Newsletter 064 (PT)
Qual é a explicação para o espantoso desenvolvimento econômico chinês das últimas décadas? Frequentemente, o capitalismo de Estado da China e a capacidade de seu governo central de implementar políticas industriais e mitigar riscos sem a pressão eleitoral das democracias ocidentais são tidos como responsáveis pela rápida modernização do país. De acordo com Zhang Jun, porém, essa resposta está, pelo menos, incompleta. Para o economista da Universidade de Fudan, a força motriz do desenvolvimento chinês encontra-se, em grande parte, no processo de liberalização econômica e reforma estrutural iniciado no fim dos anos de 1970 pelo gigante asiático. Se o Estado, para Zhang, é de fundamental importância na garantia da estabilidade econômica, práticas globais nas áreas de finança, governança corporativa e administração macroeconômica foram fundamentais na execução das transformações realizadas pelo país em sua história moderna.
Lembram que, em nossa última edição, abordamos o dilema da Huawei quanto ao acesso que teria ou não ao sistema Android em seus próximos smartphones? Ao que parece, o plano de emergência está posto sobre a mesa: em uma conferência na cidade de Dongguan, Richard Yu, o CEO da divisão de consumidores da empresa apresentou o HarmonyOS, sistema operacional desenvolvido pela própria gigante chinesa e que estaria pronto para substituir prontamente o Android nos produtos da Huawei. Mesmo insistindo que a empresa prefere seguir utilizando o sistema operacional do Google em seus aparelhos, Yu afirmou que a migração para o novo sistema não seria difícil.
Quanto mais os protestos em Hong Kong se estendem, mais os moradores da cidade e analistas se perguntam se, eventualmente, o Partido Comunista Chinês usará de seu poderio militar para dar fim às inquietações sociais na região administrativa especial. Por um lado, o governo central nunca descartou oficialmente a possibilidade de intervenção pelo Exército Popular de Libertação. Uma propaganda pouquíssimo sútil divulgada pelo EPL, aliás, deixa claro que a opção segue aberta. Os custos do Exército nas ruas de Hong Kong, contudo, seriam expressivos. Para além de potencialmente destruir o mercado financeiro local, um dos mais importantes do mundo, e provocar uma onda de fuga ou abandono da cidade, uma intervenção militar seria particularmente danosa para a política do “um país, dois sistemas” — condição sob a qual Hong Kong foi retornada à China continental em 1997 e que é, até hoje, usada para persuadir Taiwan a retornar à soberania de Pequim.
Está difícil de acompanhar o desenvolvimento dos fatos em meio a turbulências das últimas semanas em Hong Kong? Em um dos nossos artigos da semana, no site da Shūmiàn, explicamos de maneira sucinta o atual cenário político e social na emblemática região administrativa especial. Agora não há mais desculpas para não estar por dentro do assunto.
Em breve será lançado o 14º Plano de Cinco Anos, um plano de desenvolvimento para o país cobrindo os anos de 2021 até 2025. Alguns dos principais pontos dizem respeito à sustentabilidade e ao meio ambiente. Diversas análises foram pedidas pelo governo, principalmente referentes às emissões de carbono, com a pretensão de se estabelecerem limites.
Em artigo de opinião no The New York Times, o comentador político Thomas L. Friedman argumentou que a guerra comercial sino-estadunidense é uma disputa profunda, de difícil resolução e que pode acabar por empobrecer não somente a China e os Estados Unidos, mas também todos os países que dependem do bom funcionamento da economia internacional globalizada. Para Friedman, a não ser que as administrações Trump e Xi encontrem uma maneira de amenizar o conflito em pouco tempo, o resultado será um mundo dividido tecnologicamente por um “muro de Berlim digital” em que poucos terão a ganhar.
