Mais um famoso intelectual chinês veio à tona criticando abertamente a forma como o Partido Comunista Chinês tem lidado com a epidemia do COVID-19. Agora, foi a vez de He Weifang, um dos signatários da Carta 08 de Liu Xiaobo, professor de Direito chinês afiliado à Universidade de Pequim e conhecido por ser um ativista em reformar o sistema judicial do país. Como aponta He em um artigo escrito à mão para driblar a censura online e espalhado via WeChat, a falta de liberdade de expressão sobre a epidemia, coadunada com pobre governança (tanto local em Hubei, quanto central) permitiram que o vírus se espalhasse mais rapidamente no país.


O feriado acabou, mas por causa do vírus, muitos migrantes não voltaram para as fábricas, que estão operando com 40% das suas capacidades. Cerca de 200 milhões de trabalhadores fabris do país ainda estão nas suas cidades natais, seja por quarentena, falta de acesso a transporte para suas cidades de trabalho ou até medo. Algumas empresas já estão trabalhando junto com o governo local para trazer trabalhadores de outras partes do país, como na província de Zhejiang. Subsídios estão sendo oferecidos para trabalhadores retornarem, fundos estão sendo criados, bem como reembolsos para passagens. Há claro esforço do governo central para retorno à normalidade — cujos impactos estão sendo sentidos ao redor do mundo.


Apesar dos esforços de normalização, porém, a situação de muitas empresas chinesas permanece crítica. Em meio à ociosidade econômica imposta pela epidemia do COVID-19, negócios em todo o país lutam para manter as contas em dia, mesmo com as portas fechadas. Pequenos e médios empreendimentos são particularmente vulneráveis ao cenário de crise: com menos recursos para neutralizar perdas, muitos já sinalizam que não resistirão a uma crise estendida. Em estatística publicada pela Associação Chinesa de Pequenas e Médias Empresas, cerca de ⅓ das empresas consultadas declarou que ficará sem dinheiro dentro de um mês, com outro ⅓ afirmando que suportaria a paralisação por no máximo dois meses.


A China tem apetite por madeira. O consumo do material cresceu 173% nos últimos dez anos, com metade da demanda sendo importada — inclusive do Brasil. Mas a China é também o país do bambu: um material resistente e uma cadeia de valor mais sustentável, pois nasce em grandes quantidades e sem muito custo ao meio ambiente. Poderiam os móveis de bambu ser uma alternativa? Desde 2008, o governo central tem incentivado essa indústria e um novo plano econômico lançado em 2020 espera ampliar o setor para receber 10 milhões de trabalhadores. Mas primeiro, é preciso vencer o estigma de ser um material barato de má qualidade, associado às casas pobres na área rural.

Rússia surpreendeu nesta semana ao proibir a entrada de turistas chineses no país como forma de prevenir infecções por COVID-19. A medida não inclui turistas de outras nacionalidades que tenham estado na China, o que levou a críticas pelo teor racista da definição. O Global Times, um braço da mídia estatal chinesa, criticou a decisão, dizendo, porém, ser “compreensível” que o país de Putin tenha optado por isso. A fim de botar panos quentes em possíveis controvérsias, a Rússia abriu uma exceção e permitiu a entrada de chineses com visto de negócios no país.


Conforme aumentam os números de infecções e mortes pelo COVID-19 ao redor do mundo, ampliam-se os temores de que a crise se torne uma pandemia global. No Irã, já são 8 as vítimas fatais do vírus — o maior número fora da China continental. A situação da Coreia do Sul, por sua vez, piora rápida e drasticamente: os casos de contaminação passaram, em questão de dias, de menos de 200 para mais de 400. O cenário na Itália não é menos dramático: já são mais de 100 infectados e 2 mortos pelo COVID-19. Em resposta, o governo italiano estabeleceu a interdição de várias cidades no norte do país, com punições que vão de multas à prisão a quem desobedecer as ordens de quarenta. Nem uma das principais tradições locais saiu ilesa: o carnaval de Veneza foi cancelado como parte do esforço para conter a expansão do vírus na nação europeia.


O Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, fez uma breve tour no continente africano na semana passada, e surgiram as tradicionais discussões de influência chinesa versus influência estadunidense por lá. Muitos especialistas interpretaram a visita como uma maneira de os Estados Unidos reengajarem com o continente, em meio à presença chinesa crescente e consolidada. Lin Songtian, embaixador chinês na África do Sul, criticou a mentalidade de Guerra Fria de Pompeo, apontando que demorou 22 meses para a administração Trump mandar Pompeo para a África — Xi Jinping foi ao Congo Brazzaville e à África do Sul na sua viagem inaugural e repetiu a visita ao continente após sua reeleição em 2018.

Ao que parece, nem mesmo o isolamento do cárcere é suficiente para deter o COVID-19: na última sexta-feira, já passavam de 500 os números de detentos contaminados pelo vírus na China. Ao que parece, guardas e demais funcionários infectados teriam sido responsáveis pela transmissão do COVID-19 às novas vítimas, espalhadas pelas províncias de Hubei — o epicentro da epidemia —, Shandong e Zhejiang. Wu Lei, administrador de uma das prisões afetadas, desculpou-se pela “implementação inadequada de medidas de prevenção e controle” e informou que os detentos contaminados já haviam sido transferidos para hotéis de quarentena.


Em retaliação a um editorial do Wall Street Journal intitulado China Is The Real Sick Man of Asia, o governo central chinês expulsou três jornalistas do WSJ, baseados em Pequim. O Ministério das Relações Exteriores da China considerou o editorial “imoral e racista” e a mídia estatal Global Times traçou um paralelo entre o termo histórico Sick Man of Asia com a N-word nos Estados Unidos.

Em um timing curioso, o Departamento de Estado dos Estados Unidos listou cinco agências chinesas de comunicação (Xinhua, CGTN, China Radio, China Daily e People’s Daily) como entidades governamentais, submetendo os jornalistas às mesmas regras aplicadas a diplomatas baseados nos Estados Unidos. A decisão de Washington reforça que as mídias estatais possam estar sendo usadas como células de inteligência.


Conheça as 113 cidades chinesas com mais de 1 milhão de habitantes. Com gráficos e infográficos, essa matéria mostra algumas questões do processo de urbanização da China e compara as cidades com outras famosas da Europa e América do Norte — que juntas têm 114 áreas urbanas com mais de 1 milhão de habitantes. Um exemplo famoso é Guangzhou, que recebeu 18 milhões de habitantes desde 1980 até os dias de hoje. A Academia Nacional de Estratégia Econômica avalia que a urbanização do país atinja 70% até 2035 (hoje está em 59,2%), cerca de 1 bilhão de pessoas, com 25% dessa população vivendo em grandes cidades ou metrópoles.

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

Cidade fantasma: uma equipe de cineastas filmou Wuhan em quarentena. Eles ficaram presos por lá em meio ao caos do vírus e acabaram aproveitando para registrar a cidade vazia. Já lançaram um curta metragem, disponível na matéria, e devido ao sucesso decidiram fazer um longa metragem.

Ícone: a história de Xia Peisu, a precursora da computação na China. Ela criou o primeiro computador chinês, o Model 107, em 1960, desenvolveu instituições e cursos voltados para computação e preparou muitos dos seus materiais.

O campo é quase onírico: Li Ziqi (李子柒), uma das youtubers mais famosas da China e conhecida pelos seus vídeos de faça-você-mesmo no campo, mostra o quanto é possível se fazer plantando algodão.

Máfia: um artigo acadêmico publicado no International Journal of Legal Discourse sobre a atuação da máfia na China e a estratégia do governo desde 2018 em como eliminar a sua presença.

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