Como adiantamos em nossa edição da semana passada, a China celebrou, na última terça-feira (01), o aniversário de 70 anos de fundação da República Popular com a maior parada militar de sua história. Em seu discurso oficial durante a ocasião, Xi Jinping exaltou a fundação do país por Mao Zedong em 1949 como o fim de mais de um século de humilhação do povo chinês e enalteceu a força do Império do Meio. “Não há força que possa balançar as fundações desta grande nação, não há força que possa impedir o povo chinês e a China de avançar”, completou.

Dentre os vários detalhes importantes da ocasião, chamou a atenção o entusiasmo dos participantes — o evento era aberto somente a convidados, vale notar — em comemorar as conquistas chinesas das últimas sete décadas. Políticos, burocratas, professores, estudantes, cientistas: todos pareciam expressar, ao marchar pela Praça da Paz Celestial, orgulho pelo passado e otimismo pelo futuro do país. O importante dia, porém, não saiu completamente como planejado: em Hong Kong, a polícia local respondeu pela primeira vez a protestos violentos contra o Partido Comunista da China com o uso de munição letal. Ao menos um manifestante ficou gravemente ferido.


O que as elites chinesas têm a perder em Hong Kong? Com o agravamento da reação governamental aos acontecimentos na ilha, como a proibição do uso de máscaras durante protestos, é importante pensar no papel financeiro que Hong Kong desempenha para a elite continental. Em um texto publicado originalmente no The Washington Post, Andrea Binder apresenta a sua pesquisa sobre o tema. A ilha é, há tempos, quase um paraíso fiscal, já que possui uma legislação cinzenta para serviços financeiros e baixa taxação para grandes fortuna — o que não permite nem sabermos quanto dinheiro está realmente guardado por lá. Metade dos ativos de Hong Kong em crédito pertence a chineses continentais — cerca de 331 bilhões de dólares. A questão chave é que esse sistema de quase paraíso fiscal só funciona no sistema de “um país, dois sistemas”, justamente pela legislação diferenciada em relação à China continental.


Uma excelente análise da Yuen Yuen Ang, da Universidade de Michigan, sobre o sistema político chinês. Normalmente, a divisão entre especialistas se dá entre um sistema meritocrático ou um completamente corrupto. A pesquisadora faz uma avaliação das opiniões e apresenta como, na verdade, competência e corrupção coexistem de maneiras por vezes simbióticas.


Em comemoração aos seus 150 anos, a revista Nature publicou uma longa reportagem sobre o desenvolvimento das ciências na China e sua relação com a construção da nação. Começando pela série de humilhações de potências estrangeiras decorrentes das Guerras do Ópio, passando pelos tumultuados anos da Revolução Cultural em que todas as universidades foram fechadas e seguidos pelos largos incentivos das Quatro Modernizações de Deng Xiaoping, a reportagem mostra as idas e vindas do estado chinês em relação ao binômio ciência e tecnologia.

O presidente russo Vladimir Putin anunciou, na última quinta-feira (03), que seu país está ajudando a China a construir um sistema de alerta de ataques com mísseis. Os detalhes do projeto, que já foi confirmado também pela principal fabricantes de armas da Rússia, ainda não foram revelados. Por enquanto, somente Moscou e Washington contam com tal sistema. “É uma empreitada séria que irá aumentar drasticamente as capacidades de defesa da República Popular da China”, ressaltou Putin.


Os investimentos chineses na América Latina costumam estar associados a megaprojetos de infraestrutura que, como consequência, acabam gerando muitas críticas associadas aos seus impactos socioambientais. A implementação de painéis solares chineses em comunidades ribeirinhas na Amazônia brasileira podem, no entanto, ajudar a alterar essa narrativa. É o que está acontecendo na Reserva Extrativista Verde Para Sempre, localizada no Pará. Após a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte (que também é um investimento chinês), o governo federal elaborou um plano de compensação ambiental que envolveu a instalação de painéis solares na comunidade. Como a China é líder em produção da ferramenta, não foi uma surpresa que eles tenham sido Made in China.

Com os painéis, a Reserva Extrativista Verde Para Sempre reduziu drasticamente os custos associados à energia elétrica, além de diminuir o número de casos de malária e diarreia. Quer saber mais sobre o assunto? Então não deixe ler a excelente reportagem de Mônica Prestes para o Diálogo Chino. Vale fazer aquele cafezinho e aproveitar a leitura.

