto usa métodos quantitativos para analisar discursos, documentos e investimentos do período de 2019 a 2022.
Monopólio ameaçado: a competição chinesa chegou para balançar o GPS. 30 anos depois, o BeiDou promete ser uma alternativa com as mesmas funções de navegação do concorrente americano. O SCMP pergunta e replicamos aqui: Será que o BeiDou vai ganhar o mundo?
História: esta matéria do Sixth Tone conta a história do stand-up na China. Um formato de comédia importado de países ocidentais, acabou ganhando força no país nos últimos 20 anos.
Manifesto: artistas brasileiros de ascendência asiática publicaram uma nota crítica ao meme que surgiu nos últimos de Twitter/X da fake novela “Pé de Chinesa”. Como já havíamos comentado, a história é cheia de estereótipos e “piadas” misturando culturas da região.
Essa é velha (?!): 13 anos atrás, Wu Man se apresentava no Tiny Desk. Ela é uma das mais famosas tocadoras de pipa – um instrumento de cordas chinês clássico – do mundo.