Na última semana, a classificação da China como “manipuladora cambial” pelos Estados Unidos (devido aos movimentos que já abordamos em nossa seção de Política e Economia), porém, certamente não contribui para tal amenização. O Renminbi, que despencou ao seu menor valor em 11 anos, tem se tornado a moeda de troca na guerra comercial entre os dois países. Após as novas tarifas lançadas por Trump sobre importações da China (como abordamos em nossa edição passada), o governo central decidiu interferir no valor do câmbio para tornar a compra de produtos chineses mais atraente. A Brookings lançou um episódio do podcast Dollar & Sense discutindo a questão.
Nem só de hostilidades comerciais vivem as relações sino-estadunidenses — contendas militares também alimentam o atual enfrentamento entre as duas maiores economias do mundo. Desta vez, Pequim advertiu Washington quanto à implementação de mísseis terrestres dos Estados Unidos na Ásia. Três dias após Mark Esper, Secretário de Defesa dos EUA, declarar que pretende mover tais armamentos para o continente “antes cedo do que tarde”, Fu Cong, um oficial chinês de controle de armas, pediu que o país norte-americano exercitasse a moderação. “A China não vai ficar de braços cruzados e será forçada a tomar contramedidas se os EUA implementarem mísseis terrestres de alcance intermediário nesta parte do mundo”, completou.
Subiu para 45 o número de mortos e 16 o de desaparecidos em decorrência do tufão Lekima na região costeira do país. Ventos de 187km/h foram registrados na província de Zhejiang, a região mais afetada, onde uma barragem natural entrou em colapso e inundou o pequeno vilarejo de Yongjia. Só em Xangai, mais de 250.000 pessoas foram realojadas. Para se ter noção do nível de alerta das autoridades chinesas, na cidade de Qingdao, localizada na província de Shandong, o comércio foi impedido de abrir as portas por dois dias antes mesmo de o tufão chegar.
As marcas de roupas internacionais têm dificuldade de entender a China. Mesmo que com lucros estratosféricos, as grifes mais luxuosas do mundo continuam cometendo gafes que, mais do que causar espanto, podem significar um verdadeiro boicote no país. Um caso recente foi o da propaganda da Dolce & Gabbana no ano passado (mas não o primeiro). E, pelo visto, não foi o último: neste semana, foi a vez da Versace e da Coach entrarem para o rol de empresas que entendem o mercado chinês, mas nem tanto. Fotos de uma coleção em que Taiwan, Macau e Hong Kong aparecem como países independentes foram visualizadas mais de 1 bilhão de vezes no Weibo, gerando comentários raivosos dos internautas. Que timing. As marcas pediram desculpas ao público chinês e prometeram destruir as roupas.
Foi aprovada pela primeira vez, na municipalidade de Pequim, a mutual guardianship(tutela mútua, em tradução livre) por casais do mesmo gênero — um feito que coloca a capital ao lado de Xangai, Nanjing e Hubei. A ação dá mais esperanças à comunidade LGBTQIA+ por mais direitos e aceitação em um sistema institucional ainda muito delimitado pelas concepções tradicionais do confucionismo. Na prática, a tutela mútua gera os mesmos benefícios legais que um casamento e direito à herança. Há quem não tenha gostado nada da ideia.
Post-it like you mean it: os protestos seguem em Hong Kong e chamaram a atenção de muita gente os post-its formando murais pela cidade. Apelidados de “muros de Lennon” (em homenagem a John Lennon, tal qual o que surgiu em Praga após a morte do artista), eles carregam mensagens de ativismo, frustração, memes de políticos, desejos esperançosos para o futuro, e chamam mais gente para participar.
Podcast: a China é uma ávida consumidora de frutos do mar. Existe uma crescente preocupação com a sobrevivência de certas espécies raras, não apenas por sua ida para o prato, mas também por serem colecionadas — o que dá certo status. Este episódio do podcast Three Billion fala um pouco sobre esse mercado.
Fotografia jovem: conheça uma nova geração de fotógrafos chineses capturando, sob diferentes olhares, a juventude do país em tempos de transformação.
Se ouvir, não dirija: hora de pegar os fones de ouvido e conhecer o som viajante de 13月終了 (Undecimber Fin). Aproveite.