De acordo com dados oficiais divulgados na última segunda-feira, a economia chinesa se expandiu 4,9% no terceiro trimestre de 2020 em comparação ao mesmo período do ano passado. O ritmo de crescimento foi maior do que aquele registrado no segundo trimestre mas, ao mesmo tempo, ficou abaixo das previsões de analistas do mercado, que esperavam um avanço de 5,2%. Ainda assim, o número reforça a tendência positiva de recuperação pós-pandemia da economia do gigante asiático, que deve ser a única dentre as maiores do mundo a se expandir no ano de 2020.


Começa nesta segunda-feira (26) a reunião entre os líderes do Partido Comunista da China para definir as bases do próximo plano quinquenal que deve guiar o curso econômico do país entre os anos de 2021 e 2025. As preocupações que devem dar tom às discussões são muitas — desde perspectivas de estagnação econômica até as crescentes tensões com Washington e questões de transição energética e sustentabilidade. Um fator, porém, já está claro: em tempos de instabilidade internacional, Pequim está determinada a evitar riscos financeiros demasiados e a apostar no mercado doméstico para dar continuidade ao seu processo de desenvolvimento econômico.

Particularmente sobre o tema da transição energética — trazido à tona recentemente pelas promessas de neutralidade em carbono de Xi Jinping na Assembleia Geral das Nações Unidas —, o editor júnior Bruno Gastal publicou em nosso site um artigo sobre os possíveis caminhos para a China seguir. Vale ler.


Na edição 125, falamos sobre o teste da DC/EP (a moeda digital chinesa) em Shenzhen. Encerrado o período de testagem, foram registradas 62 mil transações totalizando 8,8 milhões de yuan. As empresas cadastradas no sistema não relataram problemas — o pagamento pelo app oficial não custa taxas extras e poderá ser utilizado mesmo sem conexão com a internet. Mais testes devem seguir acontecendo, especialmente com foco nas Olimpíadas de Inverno de 2022.


Em ocasião do aniversário de 70 anos do envio de tropas chinesas à Guerra da Coreia no início da década de 1950, Xi Jinping declarou, em discurso proferido no Grande Salão do Povo, que a China nunca permitirá que sua soberania, segurança e interesses de desenvolvimento sejam minados. Citando Mao Zedong, o atual líder chinês disse, sem mencionar nenhum outro país em específico, que o mundo deve saber que “o povo chinês está organizado e que com ele não se brinca”. Xi ainda afirmou que o unilateralismo, o protecionismo e a intimidação estariam destinados a fracassar, e reforçou, por fim, clamores de modernização das forças de defesa nacional da China. “Sem um exército forte, não pode haver uma pátria forte”, completou.


O maior número de novos casos de COVID-19 em meses na China aconteceu no fim de semana, em Xinjiang. A cidade de Kashgar, perto do Paquistão, alertou para 138 casos, todos assintomáticos. A região autônoma não via novos casos locais desde agosto. Uma jovem de 17 anos, do condado de Shufu, e funcionária de uma fábrica de roupas, teria sido a fonte da contaminação. Após a descoberta do seu caso, testes apontaram para 137 outras pessoas com a doença, incluindo os pais da jovem. O governo planeja testar todos os 4,7 milhões habitantes de Kashgar nos próximos dias, com mais da metade já tendo feito testes. Voos para e da cidade foram cancelados; restrições de transporte e fechamento de escolas já foram colocados em prática.

O Departamento de Estado estadunidense aprovou, na última semana, a venda potencial de três sistemas de armas para Taiwan. A transação, que totaliza quase 2 bilhões de dólares e inclui, dentre outros, sensores, mísseis e artilharia, ainda pode sofrer objeção do congresso do país norte-americano, mas provavelmente não irá — o apoio militar à ilha auto-governada é uma das poucas questões que unem democratas e republicanos nos Estados Unidos. A China, é claro, não ficou satisfeita. Através de seu Ministério de Relações Exteriores, o país afirmou que a aprovação viola os tratados que estabeleceram os laços diplomáticos oficiais com Estados Unidos na década de 1970 e, ainda, que a presente situação manda um sinal equivocado às forças separatistas de Taiwan, causando assim danos importantes às suas relações com Washington.


Como a rivalidade entre Estados Unidos e China reflete na América Latina? Em um artigo publicado na revista Asian Perspective, Claudia Trevisan – Diretora Executiva do Conselho Empresarial Brasil-China — aborda os potenciais riscos para a região, analisando em detalhes a política externa do governo de Jair Bolsonaro e como seu alinhamento aos Estados Unidos destoa do que vinha sendo feito anteriormente pelo Brasil. Seja pela defesa do cristianismo e valores ocidentais, ou a meia volta volver da projeção brasileira em organizações multilaterais, o artigo de Trevisan é digno de uma leitura tomando um bom cafezinho.


A disputa por quem vai construir a infraestrutura 5G no mundo teve mais desdobramentos na Europa: dessa vez, é a Suécia quem disse não para a participação da Huawei e ZTE no país. Assim como já foi visto em outros países europeus, a Suécia alegou motivos de segurança nacional ou, como as forças armadas suecas alegaram, “a China é uma das maiores ameaças à Suécia”. O imbróglio no continente europeu não parou por aí. Um grupo de telecomunicações da República Tcheca já optou pela Ericsson na construção de sua infraestrutura 5G.

