Imagem em cores de celular com o aplicativo TikTok diante de bandeira da China.

Foto de Solen Feyissa via Unsplash.

Edição 331 – Bye bye, TikTok?

Política e economia

O ano começou com a notícia de que PIB chinês atingiu a meta de crescimento de 5% no último semestre do ano passado. Ainda que o dado seja positivo, ele vem acompanhado de um sentimento de piora na qualidade de vida entre os chineses, de acordo com a Reuters. As primeiras análises após a divulgação dos dados mostram que esse crescimento se deveu a um aumento de exportações combinado com estímulos do governo. O South China Morning Post comenta que o resultado vem em boa hora, já que o principal adversário comercial chinês, os Estados Unidos, se prepara para a posse de Donald Trump na segunda (20), o que deve gerar um impacto negativo para as exportações chinesas.

Outro indicador que pesa na economia chinesa é o da queda da população do país. Este é o terceiro ano consecutivo em que o gigante asiático registra um decréscimo no número de habitantes, elevando a preocupação governamental com a crise demográfica. Enquanto os números gerais são ruins, pressionando o sistema previdenciário do país, a cidade de Tianmen, em Hubei, mostrou que robustos incentivos financeiros para os pais podem ajudar a reverter o cenário, como mostra o SCMP.

Cerca de 7 a cada 10 veículos elétricos vendidos no mundo são chineses. Esse dado reflete a importância da China para a indústria e foi um dos motivadores para que a SixthTone fizesse um especial de 5 matérias sobre o tema. Nesta semana, o veículo publicou uma reportagem contando como o setor de reparos de VEs ainda patina no país. Os temas anteriores foram as cidades que sediam as fábricas, os vendedores que levam os produtos para o mundo, a popularidade de mini carros elétricos, e os custos desconhecidos que os veículos geram ao longo de sua vida útil.

Por falar em reparos e consertos, a Caixin conta que o governo agora se preocupa em regular o sistema de reciclagem de baterias, algo que a China também vem liderando e o que é um desafio para o setor de transição energética no mundo todo.

Internacional

Às vésperas de Donald Trump tomar posse como presidente dos EUA, na tarde desta sexta-feira (17), o líder estadunidense teve uma conversa telefônica com Xi Jinping. A notícia foi divulgada inicialmente pela chancelaria chinesa e mais tarde confirmada por Trump em suas redes sociais. O republicado afirmou que entre os tópicos do diálogo estiveram o TikTok, fentanil e comércio. O presidente eleito disse também que os EUA e a China farão de tudo para tornar o mundo “um lugar mais pacífico e seguro”. Em seu retorno à Casa Branca, é esperado que Trump foque novamente nas relações com a China. 

Por falar em posse, Pequim vai enviar o vice-presidente chinês Han Zheng como seu representante para a cerimônia de investidura de Trump. A confirmação do nome de Han é uma negativa da presença de Xi Jinping – porém analistas avaliam o gesto como um sinal de que os chineses querem manter diálogo com a administração Trump.

Será que é o fim da novela? Nesta sexta-feira (17), a Suprema Corte dos EUA decidiu de forma unânime que é constitucional a proposta de banir o TikTok do país sob o argumento de segurança nacional. Foi uma resposta à tentativa do app de reverter a decisão de abril de 2024. Depois de 5 anos de discussão, a determinação entra em vigor no domingo (19) – logo antes da posse de Trump, que pode reverter o veredito ou atrasar o processo com algumas ferramentas. Este texto da Lawfare explica o que pode acontecer e como isso será feito na prática (brasileiros que viram o banimento do X vão achar familiar). 

Entre o vai e não vai do TikTok, o tema da venda do aplicativo para uma contraparte não-chinesa voltou – rolou fofoca até de que o Elon Musk compraria, com aval das autoridades chinesas (que precisariam aprovar o acordo), que o considerariam “confiável”. A ByteDance, dona do app, disse que era só fofoca mesmo. 

Mas o possivelmente falecido TikTok já deixou herdeiro. Ao longo da última semana, influenciadores e usuários estadunidenses do aplicativo migraram para o Xiaohongshu – mistura chinesa de Pinterest e Instagram, onde a mãe do Elon Musk já faz sucesso há uns anos como blogueira de lifestyle. O app recebeu um fluxo grande de autointitulados “refugiados do TikTok” que afirmam estarem protestando ao cederem seus dados de forma voluntária para o governo chinês. O aplicativo, que chegou ao primeiro lugar na App Store dos EUA, ganhou um nome em inglês: RedNote – um ótimo caso de rebranding, já que se afasta do nome “pequeno livro vermelho”, tradução do nome original em madarim que remete ao Mao Zedong.

