Edição 321 – Governo lança medidas para evitar desemprego de jovens
Mais vagas para trabalhar no futuro. A China tem apostado em medidas de estímulo para impulsionar a criação de novos empregos, de acordo com a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma (NDRC). Entre as iniciativas, estão o enfrentamento a problemas estruturais no mercado de trabalho e o apoio a pequenas e médias empresas, consideradas fundamentais para a geração de empregos e inovação tecnológica. Setores emergentes, como a economia voltada ao envelhecimento populacional, a “economia de baixa altitude” (drones e carros voadores), além da crescente demanda por profissionais qualificados em veículos elétricos e tecnologias verdes, são vistos como grandes oportunidades para gerar milhões de novos postos de trabalho. O governo também busca focar na capacitação profissional e infraestrutura para alinhar as necessidades das empresas com a oferta de trabalho qualificado, visando reverter a alta taxa de desemprego entre jovens – uma pauta que parece não sair muito do horizonte chinês – e incentivar o consumo doméstico.
Choque na bolsa. O aniversário de 75 anos segue meio frustrante, com as ações chinesas tendo a sua pior queda dos últimos 27 anos, conta o The Guardian. O argumento é que os estímulos anunciados pelo governo não foram suficientes para aplacar a ansiedade de investidores. O cenário pode ser observado nas bolsas de valores de Shanghai, Hong Kong e Shenzhen, que fecharam a semana em saldo negativo.
A carta de reverso do Uno, aquela que destrói amizades e famílias, poderia ter inspirado a declaração dada pelo presidente Lai Ching-te durante a celebração do dia nacional de Taiwan, em 10 de outubro: ele afirmou que seria “impossível” que a República Popular da China (mais conhecida como China) seja a pátria mãe de Taiwan, como Pequim costuma afirmar. Isso porque a República da China (nome oficial de Taiwan) existe há 113 anos, enquanto a China acaba de comemorar apenas 75 anos. Assim, os separatistas seriam, na verdade, os chineses continentais, e a pátria mãe seria Taiwan. De todo modo, o ponto de convergência de ideias entre os dois lados parece ser o entendimento de que há uma origem comum entre eles.
Não que essa percepção facilite o movimento de pessoas entre os dois territórios. No começo deste mês, a organização Straits Exchange Foundation revelou que desde janeiro de 2023 foram registrados 77 casos de pessoas de Taiwan desaparecidas na China continental. Desses, 40 pessoas ainda não foram localizadas e, entre os restantes, além de pessoas que escolheram sumir, há envolvidos em atividades fraudulentas. A organização lançou um alerta para os jovens: diante do crescimento do desemprego na China, oportunidades de trabalho lucrativas podem encobrir atividades ilegais. Há também o risco de não poder voltar para casa: além dos casos aparentemente isolados (como o do executivo detido há algumas semanas), existem políticas explícitas de detenção. Em junho, ao mesmo tempo em que Pequim passou a oferecer benefícios para atrair visitantes do estreito que nunca estiveram na China continental, também lançou diretrizes para punir separatistas. A definição de separatista, como de costume, é bastante vaga e abrangente, e culpados podem ser condenados à pena de morte.
O que os EUA querem com a China? Os Estados Unidos estão debatendo se precisam definir um “objetivo final” para sua política em relação à China, de acordo com um novo relatório do Center for Strategic and International Studies (CSIS). O documento é uma compilação de artigos de especialistas em política internacional, analisando a relação sino-americana e as implicações para o futuro da ordem mundial. Os especialistas divergem se o objetivo deve ser “vencer” na competição estratégica ou adotar uma abordagem mais flexível e pragmática, mirando em uma “competição gerenciada”. O relatório concentra tópicos como a competição estratégica entre os dois países e as diferentes abordagens para lidar com essa dinâmica. No centro do debate está a gestão da competição com a China, a cooperação em áreas críticas como tecnologia e clima, e o papel de aliados internacionais. O documento traz uma discussão extensa sobre a importância de entender as narrativas chinesas e evitar escalonar tensões, propondo que os EUA equilibrem seus interesses de competição com a necessidade de coexistência pacífica em um cenário global em rápida transformação.