Cruzando o Atlântico, a situação também não anda nada bem no Brasil. Com a decisão postergada para maio de 2021, o governo de Jair Bolsonaro ainda não decidiu, formalmente, a participação ou não da Huawei na construção da tecnologia 5G no país. Tudo indica, no entanto, que ela deve ser banida sob argumentos de ameaça à segurança nacional – ainda que o governo não tenha apresentado evidências para sustentar o exposto. Nessa semana, Brasil e Estados Unidos assinaram um memorando de entendimentos que prevê até 1 bilhão de dólares em crédito para investimentos no setor energético, infraestrutura, logístico, mineração e telecomunicações — incluindo a 5G.

Pequim emitiu uma nota nesta semana condenando a instrumentalização de argumentos de “segurança nacional” para excluir empresas e países específicos sem que haja provas para isso.

O incentivo estadunidense para que países desistam de adquirir produtos e serviços da Huawei também chegou à África. Assim como em discussão com o Brasil, a ideia é ajudar os países a partir de financiamento de outras operadoras, como Nokia ou Samsung. Para Eric Olander, do The China-Africa Project, os EUA já chegou tarde para a festa e é improvável que o incentivo tenha algum efeito. Afinal, a Huawei já oferece 70% da infraestrutura para 4G no continente, e a troca de equipamentos é improvável de ocorrer, devido a custo e demora. É provável que se incentive a empresa chinesa a de fato reduzir os seus preços. Para Olander, também é uma questão de relacionamentos — a Huawei já passou um bom tempo nos países africanos investindo em cooperação e bons laços: algo que os EUA não se importou em fazer.

Há cinco anos, o governo central da China anunciou a substituição da famosa — e polêmica — política do filho único por uma nova legislação que permite que as famílias chinesas tenham até dois filhos. A decisão ocorreu como meio de enfrentar o preocupante envelhecimento da população do país, mas ao menos por enquanto tudo indica que as coisas não estejam seguindo o caminho previsto: apesar de um pico inicial em 2016, a taxa de natalidade do país vem caindo há três anos, e chegou em 2019 ao menor valor desde 1952. Quais as razões para esse fenômeno? Algumas podem ser apontadas, mas destaca-se o fato de que crianças representam um impacto importante às finanças e ao estilo de vida dos casais chineses, e muitos estariam, portanto, determinados a não ter mais que um filho, mesmo que a lei vigente assim permita.


Uma mudança de atitude na pandemia de COVID-19 mostra a realidade de quase milhões de jovens chinesas, que recorreram à compra e ao uso de brinquedos eróticos no  período. A escolha da chamada “geração millenium” demonstra uma curva de mudança numa sociedade tradicionalmente conservadora, como a chinesa. O país é, hoje, o maior exportador dessas ferramentas sexuais, e a demanda interna por produtos inovadores e diferenciados tem crescido continuamente. Além de indicar uma consequência do isolamento social na vida de milhares de casais, o uso intensivo de brinquedos eróticos expressa uma transformação cultural e de atitudes com relação ao sexo — pelo menos, em uma faixa demográfica mais nova e “descolada”.


Com a chegada do 11/11 — Dia dos Solteiros e maior evento de compras online do mundo (com quase quatro vezes o consumo na Black Friday nos EUA) —, é hora também de refletir sobre consumo. Enquanto as plataformas criam estratégias para atrair mais clientes e vendas, no contexto de pandemia e economia com crescimento lento, falta espaço para falar de outros problemas. O impacto ambiental dessas compras é visível nas agências de logística e os números são aterradores: 300 mil toneladas de embalagens são geradas no período. Apesar de alguns esforços, não há tanta mudança. Outro problema que aparece com maior número de compras é a quantidade de roupas usadas que são descartadas. O país tem um problema com isso, em que usar roupas de segunda mão não é visto como ato de consciência ambiental, mas sim símbolo de pobreza. Uma solução tem sido exportar roupas usadas em ótima qualidade — todavia boa parte ainda acaba indo para o incinerador.

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

Música: a dica musical da semana vai para JiaJia e Agong, ambos de Taiwan. JiaJia é uma cantora multipremiada do grupo étnico Puyuma, o sexto maior da ilha. Aumente o som!

Perfil: a jornalista Alice Su fez um longo perfil de Xi Jinping para o Los Angeles Times buscando conexão entre as ambições de Xi e a realidade.

Podcast: uma rota da seda digital? Essa é a discussão deste episódio do podcast China’s New Silk Road da jornalista Mary Kay Magistad. Fala-se de Shenzhen, Huawei, 5G, reconhecimento facial e mais. A transcrição está disponível no mesmo link.

Mais um podcast: já pensou como foi feita a adaptação para se digitar os 70 mil caracteres chineses no teclado do alfabeto latino no computador? O professor Wang Yongmin, um programador chinês, desenvolveu esse método: o “Wubi”. Essa é a história da complexa criação.

Corrida contra o tempo: em época de rápida transformação, um grupo de artistas e estudiosos de Shanghai revista moradias prestes a serem demolidas em busca de registros de um passado nem tão distante, mas já quase esquecido, da metrópole chinesa.

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