Edição 322 – O PIB estaciona e os estímulos econômicos crescem
Mais um pacote de estímulos econômicos. No último sábado (12), o governo chinês anunciou um novo conjunto de estímulos para a economia, desta vez com foco no aumento da emissão de dívida pública. Como avalia a DW, o intuito é apoiar governos regionais, cidadãos de baixa renda, bancos estatais e, assim como no pacote de setembro, o mercado imobiliário. O anúncio não revelou o montante do investimento esperado, o que foi recebido com desânimo pelo mercado financeiro e por analistas. O South China Morning Post consultou Liu Shangxi, economista filiado ao Ministério das Finanças, que avaliou os investimentos em torno de 10 trilhões de yuans (R$ 8 trilhões) ao longo dos próximos anos. Uma semana após o anúncio, foi divulgado o resultado do PIB do terceiro trimestre de 2024, que revelou um crescimento de 4,6% – similar aos 4,7% do trimestre anterior, e um sinal de que as medidas de recuperação pós-pandemia talvez estejam perdendo força.
Em Hong Kong, finanças também foi o grande assunto da semana. Na quarta-feira (16), o chefe executivo da região administrativa especial (RAE) John Lee Ka-chiu anunciou os planos para fomentar a combalida economia local. Os principais pontos foram os incentivos para o mercado imobiliário de alto custo, medidas para atrair IPOs para a bolsa local (que está em um bom momento), estímulos para títulos soberanos em yuan como garantia em mercados offshore e a continuidade da atração de turistas e talentos, especialmente da China continental. Houve ainda o anúncio do “banimento” de casas-caixão por meio da redefinição do que seriam essas insalubres habitações. Uma pesquisa de opinião pública revelou que o discurso foi acompanhado por apenas 55% da população (em comparação com 72% em 2023) e agradou a apenas 27% desse público.
Acordos e votações. Depois de mais de um ano de atraso, parecem estar finalmente chegando ao fim as negociações da renovação do acordo entre China e Estados Unidos para Ciência e Tecnologia. Inicialmente assinado em 1979, o documento é renovado a cada cinco anos. O último acordo é de 2018, durante a administração de Donald Trump, e venceu em agosto de 2023, quando foi extendido duas vezes. À época, autoridades estadunidenses disseram ser necessário fazer emendas e adicionar termos para fortalecer proteções do acordo. Agora, às vésperas das eleições dos EUA (5 de novembro), fontes ouvidas pelo SCMP em Washington falam em uma espera pelo resultado do pleito para seguir com as tratativas. Já do lado chinês, a última atualização seria de que a renovação sairia ainda antes. Pessoas próximas ao assunto falam em um acordo mais estreito, refletindo a escalada de competição entre China e os Estados Unidos. Aguardaremos por aqui.
Falando em indefinições, o futuro do TikTok nos Estados Unidos talvez tenha menos impacto financeiro para a empresa do que quando a celeuma se iniciou. Na semana passada, foi reportado a um órgão do governo do Reino Unido que a subsidiária britânica da ByteDance, dona do aplicativo, teve uma receita total de U$4,6 bilhões (R$26,19 bilhões) em 2023 . O número, 75% maior do que no ano anterior, exclui os mercados dos EUA, Ásia e Oceania. Segundo a empresa, o resultado se deu pelo crescimento da base de usuários, ultrapassando um bilhão de pessoas, e melhorias nos mecanismos de monetização e anúncios. Por outro lado, as perdas operacionais cresceram 167%, chegando a US$ 1,4 bilhão (R$7,94).
Até onde VEs são sustentáveis? O Rest of World publicou uma reportagem sobre como duas mulheres húngaras representam a resistência contra a criação de uma fábrica chinesa no país para produção de baterias usadas em veículos elétricos (VEs). O principal argumento delas é de que a unidade da CATL — uma das gigantes chinesas voltadas para manufatura de baterias — está ocupando um espaço que antes era usado para a produção de alimentos. Além da substituição de um produto por outro, elas fazem um alerta sobre os riscos ligados à contaminação do solo e outros danos ambientais.
Mais e mais cigarros na China. Na contramão do mundo, as vendas de cigarros estão crescendo na China, segundo um relatório de um think-tank apoiado pelo governo. De acordo com o documento, depois de uma queda entre 2014 e 2016 (graças a políticas que restringiram espaços onde fumar é permitido) as vendas voltaram a crescer no ano passado, atingindo um total de 2,44 trilhões de cigarros comercializados no país. O aumento pode ser atribuído à diminuição do tamanho dos cigarros – afinal, apesar do crescimento nas vendas, o total de adultos fumantes diminuiu de 26,6% em 2018 para 24,1% em 2022, de acordo com o governo. Ainda é um número muito superior à média mundial, de 17%. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a China é a maior produtora e consumidora de tabaco do mundo. Isso é, em parte, cultural: compartilhar e dar cigarros a amigos ou colegas de trabalho — sobretudo entre homens — é uma forma de socialização.
Trabalhadores da Shein expõem condições precárias. Uma série de vídeos publicados nas redes sociais mostrou a persistência de condições de exploração enfrentadas por funcionários em centros de distribuição da Shein no Sul da China – um assunto que já veio à tona algumas vezes. Os trabalhadores compartilham sua rotina de longas jornadas sem pausas, salários calculados por produtividade e pouca segurança sobre os rendimentos mensais, misturando sarcasmo e humor. A Shein, que depende fortemente desses trabalhadores temporários, afirma que segue as leis locais, mas críticos apontam a falta de transparência nas informações e proteção dos trabalhadores.
Pós-moderno: a cultura de cha chaan teng (casas de chá populares) de Hong Kong virou tema de exposição na Adidas de Shanghai, como mostra a Radii.
Cabeleira: a China domina 80% do mercado de perucas do mundo, as quais 60% vem de Xuchang. Este texto conta sobre esse setor, fábricas de perucas, a empresa Rebecca e como a economia da cidade gira em torno dessa produção, que expandiu sua atuação global graças ao e-commerce.
Clube do Livro: no dia 28 de outubro, às 20h, temos o nosso encontro mensal sobre literatura chinesa. O livro do mês é Crônica de um vendedor de sangue, de Yu Hua. Ainda dá tempo de ler e participar.
Everest: um pé congelado recentemente encontrado no Monte Everest pode revelar quem teria sido o primeiro escalador da montanha de maior altitude da Terra. Este fio no Bluesky explica.
Um comitê de 400 eleitores selecionados por Pequim elegeu, em votação com um único candidato, Sam Hou-fai como o novo chefe executivo de Macau. O SCMP explica o que esperar da nova liderança da RAE.