
Foto de President of the Russian Federation via WikiMedia Commons.
Edição 337 – China busca parceiros em meio a aproximação entre Putin e Trump
Militarismo e alinhamento político no centro da modernização. Após uma série de ações contra corrupção que atingiram oficiais de alto escalão do Exército de Libertação Popular, incluindo nomes ligados ao setor nuclear e à indústria de defesa, Pequim tem apostado em um esforço coordenado para garantir que agora as lideranças militares estejam plenamente alinhadas com as diretrizes do governo. Os movimentos têm incluído desde sessões de estudo sobre discursos de Xi até a exibição de documentários sobre o desenvolvimento militar chinês, passando por programas de treinamento que mesclam disciplina política e preparo tático. O objetivo é claro: consolidar a confiança interna no EPL e fortalecer sua capacidade de atuação diante dos desafios estratégicos do país. O impacto dessa abordagem, no entanto, tem gerado debates. Enquanto o governo enfatiza a importância da unidade entre partido e forças armadas, especialistas ponderam se a ênfase na formação ideológica pode afetar a flexibilidade operacional da tropa.
A morte de Yang Qiang, um dos principais cientistas de radar da China, na semana passada, é vista como uma grande perda para a pesquisa militar do país. Professor no prestigiado Instituto de Tecnologia de Harbin (HIT), Yang era peça-chave no desenvolvimento de sistemas para detectar aeronaves furtivas, como o caça norte-americano F-22. O HIT, uma das instituições de elite da China em engenharia militar e tecnologia de defesa, destacou que Yang era um pilar na pesquisa e no ensino, reforçando a importância de seu trabalho para a segurança nacional. Além da comoção pela perda de Yang, a causa de sua morte tem levantado questionamentos devido à falta de detalhes divulgados. De forma genérica, a causa do falecimento do cientista foi atribuída a uma “doença”.
Enquanto o Brasil comemora o Carnaval, a China se prepara para um dos mais importantes eventos do ano: as Duas Sessões, encontro pós-reuniões do Legislativo chinês de onde saem as diretrizes para cada ano. A maior das expectativas para a edição de 2025, como nos últimos anos, são os planos para a economia. De acordo com a CNBC, o reconhecimento da queda de demanda doméstica está entre os destaques do que deve ser anunciado.
Fogo no parquinho. Após uma ligação com o presidente russo Vladimir Putin na última segunda-feira (24), Xi Jinping declarou que os dois países já passaram por muita coisa juntos e são “amigos de verdade”. A data da ligação coincidiu com o marco de três anos da guerra na Ucrânia e vem na esteira de uma grande aproximação entre Putin e Donald Trump – que, ao que tudo indica, não deve expandir seu círculo de amizades para incluir Pequim. Nesta semana, os EUA impuseram novas sanções a entidades chinesas por envolvimento com a indústria petroleira iraniana.
Sanções também foram motivo de tensão com a União Europeia, que incluiu entidades e indivíduos chineses em uma nova lista de punições comerciais contra a Rússia. Ao mesmo tempo, Pequim parece estar investindo na relação com o bloco europeu, ressaltando que a recente aproximação entre Putin e Trump indica que a UE perdeu seu melhor amigo e deveria se juntar à China para manter a ordem multilateral.
Energia solar chinesa no Sul Global. Enquanto os Estados Unidos e a União Europeia vêm impondo barreiras à tecnologia solar da China, países como Brasil, Paquistão e Arábia Saudita estão entre os maiores importadores de paineis solares, aproveitando preços mais baixos para expandir suas matrizes energéticas. A lógica por trás desse movimento é clara: para países com alta dependência de combustíveis fósseis importados, a energia solar chinesa tem aparecido como uma alternativa acessível e estratégica. Pequim, por sua vez, tem fortalecido sua posição na geopolítica energética ao expandir sua presença nesses mercados, chegando a responder por três quartos da produção global de paineis solares.
DiplomacIA. O assunto esfriou um pouco, mas a disputa geopolítica entre OpenAI e DeepSeek segue firme e forte. Na sexta-feira (21), a empresa estadunidense criadora do ChatGPT publicou em seu relatório mensal um relato sobre duas operações chinesas bloqueadas pela plataforma por violação dos termos de uso. Uma delas girava em torno da manutenção e divulgação de outra ferramenta de IA, usada para monitoramento de redes sociais para serviços de segurança na China. Na outra operação, eram gerados comentários em inglês para mídias sociais e artigos noticiosos em espanhol críticos aos Estados Unidos, posteriormente publicados em sites latino-americanos, majoritariamente do Peru. Do outro lado da trincheira de silício, como conta o China Media Project, governos do Sul Global começam a adaptar a IA chinesa DeepSeek de acordo com as sensibilidades locais. O texto explora o caso da Índia, onde as ferramentas permitem consultas sobre assuntos vetados na China, mas bloqueiam questões sobre o primeiro-ministro Narendra Modi e eventos históricos nacionais sensíveis.
Para se livrarem das inconvenientes perguntas sobre “as namoradinhas” de familiares, jovens chineses desenvolveram uma nova estratégia: uma resposta aleatória. Em uma divertida reportagem, a Sixth Tone traz exemplos concretos de yidu luanhui, como o fenômeno que virou meme ficou conhecido na China. A estratégia é não fugir do assunto, nem ficar constrangido, mas com certa naturalidade oferecer uma resposta sem noção para perguntas inconvenientes. Para uma pergunta como “Quando você vai casar?”, a resposta pode ser, por exemplo, “Meio dia, talvez de noite”, por exemplo. Se você está procurando ideias de como trazer isso para sua vida, recomendamos fortemente a leitura!
Evasão escolar em Hong Kong? Mais de 20 mil estudantes em Hong Kong correm risco de abandonar a escola, segundo a ONG Youth Outreach, sendo 60% desses jovens com menos de 15 anos. Uma explicação para o problema é o diagnóstico tardio do absenteísmo: a atual metodologia de monitoramento da frequência escolar só registra ausências contínuas de sete dias ou mais, falhando em identificar alunos que comparecem esporadicamente às aulas. Esta lacuna permite que milhares de jovens saiam do sistema educacional sem qualquer suporte ou acompanhamento. Como comentamos por aqui, o sistema escolar local tem sofrido o fechamento de dezenas de salas de aula nos últimos anos por conta da diminuição no número de estudantes; enquanto isso, a juventude honconguense sofre de desesperança com a vida, motivada pela competitividade acadêmica.
Leopardos brancos: A China publicou o maior estudo com revisão de pares para contabilidade de leopardos brancos, somando 1002 animais em seu território – ou 10% da população mundial da espécie.
Tibet: A região teria a maior diversidade linguística do mundo, mas isso pode estar ameaçado, como mostra esse texto do The Conversation.
É festa: A BBC Brasil fez uma reportagem mostrando a importância da indústria chinesa para o carnaval brasileiro.
Podcast: O Tech Policy.press conversou com ativistas pelos direitos digitais em Taiwan sobre como a sociedade civil local contribui para essa pauta.
Os Jogos Asiáticos de Inverno 2025 chegaram ao fim em 14 de Fevereiro. Conforme esperado, a China liderou o quadro de medalhas com folga, totalizando 85 pódios, seguida por Coreia do Sul (45) e Japão (37).