Você troca um carro por um brandy? A China revidou a taxação de 5 anos prevista para veículos elétricos, imposta pela União Europeia (UE) na semana passada, e decidiu taxar o brandy europeu, conta o Politico. A medida claramente é voltada a causar caos na França, visto que 99% do brandy importado pela China vem de lá – e o país asiático é o segundo maior importador da bebida. A UE criticou, mas as autoridades chinesas disseram que a retaliação é legítima, sob o argumento de ser uma medida antidumping. As marcas Hennessey e Remy Martin viram suas ações caírem durante a semana O aumento causado pela taxa nova pode chegar a 39% do valor da importação e começou a valer na sexta-feira (11). Pode ser que a troca de taxas não pare aí e afete outros setores, como a carne de porco, laticínios e veículos. O governo francês protestou e acusou a China de não respeitar acordos feitos quando Macron visitou o país em maio deste ano. O próximo passo deve ser levar a disputa para a Organização Mundial do Comércio. Para aumentar a tensão, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, está em Pequim e se encontrou com o primeiro-ministro Li Qiang. Publicamente, não se falou nada das taxas, apenas da cooperação “mutuamente benéfica”.
Taxa das brusinhas versão pesada. O app Temu acabou banido da Indonésia, relata o Jakarta Globe. Na semana passada, o governo do país havia demonstrado a preocupação de que o aplicativo de e-commerce fosse prejudicar demais pequenos e médios empreendedores, que enfrentariam uma enxurrada de produtos chineses e competição injusta. Na quinta-feira (10), o Temu foi oficialmente banido – até porque não estava registrado oficialmente no país. O TikTok Shop foi banido em outubro, mas conseguiu reverter ao adquirir uma plataforma local de comércio online. Enquanto isso, o Temu aterrissou no Vietnã e Brunei.
Resiliente. O movimento LGBTQIA+ na China tem enfrentado altos e baixos, com o governo e a mídia estatal alternando entre momentos de abertura e indiferença ou hostilidade. A sociedade chinesa reflete essa ambivalência: enquanto uma pesquisa governamental revelou que 75% dos participantes são contra a homossexualidade, também há apoio em casos de grande repercussão, como o de uma mulher trans que processou seu empregador por transfobia e venceu. Apesar da recente onda de censura, que resultou no fechamento de bares e contas de organizações LGBTQIA+ no WeChat, o movimento continua vivo e organizado, como discute o pesquisador Darius Longarino em um artigo de opinião para o ChinaFile. Vale a pena conferir.
Vale a pena viver? Estudantes honconguenses no Ensino Fundamental estão se tornando menos certos disso. O índice que mede essa percepção é calculado em uma pesquisa anual com 3.500 jovens, chegando a uma nota máxima de 10. Em 2024, o resultado foi 6,74 – número mais baixo em sete anos. Um especialista consultado pelo South China Morning Post sugeriu que a pressão sobre o desempenho escolar estaria contribuindo para a perda de sentido da vida dos estudantes, algo reforçado por outra descoberta da pesquisa: 20% dos jovens são vítimas de bullying, e os casos parecem se concentrar em quem é mais pressionado academicamente. No ano passado, contamos que o número de mortes por possível suicídio entre estudantes dessa mesma etapa escolar havia atingido um recorde na década – e o governo especulava que a maior razão para isso era justamente o desempenho escolar.
Interativo: esse projeto multimídia interativo do Sixth Tone sobre a descoberta arqueológica de uma cova funerária recheada de itens da nobreza da época da Dinastia Shang (c. 1600 a.C. – 1045 a.C.) está imperdível.
Relatório: a publicação da Latinoamérica Sustenable (LAS) fala sobre os dez anos da Iniciativa Cinturão e Rota e os desafios ambientais e sociais nos investimentos na América do Sul.
Tendência: o tenniscore que veio na onda do filme Rivais também atingiu a China – talvez ainda mais motivada pela medalha de ouro em Paris da tenista Zheng Qinwen. A última coleção esportiva da Lacoste, inspirada no tênis, apostou até na Grande Muralha como pano de fundo. A real é que isso está motivando muita gente a ir assistir os jogos do China Open também.
Turismo influenciado: a Rest of World explorou como o aplicativo Xiaohongshu vem ajudando a retomada do turismo no sudeste asiático – fica aí a sugestão para Hong Kong, que parece repelir turistas.
Neste vídeo do Radii, o estilista Kinyan Lam reflete a tradição têxtil de Guizhou, a província onde nasceu. As imagens da cidade e do artesanato são belíssimas, mas vale também a reflexão sobre os contrastes entre cidades grandes e interior.