Xi Jinping lançou a campanha “Clean Your Plate” nesta terça-feira (11) para evitar o desperdício de comida no país. Desta vez, o recado é para todo mundo: pretende sair para jantar com a família? Então lembre-se da regra “n-1”, ou seja, peça um número de pratos de acordo com o número de pessoas presentes menos um. Plataformas de vídeos curtos como a Douyin e Kuaishou já estão notificando usuários que buscam termos relacionados a comer muito (como a prática mukbang) com o aviso para evitar o desperdício de comida e se alimentar de maneira razoável. Para quem já comeu na China, sabe o quanto a campanha é ambiciosa: chineses costumam ser generosos quando vão a restaurantes e o tamanho das porções não deixa ninguém de barriga vazia.

As palavras de Xi vêm em um momento crucial: além da pandemia do novo coronavírus, que afetou cadeias de abastecimento de alimentos, a China tem sofrido com fortes chuvas, que têm impactado seriamente áreas tradicionais de produção de arroz. Também é uma pauta importante para a FAO — a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, e tem relação com um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS): “ODS 2: fome zero e agricultura sustentável”. Algumas campanhas com a organização já haviam sido lançadas anteriormente. Uma pesquisa de 2012 indica que 8 mil toneladas de proteína são desperdiçadas anualmente no setor de restaurantes. Isso seria o equivalente ao consumo de proteínas de 260 milhões de pessoas por um ano.


As expectativas de que o consumo interno na China se expandisse, conforme comentamos na semana passada, foram frustradas: dados do mês de julho apontam queda nas vendas do varejo no país, assim como redução no crescimento anual da produção industrial chinesa. Os resultados voltam a trazer dúvidas sobre a solidez do processo de recuperação econômica no gigante asiático, que ganhou fôlego com a retomada de atividades produtivas e lançamento de grandes pacotes de estímulo nos últimos meses. Se, por um lado, é verdade que as chuvas torrenciais que atingem parte do país podem estar relacionadas com o desempenho aquém do esperado, também vale levar em conta que o pessimismo e a cautela derivados da pandemia da COVID-19 ainda acompanham os consumidores e investidores do país.


Você conhece as maiores empresas de e-commerce na China? Esse breve guia explica quais são as principais empresas e faz um apanhado do setor: 80% são controlados por três gigantes — JD.com, Alibaba e, o mais recente, mas já sucesso, Pinduoduo. Como já comentamos algumas vezes, o tamanho do e-commerce chinês é bem impressionante, compondo 56% das vendas online realizadas em todo o mundo.

Falando em Pinduoduo, o gigante é muitas vezes chamado de “e-commerce social”, ou seja, fornece a experiência de fazer compras online através de redes sociais. Empresas como o Facebook, o Instagram e o Pinterest também fazem isso — e na China, além do Pinduoduo, o WeChat também se aproveita da ascensão do uso de celulares para compras online. Matthew Brennan e Elliott Zaagman, em uma análise detalhada do tema, discutem a questão de e-commerce interativo, que combina recomendações, comunidade e entretenimento para o usuário.


Uma matéria de capa da revista The Economist analisa a economia chinesa sob o governo Xi. Segundo o texto, a presença do Partido Comunista da China no dia a dia das empresas — estatais ou privadas, estaria maior. O objetivo seria agradar a Xi, que estaria criando um capitalismo de estado mais forte e sólido. As reformas de Xi Jinping trabalhariam com duas frentes: delinear melhor o “mercado” (regulação no sistema financeiro, legislação clara para empresas) e tornar empresas estatais mais eficientes, inclusive atuando em parceria com o setor privado. A conclusão é a de que as diferenças entre “Estado” e “mercado” no país estariam cada vez mais difusas.

A PEN America, uma ONG estadunidense que atua em causas de liberdade de expressão, acusa a China de censurar produções de Hollywood. Conforme a ONG, a Motion Picture Association (que representa os cinco maiores estúdios hollywoodianos) e estúdios menores estariam obedecendo aos ditames de Pequim. Um relatório de mais de 100 páginas foi publicado com o título de “Made in Hollywood, Censored by Beijing” e aponta que há hipocrisia em criticar vocalmente o governo estadunidense, mas aceitar censura chinesa. De modo a não abandonar o enorme mercado chinês, o relatório sugere que os estúdios reconheçam publicamente as edições solicitadas por governos estrangeiros.


Dando continuidade aos desenvolvimentos da semana passada, Donald Trump emitiu uma ordem executiva na sexta-feira (14) direcionando a ByteDancestartup chinesa por trás do TikTok, a se desfazer das operações do aplicativo nos Estados Unidos em até 90 dias. Na decisão, o presidente estadunidense voltou a dizer que haveria evidências confiáveis — que, vale notar, não foram apresentadas por Trump — de que a empresa possa tomar medidas que ameacem a segurança nacional do país norte-americano. E não é só a ByteDance que está na mira de Washington: em entrevista coletiva no último sábado (15), Trump afirmou que sua administração também considera passar a exercer pressão sobre outras empresas chinesas de tecnologia (como a gigante Alibaba) após proceder com o banimento efetivo do controle chinês sobre o TikTok nos EUA.