O pessoal se empolgou – e por tabela empolgou também os brasileiros, que adoram uma rede social e foram lá dar uma olhada. Tem observador otimista afirmando que isso tudo abrirá os olhos de muita gente para o fato que chineses são, bom, normais (!), e que muito do que é dito sobre o país no ocidente é desinformação. Mas entre quem estuda China rola uma confusão – afinal, o país não está fechado para o mundo há décadas. Talvez tudo isso seja um pouco de empolgação exagerada (até sugeriram instalar o Baidu!) e generalista, esquecendo que o app sofre de problemas também: em 2022, ele foi multado por usar mulheres como “isca” para atrair novos homens. E tem, é claro, a questão da moderação: usuários chineses avisam para evitar temas polêmicos para não perder a conta, como gênero (que já teve um bom espaço lá em 2023) e política. A empresa já está contratando moderadores em inglês (pagando mais do que para os moderadores em mandarim) e estudando separar os usuários do app por localização (assim como a ByteDance faz com o TikTok e o Douyin), conta o texto bem explicativo do China Digital Times.

A jornalista Taylor Lorenz, que há anos reporta sobre a ascensão do TikTok e a cultura de influenciadores, acha que a lua de mel não dura e que o TikTok tinha fatores específicos para a sua ascensão. Um dos fatores que pode dificultar o sucesso do RedNote é a predominância domandarim. De todo modo, para quem for testar, é importante ficar por dentro das gírias da rede – então confere o post da RadiiChina e esta lista de apelidos proibidos para se referir ao Xi Jinping.

Sociedade

Um terremoto de magnitude 6.8 atingiu a região de Shigatse, no sudoeste do Tibete, no dia 7 de janeiro. O tremor deixou ao menos 126 mortos, 188 feridos e mais de 3.600 casas destruídas. As equipes de resgate têm sofrido durante as operações devido ao frio de -16°C e ao ar rarefeito da região. Abrigos temporários foram montados para a população mais afetada, e as autoridades alertaram para o risco de novos tremores, enquanto mais de 12.000 resgatistas continuam as buscas. 

Acessíveis, móveis, rápidas e viciantes. Essa é a fórmula do sucesso das micronovelas chinesas, como conta a The Wire China. As narrativas dramáticas de vários episódios de poucos minutos distribuídas em plataformas digitais (como, é claro, o Douyin) movimentaram cerca de 50,44 bilhões de renminbi (USD$6,89 bilhões) em 2024 e podem ultrapassar a receita dos cinemas logo menos. O público é enorme: 576 milhões de pessoas, pouco mais da metade de todos os chineses que acessam a internet, número maior do que o de usuários de apps de entrega. E boa parte é de pessoas idosas, que chegam a gastar milhares de renmimbi para comprar episódios de seus dramas preferidos. O sucesso desse tipo de produção vem crescendo nos últimos anos e atraindo a atenção do governo: entre 2022 e 2023, foram removidos do ar quase 1,5 milhão de episódios de cerca de 25 mil programas por conta de conteúdos pornográficos, violentos, ou vulgares. Os temas das micronovelas? Identidade e dinheiro, com particularidades a depender do público-alvo: entre os mais velhos, esses valores são abordados nas relações entre pais e filhos; entre os mais jovens, o foco está no trabalho e no amor.

Vai-se o padrinho do jazz. Em Pequim, o ano começou com homenagens a Liu Yuan, saxofonista que ganhou o título de “padrinho do jazz” na China e que faleceu em dezembro de 2024. Reconhecido amplamente, Liu co-fundou a banda ADO, que impulsionou Cui Jian, o primeiro astro do rock chinês, à fama. Mesmo enfrentando resistência inicial ao jazz no país, Liu apresentou ao público nomes icônicos como John Coltrane e Miles Davis, estabelecendo-se como um pioneiro do gênero no país. Em 2006, ele fundou o East Shore Jazz Café em Pequim, que se tornou um ponto de encontro para músicos e entusiastas do jazz, e fez com que sua dedicação não apenas popularizasse o gênero, mas também inspirasse uma nova geração de músicos chineses a explorar e apreciar o jazz.

Zheng He

Discurso: o rejuvenescimento nacional por meio da modernização chinesa foi o tema de um discurso de Xi Jinping em 2023, publicado pelo Qiushi Journal em sua primeira edição do ano. A Sinocism traduziu os trechos mais interessantes para o inglês.

Precisando: os SPAs chineses são bem tradicionais, mas digamos que tem um público cativo mais idoso. Percebendo isso, vários decidiram fazer um rebranding focando em jovens e deu certo (e deu vontade).

Retrospectivas: quem não ama uma listinha? Então confira duas aqui pra ficar por dentro das melhores músicas e dos melhores filmes chineses do de 2024.

Totalmente premiada: a vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro também gerou buzz nas redes chinesas, como conta a Folha.

 

Uma mistura de Sim City, The Sims, Grand Theft Auto e mais é o que promete o trailer do jogo chinês The Bustling World, ainda sem data de lançamento.

 

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