Newsletter 062 (PT)
A Xiaomi acabou de entrar na lista global da Fortune 500 (publicada anualmente com as empresas de maior receita naquele ano) e é a empresa mais nova dentre os nomes. Demorou só nove anos (a Apple levou sete). Tencent, Alibaba e JD.com também estão lá. O número de empresas da China continental que estão na revista este ano chegou a 119— se incluir Taiwan, chega a 129. Os Estados Unidos têm 121. É uma mudança marcante e histórica, segundo a própria Fortune.
Dessas 119, cerca de 80% são estatais: a Sinopec, CNP (de petróleo) e a State Grid (energia) ficaram entre as cinco maiores. Falando nisso, o jornalista Richard McGregor publicou no The Guardian um longo artigo sobre a presença do Estado no setor privado chinês e como isso estaria crescendo sob o governo de Xi Jinping.
Por falar em setor privado, o Financial Times fez uma análise (infelizmente com paywall) sobre as dificuldades do setor de tecnologia na China. A crescente competitividade reduziu lucros e certos modelos de negócio se mostraram problemáticos — já falamos aqui da Ofo, por exemplo. Alguns afirmam que a bolha da economia compartilhada está estourando. Todavia, como é padrão na China, adaptação é a chave do negócio e é exatamente isso que as empresas e os empreendedores estão fazendo.
Durante os protestos em Hong Kong (contra a lei de extradição), marcados por repressão policial, surgiu uma nova ameaça aos manifestantes. No dia 21, um grupo 100 de homens de branco atacaram diversas pessoas participando dos protestos, na estação de metrô de Yuen Long: 45 pessoas ficaram feridas. A polícia demorou muito tempo para chegar ao local e só apareceu minutos após os homens de branco irem embora. A história por trás desse grupo de branco está ligada ao crime organizado na cidade (as famosas tríades) e é complexa, com origens no poder colonial sob os britânicos, mercado imobiliário e lideranças rurais. Aqui, encontra-se uma boa explicação. Enquanto isso, os protestos seguem na sua oitava semana — agora ilegalmente (os outros tinham recebido autorização) e com mais violência.
Morreu nesta semana, aos 91 anos, o ex-premiê Li Peng, conhecido popularmente no ocidente como o “Açougueiro de Pequim” devido à declaração de uma lei marcial para conter os eventos ocorridos na Praça da Paz Celestial, em 4 de Junho de 1989. Li também ficou conhecido como a grande mente por trás do suntuoso (e controverso) projeto da Hidrelétrica das Três Gargantas no Rio Yangtze, a segunda maior hidrelétrica do mundo em energia gerada e que desalojou 1,3 milhão de pessoas para sua construção.
Sabe as lojas Duty-free que você vê nos aeroportos? Elas podem ser a nova força disruptiva no competitivo mercado de luxo no Império do Meio e, por conseguinte, no mundo. É o que projetou o banco de investimentos Morgan Stanley em um recente relatório sobre o segmento no país. Espera-se que as vendas em lojas Duty-free cresçam a uma taxa anual de 22% até 2025, acumulando mais de 24 bilhões de dólares. Para o segmento de luxo, estima-se que o crescimento irá pular dos atuais 6% anuais para 13% em 2025.
Enxergando um potencial na democratização ao acesso a produtos de consumo no continente africano, a China já entrou no mercado. Em 2015, Xi Jinping lançou um projeto chamado “10.000 Vilas”, que planejava levar televisores digitais para vilarejos pobres no interior da África. A empresa por trás do projeto se chama StarTimes e está rica. Ela transmite notícias e programas direto da China para 10 milhões de casas em 30 países africanos. O sucesso da StarTimes é um exemplo da diferença de abordagem da China na África, mostra por que os chineses estão mandando muito bem no soft power e ao mesmo tempo revolucionando o acesso à informação.
Negociadores estadunidenses devem retornar à China nesta semana para dar continuidade às discussões oficiais sobre a guerra comercial entre os dois países. As negociações estavam paradas desde maio, quando o presidente Donald Trump acusou Pequim de não cumprir alguns dos compromissos assumidos com Washington, implementando uma nova onda de tarifas aos produtos da China importados pelos EUA. O novo encontro, que ocorrerá em Xangai na próxima terça-feira (30), deverá dar seguimento ao diálogo iniciado entre os líderes dos dois países na reunião da cúpula do G20, no Japão. É preciso, porém, ter cautela – dado o nível de desentendimentos estruturais entre os lados, é pouco provável que uma resolução ampla seja alcançada em pouco tempo.
