Aniversário da Marinha marca sonho chinês de força naval
As celebrações apresentam o crescente poder marítimo chinês e exibem força, tecnologia e organização
Por Rita Feodrippe
No fim de abril deste ano, a cidade de Qingdao foi palco de uma grande celebração: um festival naval internacional para exaltar o aniversário de 70 anos da fundação da Marinha chinesa (People’s Liberation Army Navy – PLAN). Em vídeo comemorativo, é possível voltar no tempo e acompanhar a evolução da PLAN. O braço naval das Forças Armadas chinesas tem, desde 1978, passado por sequentes processos de modernização. Os destaques incluem: a participação em operações antipirataria na costa da Somália; o lançamento de navios de guerra construídos nacionalmente, como destroier Nanchang; e a atualização da doutrina militar naval – mudando da defesa costeira para a atuação em mar aberto.
Para alguns, o desfile naval possuiu o objetivo de apresentar o crescente poder marítimo chinês, em uma verdadeira exibição de força, tecnologia e organização. A evolução da PLAN desde a última passagem em revista, feita no Mar do Sul da China no ano passado, é motivo de orgulho para Pequim. O presidente Xi Jinping aproveitou a vibração em torno do tema para propor, inclusive, a construção de uma “comunidade marítima de futuro compartilhado”. Conceitos fundamentais da política externa de Pequim estão, afinal, se expandido para os oceanos.
Na tentativa de sistematizar o poderio militar chinês nos mares, o ChinaPower levantou os principais números sobre as forças navais do país. Hoje, a PLAN possui mais de 300 navios, superando em quantidade a marinha mais poderosa do mundo – a dos Estados Unidos. Segundo o artigo, entre 2014 e 2018 a China lançou ao mar mais submarinos, navios de guerra, navios-anfíbios, e embarcações auxiliares do que o número total de embarcações presentes individualmente nas marinhas de Alemanha, Índia, Espanha e Reino Unido.
E a comemoração dos 70 anos da PLAN traz à tona, também, a importância da participação das Forças Armadas chinesas na construção da República Popular, após a vitória comunista sobre os nacionalistas em 1949. Há uma preocupação sensível por parte do governo para que a população do país entenda o papel dos militares para o desenvolvimento chinês, e comemorar o aniversário de uma força naval revela novas prioridades e estratégias. Daí o evento em Qingdao ter sido mais do que uma parada militar: foram várias atividades oferecidas ao público, desde festival de música até visita aberta aos navios atracados. Houve até sessões de degustação!
A imprensa chinesa também investiu pesado na divulgação do acontecimento: o China Daily criou uma página dedicada, concentrando notícias e informações sobre a PLAN. O objetivo de despertar a consciência da população sobre a importância do mar parece estar funcionando: são diversos os vídeos de pessoas imitando o chamado aircraft carrier style, ou seja, o movimento feito pelos oficiais que liberam o voo dos caças J-15 a partir do navio porta-aviões Liaoning. Parece, afinal, que a cultura naval está de fato conquistando as mentes – e principalmente os corpos – dos cidadãos chineses.