Cooperação e novas narrativas nacionais no IV BRICS Media Forum
O evento, que contou com participação da Shūmiàn, discutiu da coordenação entre agências de notícias dos países dos BRICS
Representantes de agências de notícias dos cinco países trouxeram suas propostas para o avanço da cooperação de imprensa do grupo
Por Guilherme Mattos
Nos dias 30 e 31 de outubro de 2019, a Shūmiàn participou do BRICS Media Forum, o encontro de alto nível das agências de notícias dos cinco países do grupo que tem como proposta permitir maiores interações entre empresas e coordenar ações entre eles com objetivos comuns. Sob a organização da delegação brasileira, representada pelo Grupo CMA, em parceria com a delegação chinesa, na figura da Xinhua, o evento juntou representantes de agências como Sputnik, The Hindu, Diário do Povo, Independent Media, entre outros. Além desses, o evento contou com a presença de cônsules, que ressaltaram a importância da cooperação entre os cinco Estados e da coordenação entre as suas agências de mídia. O evento teve três principais frentes: uma exposição de fotografias, apresentações culturais e o fórum em si.
A exposição de fotos contou com trabalhos ótimos e de muita sensibilidade de fotógrafos de agências dos cinco países. Ocorrida no Centro Cultural São Paulo, a abertura da exposição teve discursos dos organizadores, representados pelo senhor He Ping, ministro e editor-chefe da Agência de Notícias Xinhua, e pelo senhor José Juan Sanchez, presidente do Grupo CMA, nos quais foram ressaltados o ótimo trabalho dos fotógrafos e a percepção do desenvolvimento conjunto dos países dos BRICS na atualidade. As fotografias construíam uma sensível narrativa dos BRICS com imagens que retomavam monumentos históricos e contavam uma história de desenvolvimento dos países do grupo. Mais interessante ainda, é notar que as fotografias revelaram as diversas semelhanças entre os membros ao invés das diferenças sempre ressaltadas.
“Ainda que estejamos muito longe um do outro, se temos um objetivo comum, estamos próximos.”
A noite do dia 30 de outubro contou com um evento cultural que se iniciou com tom sensível. Os discursos dos organizadores reforçaram a unidade dos BRICS em prol de um objetivo comum. O sr. He Ping trouxe um ditado chinês que diz “ainda que estejamos muito longe um do outro, se temos um objetivo comum, estamos próximos”. Dando seguimento, o evento contou com uma apresentação da Orquestra Filarmônica de Paraisópolis, que tocou com extrema beleza e sensibilidade pedaços de melodias tradicionais dos cinco países dos BRICS. Além disso, o futebol e o samba brasileiros conhecidos internacionalmente também marcaram presença na noite cultural.
O fórum de imprensa reuniu todos os representantes para discutirem e apresentarem propostas para uma cooperação ampliada e com objetivo comum entre as agências de notícias. Nesta ocasião, os representantes ressaltaram a necessidade de construir uma narrativa dos BRICS sobre o que acontece em seus países, já que, em diversos momentos, a mídia ocidental expõe somente os erros e as deficiências da cooperação dos membros do grupo. Durante a conferência como um todo, os palestrantes ressaltaram a necessidade de uma orientação para uma “comunidade de destino comum” nos BRICS. Por um viés mais prático, os representantes da mídia ressaltaram a necessidade dos membros desenvolverem cooperações para a era digital que auxiliem as agências a se tornarem atualizadas e lidarem melhor com a próxima geração. Algumas propostas são bastante interessantes, como a da Xinhua de estreitar cooperações para que as outras agências também possam fazer uso do âncora digital que a agência chinesa já possui. Outras propostas interessantes são construções de multiplataformas de notícias onde as agências possam ter acesso a informação bruta para serem reportadas em seguida. Ao mesmo tempo, além dos programas de intercâmbio com treinamento entre agências, que foram bastante divulgados, a possibilidade de os meios de mídia terem espaço em outros meios parceiros para contar o que está acontecendo nos seus países à sua maneira também teve bastante espaço e grande interesse entre os representantes presentes.
O tom de união da conferência em construir uma narrativa BRICS contra uma força contrária, crítica e inverídica da visão da mídia ocidental sobre os países membros culminou em um plano de ação com frentes principais para os próximos passos do grupo. Entre as propostas trazidas pelo plano de ação, algumas saltam ao olhar como mais interessantes e promissoras. A mais interessante, com certeza, é a criação de uma ferramenta dos BRICS de fact-checking para notícias, uma vez que esse será um assunto constante na mídia nos próximos anos, o que vem como consequência da participação mais próxima da mídia na influência política. Adicionalmente, também foram expostas propostas que reafirmam o esforço das agências em realizar “reportagens amplas, abrangentes e justas” conjuntas. Por fim, reforçou-se dois aspectos: a necessidade de mais intercâmbios entre as agências que tenham foco em formação de profissionais e de talentos; e a necessidade de transformar o fórum em um mecanismo que influencie mais diretamente a Cúpula dos BRICS no sentido da criação de uma narrativa própria.
Em suma, os representantes das mídias identificaram as semelhanças entre si e apontam para um futuro no qual os BRICS têm uma narrativa própria e coordenada, na qual podem contar suas próprias histórias com legitimidade e uma “voz mais alta” na mídia internacional. Porém, assim como em diversos outros setores do bloco dos BRICS, fica ainda a dúvida de quanto dessas propostas entrarão em prática e serão desenvolvidas de fato em um longo prazo. Em contrapartida, a própria confluência de ideias e objetivos comuns exposta durante a conferência são um sinal de que as agências têm grande espaço para cooperação.