Iván Duque, presidente da Colômbia, iniciou no último domingo (28) sua primeira visita de Estado à China. Durante a viagem de quatro dias, Duque pretende negociar a abertura do mercado chinês aos produtos colombianos e, ainda, atrair novos investimentos de Pequim em seu país. O presidente declarou acreditar que a Colômbia deva entrar no “radar dos investidores [da China]” e expressou desejo de que os chineses vejam a nação sul-americana como “um lugar estratégico para investimentos”. Neste ano, aliás, iniciam-se os preparativos para as comemorações dos quarenta anos de estabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países – firmado em fevereiro de 1980.
Já no Brasil, o ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo confirmou para outubro a também primeira visita de Jair Bolsonaro ao Império do Meio. Em declaração à imprensa após reunião com Wang Yi, conselheiro de Estado e ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Araújo afirmou que o Brasil quer ter cada vez mais uma relação econômica aberta com o mundo e que a China é um importante parceiro comercial do país. Em contrapartida, Xi Jinping também deve visitar o Brasil – a presença do líder é esperada no encontro da Cúpula dos BRICS em novembro, em Brasília.
Já comentamos na Shūmiàn os protestos online decorrentes da intensa jornada de trabalho conhecida como 996 – trabalhar de 9 da manhã às 9 da noite, seis vezes por semana. A indignação vocalizada na internet chinesa ficou conhecida como o 996.ICU (ou 996 UTI, em português) e reflete sobre como a prática de trabalho intenso levaria a pessoa, invariavelmente, à Unidade de Tratamento Intensivo. Aqui (página 54) você pode entender porque o 996.ICU surgiu não apenas decorrente da desaceleração da economia chinesa, mas também como reflexo às demissões em massa que rolaram nas maiores empresas de tecnologia no país em 2018, aos pobres planos de carreira e ao crescente descontentamento em empreender em uma área cada vez mais monopolizada pelas gigantes BAT (Baidu, Alibaba e Tencent).
Para fechar com chave de ouro, ainda se discute porque o 996.ICU não deslanchoucomo um movimento. A censura é apenas uma pequena parte da explicação. Hora de preparar aquele cafezinho.
Se falar sobre sexualidade já é um verdadeiro tabu, imagine como é se assumir assexualem um país de forte influência confucionista. Em uma reportagem cheia de relatos de pessoas assexuais chinesas, Fan Yiying desbrava um pouco a comunidade que, se por um lado é pouco acolhida por entes queridos, por outro tem recebido cada vez mais espaços online e garantido visibilidade a um grupo de mais 10 milhões de pessoas só na China.
Aproveitando o gancho sobre sexualidade, o Goldthread fez uma matéria sobre como se dá a adoção por casais homoafetivos na China. Em poucas palavras: é proibido adotar, e por isso vários optam por fertilização in vitro em outros países (como nos Estados Unidos).
Ao menos 36 pessoas morreram e outras 15 seguem desaparecidas após um deslizamento de terra na província de Guizhou, no sul da China, na última terça-feira (23). O incidente, que resultou na destruição de mais de 20 casas, não é, infelizmente, raridade. Ocorrências como essa são comuns nas áreas montanhosas do interior chinês, especialmente em épocas de alta precipitação – ainda mês passado, o vídeo de um assustador deslizamento da província de Fujian circulou a internet. Neste ano, não foram poucos os casos de mortos e realocados devido às implicações de uma intensa temporada de chuvas no país.
Autismo: com mais de 2 milhões de crianças no espectro autista no país, o South China Morning Post fez um curta retratando as condições e desafios deste grupo. Imperdível.
Para ficar de boa: hora de pegar os fones de ouvido para curtir o som da banda taiwanesa Xueiyuan. Aproveite.
Yao Lee: a cantora chinesa Yao Lee, conhecida como Rainha do Pop (em mandarim), faleceu aos 96 anos de idade no dia 19 de julho. Ela reinou principalmente durante os anos 40 e recentemente foi incluída na trilha sonora do filme “Podres de Ricos” – com a ótima Ren Sheng Jiu Shi Xi.
Momento fofura: filhotes de panda nascidos no ano passado ganharam uma festa de aniversário, com direito a presentes e bolo, na reserva natural de Wolong, na província chinesa de Sichuan. As fotos estão demais – e tem vídeo também.