Pequim adiou oficialmente o encontro anual do 13º Congresso Nacional do Povo  (NPC, em inglês) em virtude da epidemia do COVID-19. O adiamento é visto como uma medida apropriada por se tratar de uma assembleia que reúne, por duas semanas, mais de 3000 pessoas, e ainda não há novas datas para o encontro anual mais importante do país.    É um verdadeiro banho de água fria para o otimismo propagado pela mídia estatal recentemente. Como pontua Bill Bishop, editor do Sinocism,  “nós saberemos que a situação está sob controle quando três coisas acontecerem: Xi visitar Wuhan, as aulas voltarem e houver a divulgação das datas do encontro do NPC.”


Uma nova matéria do The New York Times sobre o app de quarentena sendo usado pelo governo chinês. O aplicativo de controle, que registra localização e envia para as autoridades, emite três categorias para o usuário (verde, amarelo e vermelho) — quem estiver verde, está liberado para circular. Parece ser um uso sem precedentes de big data para vigilância e está gerando questionamentos no país sobre a sua efetividade. Vale ler e ficar de olho.


Na semana passada, falamos sobre como as empresas e fábricas chinesas estão buscando recuperar suas capacidades. Contudo, a recuperação econômica não depende só delas — ou da ansiedade do governo. Uma parte importante é a demandadepende de os consumidores estarem dispostos a abrirem as suas carteiras. A psicologia da incerteza tem um papel e esse é o tema de discussão do texto de Houze Song para a MacroPolo. Aqui também tem bons gráficos sobre os efeitos econômicos do vírus.

A preocupação com a retomada econômica não é gratuita: dados de fevereiro evidenciam os estragos provocados pela epidemia do COVID-19 na economia chinesa. De acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas, a atividade manufatureira do país caiu para seu menor nível histórico no mês passado. O índice de gestores de compras (IGC) oficial chinês despencou para 37,5 — leituras abaixo de 50 indicam contração no setor. Inicialmente, analistas esperavam uma queda no IGC chinês para 45. O resultado pior do que o previsto, é claro, fortalece preocupações com a economia do país e reforça a necessidade de uma solução rápida à crise.


A crise bateu para o conglomerado chinês HNA Group: que já esteve listado no Fortune Global 500 em 2017 é dono da Hainan Airlines e Hong Kong Airlines; possui ações da Azul, TAP; e comanda 25% da rede Hilton, dentre outros. Desde 2018 a empresa já vem enfrentando problemas de grana e está liquidando alguns dos seus ativos. Devido à estagnação causada pelo vírus e ao efeito de pouca gente estar viajando (75% a menos do que no ano anterior), um comitê estatal foi criado para lidar com a sua liquidez — a empresa é privada, ainda que boa parte das ações pertençam ao governo chinês. Especialistas afirmam que pode ser um indicativo da nacionalização do grupo.

Conforme os casos de infecção se espalham pelo mundo, aumentam as preocupações com a cada vez mais provável formação de uma pandemia do COVID-19. No fim da última semana, os Estados Unidos confirmaram a primeira morte pelo vírus. Tailândia e Austrália também anunciaram suas primeiras fatalidades. Na Itália e na Coreia do Sul, os números de infectados segue aumentando abruptamente. Já na América Latina, tanto Brasil como México confirmaram seus primeiros casos. Na China, a aceleração dos números de contaminações diminuiu durante a última semana, mas voltou a aumentar na última sexta-feira (29), com 573 novas ocorrências.


O caso do Irã é particularmente preocupante. Oficialmente, o país apresentava, até a última sexta-feira, 34 vítimas fatais de novo coronavírus. Fontes não-oficiais, porém, apontam que os mortos passam de 200 — a maior parte em Teerã, capital do país, e na cidade de Qom. Dentre as vítimas, uma jogadora de 22 anos da seleção iraniana de futsal faleceu na última quarta-feira. Diversos oficiais de alto escalão do país também testaram positivo para o vírus. O Irã, que já apresenta a maior taxa de mortalidade por contaminação do COVID-19 no mundo, rapidamente se converteu em um novo epicentro da epidemia. Em resposta, Pequim enviou dois carregamentos de testes laboratoriais e equipamentos médicos, além de uma equipe de controle de doenças, como ajuda humanitária à nação.


