A cidade de Wuhan, epicentro do COVID-19 na China e que ficou fechada por 76 dias, foi finalmente reaberta nessa semana. Um momento histórico para a cidade e para o país que viu em primeira mão o desespero e o caos da pandemia. Dentre erros e acertos, Wuhan criou uma série de protocolos médicos e de isolamento social que serviram de laboratório para combater o novo coronavírus no mundo.

Se a reabertura de Wuhan simboliza a esperança de que a China tenha finalmente superado o novo coronavírus, o medo da formação de uma segunda onda da epidemia segue vivo. Em reunião do Partido Comunista Chinês na semana passada, Xi Jinping clamou por “esforços incessantes na proteção contra casos importados do exterior e na prevenção de um ressurgimento do surto em casa”. As fronteiras chinesas seguem fechadas à maior parte dos estrangeiros. Impedir que o vírus entre, porém, não é uma tarefa fácil: no último fim de semana, por exemplo, um voo vindo da Rússia pousou em Xangai com mais de 50 infectados — a maioria deles, cidadãos chineses retornando ao seu próprio país.


Ao comentar sobre os episódios de racismo dos quais tem sido vítima enquanto lidera a resposta da Organização Mundial da Saúde (OMS) à pandemia da COVID-19, Tedros Adhanom Ghebreyesus citou ataques que teriam vindo especificamente de Taiwan. Em resposta, o governo da ilha afirmou que Taiwan — que, por objeção da China continental, não é membro da OMS — nunca instigaria hostilidades contra o diretor da organização, ainda mais de cunho racista. Já Pequim não somente endossou as declarações de Tedros, como também acusou os taiwaneses de se utilizarem da crise em torno do novo coronavírus para dar procedimento à campanha por sua independência.


Um novo relatório publicado por um centro de pesquisa da Universidade Tsinghua e pelo think tank Greenovation Hub afirma que os projetos de energia sustentável chineses não são tão populares fora do país quanto dentro. O relatório aponta que as nações da Belt and Road Initiative (BRI) apresentam obstáculos e dificuldade de financiamento para os projetos de empresas chinesas, especialmente por pressão dos setores locais de petróleo e gás. A recomendação feita pelos especialistas é que instituições financeiras estatais chinesas precisam auxiliar no financiamento desses projetos. No cenário pós pandemia, o futuro da BRI pode ser incerto, caso não se adapte à nova realidade.


A China superou os Estados Unidos em registros de patentes internacionais, com a Huawei em primeiro lugar na lista de empresas. A China registrou 58.990 patentes (crescimento de 11% em relação ao ano anterior). Os EUA ficaram em segundo, com 57.840 patentes. É a primeira vez que o país não está no topo, desde 1978. A discussão de patentes internacionais é um tema quente na competição pela liderança tecnológica global.

A Xinhua publicou uma linha do tempo oficial do desenvolvimento do novo coronavírus no país e da cooperação da China com outras nações, com o objetivo de defender uma visão de uma “comunidade de destino comum” — conceito já usado por Xi desde 2012 para enfatizar o compromisso chinês com o multilateralismo e a governança global. E a pergunta segue: este é o momento de uma nova liderança chinesa maior no cenário internacional? Bom, a crise coincidiu com a chegada da China à presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU — com algumas críticas sobre o processo.

Ainda no contexto de luta internacional contra o avanço da pandemia, os chineses também têm cumprido um importante papel de fornecedores de equipamentos médicos e de proteção individual ao restante do mundo. Nem todas as histórias, porém, são de sucesso. Após o infame episódio das máscaras feitas de tecido de cueca enviadas ao Paquistão, agora foi a vez de o Reino Unido denunciar o baixo padrão de qualidade de testes de anticorpos do novo coronavírus adquiridos da China. Espanha e Eslováquia se depararam com problemas semelhantes. Preocupada com sua reputação em um mercado que lhe rendeu mais de 1 bilhão de dólares em venda somente no mês passado, a China anunciou controles de qualidade mais rígidos a produtos médicos destinados à exportação.


A mais recente ajuda humanitária chinesa destinada a Belgrado é um bom roteiro sobre como proceder quando o seu aliado dá as costas — pelo menos na visão de Aleksandar Vucic, presidente da Sérvia. Após a União Europeia limitar a exportação de equipamentos médicos para fora do Bloco, Vucic viu na China um parceiro disposto a estender a mão. Não é por menos: é uma relação de benefícios mútuos. A Sérvia recebe a ajuda humanitária e revigora a parceria tecnológica entre os dois países, e a China se firma cada vez mais como uma fonte de investimentos e influência nos Bálcãs. Para especialistas na região, no entanto, esse é um movimento arriscado.