Aliás, um recém publicado paper da alemã Hinrich Foundation sobre a corrida tecnológica entre China e EUA destaca que cada vez mais se torna comum uma forte intervenção e participação estatal na disputa — de ambos os lados. Nesse contexto,  governos seriam cada vez mais impulsionados por um “tecnonacionalismo” e por uma competição pela vantagem na área da inovação cobrindo questões como papel das universidades, das parcerias público-privadas, entre outros.

E por falar em China e Estados Unidos, os dois países tinham um encontro marcado no último sábado (15) para revisar o avanço do cumprimento da primeira fase do acordo comercial assinado em janeiro entre as superpotências. Dadas as crescentes tensões entre Pequim e Washington, a expectativa era de que a ocasião servisse em grande medida para que as partes verificassem o estado de ânimo das negociações. A oportunidade, porém, ficou para depois: a reunião foi adiada e uma nova data para sua realização ainda não foi divulgada oficialmente. Fontes próximas aos procedimentos, porém, afirmam que não há razão para alarde — o adiamento não seria reflexo de problemas substanciais nas relações sino-estadunidenses, mas sim de conflitos de agenda entre seus negociadores e representantes oficiais.


O Brasil entrou nas manchetes dos jornais chineses — mas não foi só pela celebração de 46 anos de vínculos diplomáticos com a República Popular da China. Amostras de asas de frango congeladas oriundas do frigorífico Aurora Alimentos, localizado em Santa Catarina, testaram positivo para o novo coronavírus. A notícia causou espanto tanto no Brasil quanto na China: da parte brasileira, há o receio de que o fato provoque queda das exportações do produto para a China. Do lado chinês, o caso preocupa por não se saber, ao certo, se a contaminação ocorreu no processo de exportação ou de outra maneira. A Organização Mundial da Saúde buscou tranquilizar os ânimos ao ressaltar que não há evidências sobre a transmissibilidade do vírus por meio de comida ou embalagens.

Desde fevereiro de 2019, quando da aplicação de tarifas antidumping ao produto, o frango brasileiro tem perdido espaço no mercado chinês para Tailândia, Argentina e Chile. Segundo avaliação de algumas pessoas próximas ao caso, é possível que o caso diga mais respeito a uma disputa comercial do que a um episódio de contaminação em si. Preocupantemente, a cidade de Guangzhou decidiu suspender importações de frutos do mar, peixe e carne congelados de países com muitos casos de COVID-19. Não foram indicados nenhum país por nome, mas é bastante provável que o Brasil esteja entre eles.

Falando em pecuária, a negociação de um plano do governo argentino com apoio de Pequim para ampliar a indústria de carne suína virou alvo de críticas. O plano quer tornar a Argentina uma das principais fornecedoras da proteína para a China. Ambientalistas do país já recolheram o estrondoso número de 400 mil assinaturas em petições contra a sua implementação. O enorme investimento, que seria de 3,5 bilhões de dólares estadunidenses, está criando uma tensão sobre possíveis novas febres suínas. Outras preocupações surgem devido a todos os hectares que precisarão ser liberados para a atividade, e a consequente destruição ambiental que pode advir desse processo.

Em um relato cheio de detalhes e sensibilidade, Peter Hessler, autor de River Town, Oracle Bones e Country Driving e professor da Universidade de Sichuan, narra como foi seu lockdown em Chengdu. Hessler é meticuloso: ao descrever como foi o semestre de aulas online para alunos da universidade e de outras localidades — de províncias vizinhas como Yunnan, na fronteira da China com a Coreia do Norte, Jilin — o professor comenta com candura sobre seus alunos; acerca de como aprendeu a se relacionar com eles só ouvindo suas vozes sem nem mesmo ver seus rostos, por problemas de conexão de internet. E como as vozes, aos poucos, ganharam nomes: Serena, Andy, Momo, Sisyphos. Em uma cidade de 16 milhões de habitantes vivendo um “novo normal”, Hessler navega com delicadeza sobre como a pandemia afetou sua vida pessoal e a de seus estudantes, além de refletir sobre as particularidades das reações chinesas e estadunidenses à pandemia.


A Shanghai Pride, única celebração em larga escala da comunidade LGBTQIA+ na China, anunciou de forma abrupta sua suspensão na última quinta-feira (13). Nascida de forma tímida em 2009, a iniciativa logo se transformou em uma festividade de semanas composta por eventos como exibições de arte, competições esportivas, palestras e feiras de empregos. A suspensão é vista com preocupação por observadores e membros da comunidade, que veem na decisão um reflexo da crescente investida do governo central da China contra a sociedade civil e os movimentos que defendem os direitos de minorias sexuais no país.

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

Música: a banda indie folk-rock de Taiwan Your Woman Sleep With Others 老王樂隊 é uma das queridinhas da Shūmiàn. Aumente o som!

Arte: conheça o trabalho de Zhou Wenjing, artista chinesa que explora em sua obra os efeitos das políticas reprodutivas da China sobre as mulheres do país.

Podcast: e já que falamos de comida e agricultura por aqui hoje, vale esse novo episódio do China in Africa sobre o engajamento chinês na agricultura africana. Inclusive, no mês passado rolou mês um webinário do Conselho Empresarial Brasil-China sobre agricultura e inovação entre os dois países.

Matemática: você também já teve a impressão de que asiáticos — especialmente chineses — são especialmente bons em cálculos e fórmulas? Veja se este vídeo lhe convence dos motivos por trás desse senso comum!

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