A queda de braço entre Pequim e Estocolmo sobre Gui Minhaium dos livreiros de Hong Kong que “foi desaparecido” em 2018, parece ter chegado ao fim. A Procuradoria Popular da Cidade de Ningbo condenou Gui a dez anos de prisão e cinco anos sem direitos políticos por “fornecer inteligência a outros países”. Gui, nascido na China, emigrou para a Suécia em 1996 — de onde era cidadão até 2018 — até ter sido relatado por Pequim que ele reivindicou a cidadania chinesa. Gui era o dono da Mighty Current, uma livraria de Hong Kong especializada em livros proibidos na China Continental. Segundo fontes próximas, Gui estava prestes a publicar um livro sobre a vida amorosa de Xi Jinping.


Um novo relatório do ASPI (Australian Strategic and Policy Institute) sobre a situação nos campos em Xinjiang aponta 83 empresas estrangeiras, incluindo Gap, Adidas, Nike, Samsung, Sony, Apple e BMW, além de empresas chinesas como Huawei e Xiaomi, que teriam se beneficiado do trabalho forçado de mais de 80 mil uigures entre 2017 e 2019, espalhados em fábricas pelo país. Os dados teriam vindo de documentos vazados pelo governo chinês. Uma possível visita do Conselho de Direitos Humanos da ONU está sendo organizada para ocorrer ainda este ano no país, com foco na região de Xinjiang.

Mais de 60% das companhias chinesas permanecem fechadas em decorrência da crise do COVID-19. A maioria delas está operando via home office. Você consegue imaginar a maioria do país trabalhando assim? O Baidu Pan service (o Google Drive chinês) teve um aumento de mais de 50% em usuários ativos desde o início de fevereiro. Plataformas de videoconferência estão fazendo a festa: a Zoom, uma das gigantes que não é bloqueada na China, teve suas ações valorizadas em 40% e já ganhou mais de 2 milhões de usuários até fevereiro — mais do que o acumulado durante todo o ano de 2019.


O uso de livestream para vender produtos e serviços também cresceu loucamente no país, bem como de apps de vídeos curtos (como o Douyin/TikTok e Kuaishou), incluindo restaurantes postando receitas e bares fazendo festas online. Uma empresa que começou a pensar fora da caixa foi a Pinduoduo, de e-commerce. Como já falamos anteriormente, muitos produtores se encontram com dificuldade de manter seus negócios em meio às quarentenas. De modo a ajudar os pequenos e médios agricultores do interior da China, que são boa parte dos usuários da Pinduoduo, a empresa lançou uma campanha (Help the Farmers) para áreas com maior índice de pobreza, oferecendo produtos a usuários próximos e subsídio logístico para a entrega.


Sun Yang, principal estrela da natação chinesa e medalhista de ouro na última edição das Olimpíadas, foi proibido de competir por 8 anos por violar regras de anti-doping. A decisão, tomada pelo Tribunal Internacional de Arbitragem do Esporte, impede que o atleta participe da próxima edição dos Jogos Olímpicos, a ser realizada ainda neste ano em Tóquio, no Japão. Sun anunciou que pretende recorrer à decisão e se declarou inocente. “Isso é injusto, acredito firmemente na minha inocência, definitivamente vou apelar para que mais pessoas saibam da verdade”, afirmou à agência Xinhua.

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

Música: a recém-chegada 告五人 Accusivefive já fez tour por três continentes e é mais uma das joias raras de Taiwan que compartilhamos na Shūmiàn. Prepare os fones de ouvido!

Fandom: não subestime as fãs chinesas. Veja a história fascinante de como fã-clubes de celebridades estão criando uma das redes confiáveis de suprimentos e de ação coletiva durante a crise do COVID-19.

Comida: não perca a série Eat China, de 14 episódios, no YouTube. São vídeos excelentes sobre a(s) culinária(s) chinesa(s). Mas não veja de barriga vazia, porque vai dar fome!

Um pouco mais acadêmico: o pesquisador Liu Xing, da Beijing Normal University, discute — em vídeo — a visita à China e a percepção do filósofo John Dewey sobre a criação de uma nova nação durante o tumultuoso período de 1919-20 e como isso se encaixa na teoria de Benedict Anderson sobre comunidades imaginárias.

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