Close-up de um robô com uma luz vermelha no rosto, simbolizando tecnologia avançada e inteligência artificial

Foto de Eirc Shi via Unsplash.

Edição 323 – Xi no comando: um boom tecnológico em meio a desafios econômicos

Política e economia

Um equilíbrio tênue. Uma das nossas queridinhas, a pesquisadora Yuen Yuen Ang publicou um novo texto no Project Syndicate sobre as políticas econômicas do governo Xi Jinping. Ela publicou um fio no Twitter/X que resume alguns dos dilemas atuais: um boom na área de tecnologia, mas um cenário econômico pouco animador em todos os outros setores. O direcionamento dado por Xi para áreas como veículos elétricos e painéis solares levou governantes locais a inflarem números e investimentos – resultando agora em fábricas operando abaixo da capacidade e um mercado beirando o saturamento. Mas será que o setor de tecnologia consegue sustentar a economia do país? Ou se os outros sofrem, ele vai sofrer também? A autora discute caminhos possíveis para a economia chinesa. Vale dar aquela conferida.

E falando em decisões políticas de Xi, essa discussão no China Talk com o pesquisador Yasheng Huang é um bom complemento: as escolhas políticas (como o fim do limite do mandato) eram necessárias para as escolhas econômicas? Além de toda a discussão sobre sucessão e nacionalismo.

Só nos compiuter. A indústria de games chinesa ainda está nadando no sucesso estrondoso de Black Myth: Wukong, e a nova leva de 128 jogos aprovados (estrangeiros e nacionais) inclui outro jogo bem antecipado no território chinês – o Goddess of Victory: Nikke. Dos 128, apenas 15 títulos são estrangeiros e o próprio Goddess é desenvolvido pela sul-coreana Shift Up, que pertence 35% à Tencent. Para quem não lembra, em 2021 os reguladores chineses apertaram o cerco nos lançamentos de jogos durante meses. Difícil ver algo assim se repetir depois de Black Myth trazer para casa a primeira avaliação AAA de um game chinês.

Internacional

Chegando aí. Não tem sido fácil acompanhar as eleições dos Estados Unidos – cuja votação começou oficialmente e encerrará no dia 05 de novembro. Com a saída de Biden da corrida (que viralizou na internet chinesa), não faltou discussão sobre o que uma gestão Kamala Harris poderia significar para a relação com a China. Se o histórico dela como vice for a regra, ela vai falar bastante de temas sensíveis como Hong Kong e Xinjiang, além de manter a política de reduzir a dependência estadunidense da economia chinesa. O fato de Tim Walz, vice de Harris, ter morado e dado aulas de inglês na China ajuda a pensar que apesar de firme em pautas de direitos humanos, o governo não seria necessariamente agressivo contra o competidor asiático.

Ao mesmo tempo, muita gente se preocupa com uma radicalização da relação em um novo governo Trump – visto o histórico dele, que acelerou com força a guerra comercial e já falou até em 60% de tarifas em cima de produtos chineses. Usando o argumento de que Xi sabe que ele é “louco”, Trump acha que sob a sua presidência, Pequim não teria coragem de invadir Taiwan. De todo modo, o governo chinês não manifestou nenhuma preferência, com o discurso de que é pauta interna e referente à soberania dos EUA. Esta matéria do The Guardian cita especialistas chineses e estadunidenses sobre os dois candidatos.

Brasil na BRI? A menos de um mês da visita de Xi Jinping ao Brasil, o Planalto intensificou as negociações para firmar parcerias estratégicas com a China, focando em infraestrutura e tecnologia. Dada a importância do encontro, Rui Costa (Casa Civil), Gabriel Galípolo (Banco Central) e Celso Amorim (assessor especial da Presidência) passaram a última semana em Pequim negociando com autoridades chinesas, discutindo, inclusive, a possível adesão do Brasil à Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês). A entrada formal do Brasil no projeto é uma demanda antiga de Pequim. Além disso, Xi Jinping também visitará o Peru para inaugurar o Porto de Chancay, e a presença de Lula no evento está sendo considerada, dependendo da sua agenda.

Sociedade

Apenas trabalhadores.  Como é a rotina de um censor na internet chinesa? A China Digital Times traduziu e publicou trechos de uma entrevista realizada pela revista digital independente chinesa Mang Mang com um jovem moderador de conteúdo. Atuando nesse papel há quatro anos, o entrevistado compartilhou aspectos práticos do trabalho, como salário inicial (4.300 yuan, ou R$ 3.446), o que muda em datas políticas como 4 de Junho (a censura passa a ser ativa, não reativa), e a burocracia envolvida em bloquear contas em mídias sociais (nenhuma, é só bloquear). O tom geral do depoimento é de pragmatismo, e o entrevistado revela que raramente se sente culpado por restringir a circulação de certas informações na web chinesa – “o problema não é o trabalho; são as pessoas que criaram esse trabalho”. Vale a leitura.

Concursão. Na semana que vem, cerca de três milhões de pessoas devem realizar as provas do guokao, o concurso do serviço público chinês. Neste ano, são oferecidos 39.700 postos – o mais disputado, com 10 mil candidatos, é para trabalhar em uma associação vocacional. Para efeito de comparação, o Concurso Público Nacional Unificado brasileiro recebeu 2,1 milhões de inscrições para 6.640 vagas, sendo 28.534 candidatos para a mais concorrida (analista no IBGE). Por aqui, o concursão é novidade, mas na China ele é tradicional e movimenta toda uma indústria de preparação para as provas. Como conta a Sixth Tone, os candidatos deste ano puderam contratar até serviços de inteligência artificial dedicados a esse tipo de preparação.

Zheng He

Bomba: Yangyang Cheng aproveita o aniversário de 60 anos do teste da primeira bomba nuclear chinesa para refletir sobre o programa e sobre a população de Lop Nur, a região dos testes que fica em Xinjiang. 

Obra: este texto do World of Chinese fala sobre o escritor Lin Yutang e a sua obra Minha Terra e Meu Povo, lançado em 1935, e a sua tentativa de explicar a China. Lin foi amplamente publicado em português durante os anos 1960 a 1980. 

Dinos: foi confirmada a descoberta dos primeiros fósseis de dinossauros encontrados em Hong Kong, no Geoparque Global da UNESCO. Estima-se que os fósseis tenham 66 milhões de anos e sejam do grupo Sauropoda.

 

Esta animação chinesa, no melhor estilo de pintura tradicional, foi feita pelo Shanghai Animation Film Studio na década de 1980. A produtora fez apenas quatro neste estilo, depois de ter inventado esse formato pincelado: infelizmente, era caro demais produzir deste modo, conta Chenchen Zhang.

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