Tem sido cada vez mais comum ataques xenófobos e racistas contra estrangeiros na China, sobretudo contra a comunidade africana em Guangzhou, no sul do país. Há uma série de relatos de africanos sendo despejados de suas residências sem motivo e indo morar na rua — além de alguns estarem sendo forçados a fazer quarentenas extras e passando por testes surpresa de COVID-19. O mesmo tratamento não foi descrito por outras comunidades estrangeiras em Guangzhou. Ao reagir aos incidentes na cidade, Zhao Lijian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, diz que o país trata todos os estrangeiros da mesma forma sem direcionar quaisquer práticas a grupos específicos, e que há tolerância zero para palavras e ações discriminatórias.

Os Ministérios das Relações Exteriores de Nigéria, Quênia, Gana e outros países se manifestaram, bem como a União Africana demonstrou preocupação com a situação. Uma carta endereçada ao Ministério de Relações Exteriores chinês, assinada por diversos embaixadores africanos em Pequim, foi enviada na sexta-feira.

Ainda sobre xenofobia e racismo: apesar de não ter havido uma ordem legal dos governos local e central contra estrangeiros, a narrativa oficial tem corroborado práticas do tipo no país. A própria forma como a “segunda onda de infecções” é relatada deixa a entender que os “casos importados” teriam sido trazidos por estrangeiros — quando na verdade 90% deles decorrem de infecções de cidadãos chineses. Uma charge contra estrangeiros viralizou na internet chinesa nessa semana e um editorial do jornal estatal China Daily ilustra bem o atual estado de tensão.


O governo central vai começar a facilitar a aquisição do Hukou urbano para trabalhadores migrantes. A medida é importante por diversos motivos: além de incluir mais pessoas à rede de serviços básicos em grandes cidades, é um passo para acelerar a urbanização e diminuir o desemprego em cidades de pequeno e médio porte, principalmente em tempos de COVID-19. O Hukou foi criado em 1950 e é o principal sistema de registro doméstico do país. Em linhas gerais, o Hukou determina o acesso a serviços de saúde, educação e mobilidade de trabalho de um cidadão. O sistema é visto por muitos especialistas em desenvolvimento chinês como um fator determinante para a entrada ou a saída da pobreza. Curiosamente, Xi Jinping escreveu sobre reformas do sistema Hukou em sua tese de doutorado publicada em 2001.


O anúncio do adiamento do Gaokao (que mencionamos na semana passada) amplia a pressão sobre os jovens chineses que devem participar da prova neste ano. Fora das salas de aula devido ao fechamento temporário de escolas em meio à pandemia do novo coronavírus, milhões estudam ininterruptamente em casa em preparação para o teste que representa um divisor de águas na vida de muitos chineses. Coincidentemente, boa parte dos candidatos da edição de 2020 do Gaokao nasceu no mesmo ano em que a China e o mundo enfrentavam a pandemia da SARS, que atingiu milhares e matou centenas de pessoas em 2003.


Não é novidade que estamos dependendo muito de entretenimento em vídeo durante esta pandemia, seja para conversar com a família, acompanhar notícias ou tentar se entreter. E também há espaço para falar sobre saúde mental e cuidados com o vírus. Direto de Wuhan, Zhu Hong se tornou uma sensação no país, pelo Douyin/Tik Tok, ao contar sobre a sua experiência e de sua família com o vírus. Aliás, o aplicativo está entre os mais baixados no momento e se comprometeu com fundos de 250 milhões de dólares para ajudar trabalhadores na linha de frente e tornou-se também um canal de comunicação da OMS com o mundo. Junto com Twitter e Facebook, empresas como Weibo, Bilibili e Tencent (dona do WeChat) e ByteDance (dona do Tik Tok) estão colocando cada vez mais esforços em contrapor as notícias falsas por aí.

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

Música: a dupla Wu Fei e Abigail Washburn se reuniu e acabou de lançar um álbum misturando música da região da Appalachia, nos EUA, com música tradicional chinesa. Wu Fei nasceu em Pequim e hoje reside em Nashville, nos Estados Unidos, tocando o guzheng, instrumento clássico de 16 (ou até 21) cordas. Elas cantam em inglês e mandarim.

Crise: não, o caractere de crise não tem a ver com o de oportunidade, como muito empreendedor vem dizendo por aí.

Tour online: a empresa de turismo Bespoke, especializada em viagem na China, organizou uma série de palestras online com figuras interessantes e tópicos curiosos. A primeira será dia 14, e a série vai cobrir histórias de crimes reais, chá, artes marciais, e até ensinar a fazer noodles. As palestras são pagas (individuais ou o combo).

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