Falando em energia solar, a Scientific American analisou como a China se tornou a maior liderança em energia solar do mundo. Uma mistura de timing com a demanda alemã dos anos 1990 mais o forte apoio do governo chinês ajudam a explicar a posição chinesa no setor.

Gosta de geopolítica energética? Então não deixe de ler o artigo escrito por Daniel Vasconcelos, mestre em estudos chineses pela Universidade de Pequim, no site da Shūmiàn!


A situação permanece tensa no noroeste chinês e já respinga para a Ásia Central. A região de Xinjiang possui os chamados, oficialmente, “campos de reeducação” ou centros de treinamento que serviriam para reduzir o extremismo religioso entre os uigures (minoria étnica de religião muçulmana), ensinando-os a se adaptarem à cultura chinesa. Agora, refugiadas e imigrantes que chegaram ao Cazaquistão relatam violência de gênero, como estupros, abortos forçados e controle de reprodução das mulheres uigures. O governo chinês nega que os relatos sejam reais. O governo do Cazaquistão não ofereceu críticas aos campos, mas está sofrendo pressão de ativistas para posicionar-se com mais firmeza já que cerca de 1,5 milhão de cazaques vivem em Xinjiang. Não há muito espaço para os Estados Unidos pressionarem a RPC, visto que a retórica anti islã é prática comum no governo Trump.

Entre espiões do partido e jovens ricos e nacionalistas, o estereótipo que cerca estudantes chineses no exterior é, como é de praxe em estereótipos, ultra simplificado e alheio às complexas nuances da realidade. Em uma tentativa de enriquecer a discussão, Shan Windscript entrevistou estudantes chineses na Austrália, onde há um crescente sentimento anti-chinês tanto no parlamento quanto nas principais universidades do país. Nos relatos, os estudantes contam suas percepções sobre temas sensíveis na China atual, como os protestos de Hong Kong e a censura promovida pelo partido. Infelizmente, o que está acontecendo na Austrália também tem sido visto em outros países.


Quem é leitor da Shūmiàn já está a par da crise do porco que acomete a China nos últimos meses. Dentre uma série de medidas para remediar ou solucionar a situação, a mais recente é particularmente impressionante: fazendeiros no interior do Império do Meio estão criando porcos gigantes — de tamanho comparável a ursos polares — em uma tentativa inusitada de restabelecer a oferta da carne do animal no país. Os porcos, que podem chegar a pesar 500 quilogramas, podem ser vendidos por até 10 mil yuans chineses (cerca de 5.600 reais) em matadouros locais. Apesar de esforços como esse, a previsão é de que China, no melhor dos cenários, só supere sua crise suína na segunda metade do ano que vem.


Já contamos aqui sobre a briga do governo chinês com lutadores de MMA vencendo lutadores de artes marciais de Kung Fu. Encabeçando essa briga está o lutador de MMA-YouTuber Xu Xiaodong, que virou uma figura praticamente dissidente no país – por começar a desmascarar mestres de Tai Chi falsos ao chamar eles para lutar (e dar uma surra em vários) e também jogar uma que outra opinião política. Saiu um perfil dele excelente para ficar por dentro.

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

Amor acadêmico: um novo artigo acadêmico, publicado no Critical Research on Religion, examina o uso da palavra  “ai” 愛 (amor) no vocabulário e o seu papel na linguagem afetiva da modernidade da China, de 1910 até os dias de hoje, inclusive em discursos políticos.

Música instrumental: onírica. É como descrevemos a banda Cicada de Taiwan. Os arranjos musicais são um verdadeiro convite para contemplação.

Pintura: Yan Wei é uma artista super premiada de Pequim que retrata em suas pinturas diferentes facetas do feminino: força, delicadeza, violência e introspecção. Confira aqui uma entrevista que ela deu para o Neocha e suas obras disponíveis online.

Podcast: a dica é ouvir a discussão sobre as linhas tênues entre investimentos e auxílio para o desenvolvimento dos chineses para o continente africano. Foi no episódio com a Pippa Morgan (professora da NYU em Xangai) no The China in Africa Podcast.

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